Assinar

Guerra das inteligências artificial e humana?

Buscar

Cannes Lions

17 a 21 de junho de 2024 | Cannes - França
Cannes

Guerra das inteligências artificial e humana?

A despeito dos receios em torno da IA, executivos da Nvidia e Open AI exaltam controle humano e “explosão criativa”


20 de junho de 2023 - 17h27

O CEO do WPP Mark Read (à esq.) conduz a conversa com Jensen Huang, fundador e CEO da Nvidia, para quem conteúdo infinito não significa criatividade infinita

Não era Halle Berry, Kevin Hart, will.i.am ou outra celebridade pop, mas as filas imensas em dois painéis consecutivos no segundo dia do Cannes Lions denotavam o interesse pelo assunto: inteligência artificial.

No primeiro caso, Mark Read, CEO do WPP, entrevistou Jensen Huang, um dos fundadores e até hoje atual CEO da Nvidia, que participava pela primeira vez do Cannes Lions.  Ao apresentar sua companhia, Jensen ressaltou que a Nvidia está reinventando a indústria de computação que, por 60 anos, seguiu um mesmo modelo e arquitetura, baseado nas computer process units (CPUs), o que está sendo revolucionado agora por duas dinâmicas de mercado: a diminuição da escala das CPUs e a ascensão da inteligência artificial generativa, que muda a forma como a computação é escrita e implantada.

O executivo comentou sobre a plataforma Omniverse, que é um universo virtual, no qual AIs são criadas como softwares. “Para criarmos uma IA que entenda um carro, um tênis, precisamos do objeto físico, convertido ao mundo virtual, de onde a IA pode aprender”, disse Jensen.

Ao criar esses “digital twins” (irmãos gêmeos digitais) é que se torna possível aplicar a eles a inteligência artificial. E somente após aplicar a IA a um carro virtual é que se traz ao mundo físico um carro autônomo – também depois de testá-lo, claro.

Impactos para a publicidade

Para as indústrias de cinema (citando Hollywood especificamente) e de publicidade, Jensen destacou que nas produções envolvendo efeitos gráficos, não há “um filme que não tenha a tecnologia da Nvidia rodando”. E brincou que é a única companhia onde um cientista computacional pode ganhar um Oscar. “Ou talvez um Leão”, emendou Read.

O executivo da Nvidia ressaltou a evolução da IA, de 12 anos para cá, de algo que apenas havia aprendido a reconhecer uma imagem de um cachorro ou de um gato – já melhor do que qualquer visão computacional criada até então por humanos -, para uma ferramenta que agora, não apenas reconhece, mas pode gerar imagens e conteúdos.

Esse é o ponto que vai, segundo Huang, revolucionar a indústria criativa. Mas, ele ressaltou, isso ainda tendo o ser humano como o criador. “Vamos democratizar a ferramenta, mas não a criatividade”, argumentou. E sobre os medos em relação à perda de empregos por conta da IA, o CEO da Nvidia concordou que alguns sumirão, mas outros serão criados, e todos os que existirem serão afetados, uma vez que a IA pode aprender a estrutura e a linguagem de qualquer coisa.

Mas no caso da indústria criativa, dizem Read e Huang, os criativos podem ter seus talentos potencializados, em diversas modalidades. Sobre dar feedback à máquina como daria a um criativo, o CEO da Nvidia lembro que palavras (os prompts) são pensamentos, que podem guiar a AI segundo os valores e tom da marca. Todas as empresas serão fábricas de IA, segundo ele. Para a publicidade, no futuro, a tecnologia ajudará a gerar bilhões de anúncios. E os movimentos no presente já começaram. WPP e Nvidia trabalham juntos há quatro anos (apresentaram campanha da Volvo, na qual a IA já foi utilizada no desenvolvimento das peças).

Ainda que tenha ressaltado o fato de a IA não estar apenas na distribuição, mas agora também na criação de conteúdo como algo que irá revolucionar a indústria, o CEO da Nvidia lembrou que conteúdo infinito não significa criatividade infinita. “Vocês ainda precisam fazer seu trabalho”, instigou.

Fusão de diferentes disciplinas

No segundo painel com o auditório Debussy lotado, Brad Lightcap, chief operating officer da OpenAI, e Margareth Johnson, chief creative officer e partner da Goodby, Silverstein & Partners também giraram a conversa com torno dos impactos da IA.

Para Brad Lightcap, chief operating officer da OpenAI, o que vai mudar é a natureza das diferentes profissões (Crédito: Celina Filgueiras)

Ao ser questionado sobre se a ferramenta poderia, no mundo, adotar cuidados para ser mais democrática, Lightcap respondeu que parte do que ele estava fazendo em Cannes era captar imputs da comunidade criativa e que isso poderia ser feito com qualquer cultura ou país.

O tema “ameaça aos empregos” voltou à tona, com a entrevistadora trazendo um dado de que milhares de empregos devem sumir até 2030. “O que vai mudar, é a natureza dos trabalhos. A inteligência artificial será apenas uma nova ferramenta. Esta indústria estará mais ocupada que nunca daqui a cinco anos”, afirmou o executivo da Open AI, para quem haverá uma “explosão criativa”.

Após fazer uma enquete sobre quem das centenas de pessoas presentes já havia usado o ChatGPT e o Dall-e (tendo como resultado muitas mãos levantadas), ele ressaltou que, no fim do dia, tudo começa com a imaginação criativa ou sobre o que o ser humano quer que a ferramenta faça. “Competiremos sobre quem escreve os melhores prompts?”, provocou Margareth Johnson. Mas a resposta, segundo o executivo, é que não, a questão é que a habilidade de fundir diferentes disciplinas foi imensamente aumentada.

Eles trouxeram o exemplo da exposição “Dream tapestry”, que a partir da descrição de sonhos e do uso da ferramenta Dall-e – cujo nome faz alusão ao robô Wall-e, da animação da Pixar, ao gênio surrealista espanhol Salvador Dalí – criou diversas obras de arte, que têm sido expostas em museus pelo mundo.

Segundo Brad Lightcap, a OpenAI continuará tentando melhorar seus modelos e diversificar os imputs das ferramentas para que seja possível, por exemplo, se atingir conteúdos mais locais e personalizados. Já quando questionado sobre se as pessoas saberão o que é feito por IA ou por humanos, respondeu que a tecnologia poder ser mais identificável, mas a sociedade terá de desenvolver mecanismos.

E, finalmente, diante das visões opostas de que a IA vai destruir o mundo ou, para outros, ser aquilo que poderá salvá-lo, o executivo reconheceu que sistemas de IA se tornarão mais poderosos e é preciso responsabilidade. Mas, como esperado, ficou com o lado mais otimista, com a esperança de que a IA possa, por exemplo, ajudar a encontrar a cura do câncer ou resolver a mudança climática. Resumiu o assunto citando um dito segundo o qual “Conhecimento não utilizado é um pecado”.

Mas, preocupada em que esse uso seja, de fato, para o bem, Margareth Johnson o fez encerrar o painel prometendo que iria focar também nos riscos da tecnologia.

Publicidade

Compartilhe