Guerra das inteligências artificial e humana?
A despeito dos receios em torno da IA, executivos da Nvidia e Open AI exaltam controle humano e “explosão criativa”
Guerra das inteligências artificial e humana?
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Roseani Rocha
20 de junho de 2023 - 17h27
Não era Halle Berry, Kevin Hart, will.i.am ou outra celebridade pop, mas as filas imensas em dois painéis consecutivos no segundo dia do Cannes Lions denotavam o interesse pelo assunto: inteligência artificial.
No primeiro caso, Mark Read, CEO do WPP, entrevistou Jensen Huang, um dos fundadores e até hoje atual CEO da Nvidia, que participava pela primeira vez do Cannes Lions. Ao apresentar sua companhia, Jensen ressaltou que a Nvidia está reinventando a indústria de computação que, por 60 anos, seguiu um mesmo modelo e arquitetura, baseado nas computer process units (CPUs), o que está sendo revolucionado agora por duas dinâmicas de mercado: a diminuição da escala das CPUs e a ascensão da inteligência artificial generativa, que muda a forma como a computação é escrita e implantada.
O executivo comentou sobre a plataforma Omniverse, que é um universo virtual, no qual AIs são criadas como softwares. “Para criarmos uma IA que entenda um carro, um tênis, precisamos do objeto físico, convertido ao mundo virtual, de onde a IA pode aprender”, disse Jensen.
Ao criar esses “digital twins” (irmãos gêmeos digitais) é que se torna possível aplicar a eles a inteligência artificial. E somente após aplicar a IA a um carro virtual é que se traz ao mundo físico um carro autônomo – também depois de testá-lo, claro.
Impactos para a publicidade
Para as indústrias de cinema (citando Hollywood especificamente) e de publicidade, Jensen destacou que nas produções envolvendo efeitos gráficos, não há “um filme que não tenha a tecnologia da Nvidia rodando”. E brincou que é a única companhia onde um cientista computacional pode ganhar um Oscar. “Ou talvez um Leão”, emendou Read.
O executivo da Nvidia ressaltou a evolução da IA, de 12 anos para cá, de algo que apenas havia aprendido a reconhecer uma imagem de um cachorro ou de um gato – já melhor do que qualquer visão computacional criada até então por humanos -, para uma ferramenta que agora, não apenas reconhece, mas pode gerar imagens e conteúdos.
Esse é o ponto que vai, segundo Huang, revolucionar a indústria criativa. Mas, ele ressaltou, isso ainda tendo o ser humano como o criador. “Vamos democratizar a ferramenta, mas não a criatividade”, argumentou. E sobre os medos em relação à perda de empregos por conta da IA, o CEO da Nvidia concordou que alguns sumirão, mas outros serão criados, e todos os que existirem serão afetados, uma vez que a IA pode aprender a estrutura e a linguagem de qualquer coisa.
Mas no caso da indústria criativa, dizem Read e Huang, os criativos podem ter seus talentos potencializados, em diversas modalidades. Sobre dar feedback à máquina como daria a um criativo, o CEO da Nvidia lembro que palavras (os prompts) são pensamentos, que podem guiar a AI segundo os valores e tom da marca. Todas as empresas serão fábricas de IA, segundo ele. Para a publicidade, no futuro, a tecnologia ajudará a gerar bilhões de anúncios. E os movimentos no presente já começaram. WPP e Nvidia trabalham juntos há quatro anos (apresentaram campanha da Volvo, na qual a IA já foi utilizada no desenvolvimento das peças).
Ainda que tenha ressaltado o fato de a IA não estar apenas na distribuição, mas agora também na criação de conteúdo como algo que irá revolucionar a indústria, o CEO da Nvidia lembrou que conteúdo infinito não significa criatividade infinita. “Vocês ainda precisam fazer seu trabalho”, instigou.
Fusão de diferentes disciplinas
No segundo painel com o auditório Debussy lotado, Brad Lightcap, chief operating officer da OpenAI, e Margareth Johnson, chief creative officer e partner da Goodby, Silverstein & Partners também giraram a conversa com torno dos impactos da IA.
Ao ser questionado sobre se a ferramenta poderia, no mundo, adotar cuidados para ser mais democrática, Lightcap respondeu que parte do que ele estava fazendo em Cannes era captar imputs da comunidade criativa e que isso poderia ser feito com qualquer cultura ou país.
O tema “ameaça aos empregos” voltou à tona, com a entrevistadora trazendo um dado de que milhares de empregos devem sumir até 2030. “O que vai mudar, é a natureza dos trabalhos. A inteligência artificial será apenas uma nova ferramenta. Esta indústria estará mais ocupada que nunca daqui a cinco anos”, afirmou o executivo da Open AI, para quem haverá uma “explosão criativa”.
Após fazer uma enquete sobre quem das centenas de pessoas presentes já havia usado o ChatGPT e o Dall-e (tendo como resultado muitas mãos levantadas), ele ressaltou que, no fim do dia, tudo começa com a imaginação criativa ou sobre o que o ser humano quer que a ferramenta faça. “Competiremos sobre quem escreve os melhores prompts?”, provocou Margareth Johnson. Mas a resposta, segundo o executivo, é que não, a questão é que a habilidade de fundir diferentes disciplinas foi imensamente aumentada.
Eles trouxeram o exemplo da exposição “Dream tapestry”, que a partir da descrição de sonhos e do uso da ferramenta Dall-e – cujo nome faz alusão ao robô Wall-e, da animação da Pixar, ao gênio surrealista espanhol Salvador Dalí – criou diversas obras de arte, que têm sido expostas em museus pelo mundo.
Segundo Brad Lightcap, a OpenAI continuará tentando melhorar seus modelos e diversificar os imputs das ferramentas para que seja possível, por exemplo, se atingir conteúdos mais locais e personalizados. Já quando questionado sobre se as pessoas saberão o que é feito por IA ou por humanos, respondeu que a tecnologia poder ser mais identificável, mas a sociedade terá de desenvolver mecanismos.
E, finalmente, diante das visões opostas de que a IA vai destruir o mundo ou, para outros, ser aquilo que poderá salvá-lo, o executivo reconheceu que sistemas de IA se tornarão mais poderosos e é preciso responsabilidade. Mas, como esperado, ficou com o lado mais otimista, com a esperança de que a IA possa, por exemplo, ajudar a encontrar a cura do câncer ou resolver a mudança climática. Resumiu o assunto citando um dito segundo o qual “Conhecimento não utilizado é um pecado”.
Mas, preocupada em que esse uso seja, de fato, para o bem, Margareth Johnson o fez encerrar o painel prometendo que iria focar também nos riscos da tecnologia.
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