Armando Bo: o homem da Rebolucion
À frente da produtora Rebolucion, que fundou em 2005 em Buenos Aires, o argentino dirigiu alguns dos mais premiados e criativos comerciais dos últimos tempos
À frente da produtora Rebolucion, que fundou em 2005 em Buenos Aires, o argentino Armando Bo dirigiu alguns dos mais premiados e criativos comerciais dos últimos tempos, como “Cachorro peixe”, da AlmapBBDO para a Volkswagen. Há dez anos filmando no Brasil, inaugurou em 2011 uma filial de sua produtora em São Paulo. Entretanto, a Rebolucion BR surgiu às vésperas da aprovação das novas regras da Ancine para comerciais produzidos ou dirigidos por estrangeiros. Na prática, a medida obriga a todos os clientes que optam por trabalhar com Bo e seu time a pagar R$ 200 mil de Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine).
Críticas à lei brasileira
"Com o pressuposto de proteger a indústria brasileira, essa lei protege apenas os diretores daqui. É uma desculpa esfarrapada que beneficia algumas produtoras, já que os diretores delas não têm de pagar a mesma taxa dos estrangeiros. Se os estrangeiros precisam pagar, que todos paguem, então. Isso compromete a qualidade do que se produz aqui e prejudica a oferta de serviços. Creio que se fechar não vai estimular que coisas novas apareçam. Mas, no meu trabalho, este tipo de desafio me motiva ainda mais. Quando quero chegar a um objetivo e encontro pessoas que não querem que eu chegue, só me motivo ainda mais para filmar. Os clientes têm pago a mais por nosso trabalho e nós, de nosso lado, sacrificamos um pouco o orçamento da produtora. É uma injustiça terrível. A mim me parece uma injustiça maior com os brasileiros: meus sócios (Ciro Silva e Paulo Diehl) trabalham há mais de 20 anos nesse mercado. A indústria é muito mais ampla do que esse conjunto de produtoras que estão se beneficiando. E a indústria não é só presente, é futuro. E é este futuro que está sendo comprometido. No meu caso, trabalho no mercado brasileiro há dez anos e não sinto que esteja me mudando para cá em virtude de alguma crise no meu país. Sempre trabalhei aqui e lá — e em outros países também — mas não sinto que esteja vindo aqui buscar o que nunca tive. O Brasil se tornou uma potência e atraiu a atenção de muita gente — mas não sou uma dessas pessoas. Queremos começar coisas novas aqui, mas nos deparamos com uma lei que, reitero, é feita para poucos e corta a possibilidade de jovens que querem fazer coisas novas. Para mim, sempre foi muito importante me comparar com os melhores. O Neymar poderia dizer: “que venham os outros para jogar comigo e vermos quem é o melhor”. Ou ele poderia dizer: “não, não venham.” Esta opção me parece uma loucura, mas, enfim…"
Celebridades no break
"O uso de celebridades, tão criticado por aqui, é uma tendência mundial. Afinal, é mais fácil chegar aos clientes com uma celebridade do que com um personagem que ele nunca viu. Às vezes funciona para alguns produtos, mas em outras cansa. Pensando como cliente, se vejo um personagem no meu comercial e em sete outros, noto que sou apenas mais um. É isso que deveria ser julgado com mais atenção."
Rebolucion no Brasil
"O mercado brasileiro não está vivendo um período dourado. Apesar de ser um País com projetos para diferentes tipos de público, não encontro tantas possibilidades assim. Ele não oferece muito mais oportunidades do que outros mercados. Creio, apenas, que o Brasil vive um momento muito bom como País, que sua economia reage relativamente bem num momento de crise global. A Rebolucion BR já tem um ano em São Paulo, vai bem e tem apresentado um crescimento de tímido a mediano, realizando bons projetos. Mais do que filmar todos os projetos que aparecem, nos importa ter bons projetos e crescer fazendo este tipo de trabalho. Acabamos de trazer o Paulo Diehl e queremos crescer sólidos, mais do que rapidamente. Temos interesse por bons projetos e por trazer, aos poucos, bons profissionais para trabalhar conosco. Não a tratamos como uma produtora argentina. Ela é brasileira. Temos sócios brasileiros, diretores brasileiros e queremos dar oportunidade para qualquer criativo, seja ele de qualquer parte do mundo."
Brasil versus Argentina
"Gosto muito do cinema brasileiro, já assisti a muitos filmes e há alguns muito bons. Acho apenas que o Brasil vive algo pelo que a Argentina também passa: há muitos filmes, mas poucos muito bons. Deveríamos diminuir a quantidade e focar em filmes de melhor qualidade. Quanto à publicidade, creio que haja criatividade nos dois países. No Brasil, o fato de existir um mercado maior e mais heterogêneo, torna mais difícil o envolvimento do consumidor. Parece-me que, aqui, a tradição fala mais alto do que na Argentina. Por lá, como temos menos história, menos amor por nosso país, as rupturas acontecem com mais velocidade — às vezes para o bem, às vezes para o mal. Mas conheço muita gente talentosa por aqui, profissionais que vão além de seus ícones — muitos, por sinal, de Niemeyer a Neymar."
Mercado argentino
"A Argentina está fazendo justamente aquilo que não concordo: fechar o país culturalmente, não só economicamente. Com esse movimento, mais do que a quantidade, caiu a qualidade das produções. O país tem uma inflação alta e os orçamentos não se adaptaram a essa realidade: continuaram com os valores defasados. Além disso, a Argentina — e a América Latina como um todo — vinha passando por um bom momento de criatividade, o que também deixou de acontecer. Está um pouco mais difícil filmar, sobretudo para mim, que gosto de fazer projetos de maior porte. A Argentina é um mercado pequeno, com poucos clientes que podem fazer projetos grandes. Tento fazer isso fora de lá, mas não encontro muitos clientes dispostos. Antes, tínhamos a possibilidade de tentar a Europa e os Estados Unidos, mas são mercados que também enfrentam crise. O mundo todo está nessa situação."
Conteúdo
"É muito interessante estar aberto a novas oportunidades. Somos uma produtora que já tem experiência em cinema —mas sei, também, que não se pode fazer tudo ao mesmo tempo. Hoje estamos focados em crescer com solidez, e isso está muito atrelado à produção para publicidade. Ela é nosso motor, somos bons nisso e não vejo porque não viver disso. Dirigi meu primeiro longa (O último Elvis), assinei o roteiro de Biutiful (do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu), mas agora estou muito focado em publicidade. A Rebolucion, aqui e na Argentina, está num momento de ampliar fronteiras. Estou procurando trabalhar em outros lugares do mundo. Tenho um roteiro pronto para o Iñárritu, que deve ser filmado em 2013 — mas sobre o qual não posso dar detalhes. E tenho um roteiro para eu mesmo filmar, mas ainda não é o momento."
A seguir, alguns dos principais trabalhos de Armando Bo
SpaceFox – Cachorro-peixe from Alex Samsonas on Vimeo.