Três coisas que os hackathons ensinam

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Opinião

Três coisas que os hackathons ensinam

Não basta ter uma boa ideia para chegar ao final desse tipo de maratona de conhecimento


4 de julho de 2016 - 11h34

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Comemoração com o grupo Angela, vencedor do AngelHack Rio

Dias atrás rolou o hackathon do AngelHack Rio, da maratona #AngelHack ao redor do mundo. Foram 30 horas de jornada, que começou com 89 pessoas no primeiro minuto e terminou com 11 grupos de cinco ou seis pessoas. Algumas pessoas e grupos ficaram pelo caminho, faz parte do jogo… hackathons são para os fortes, de corpo e espírito, e principalmente de ideias. Foram repetidos mais uma vez alguns dos aprendizados que colhi nos hackathons anteriores dos quais já participei. As lições são quase sempre as mesmas.

Já fui voluntário, jurado e mentor, gostei de todas as experiências. Aqui compartilho os três principais aprendizados que vivenciei em todas as maratonas de que participei, inclusive nessa última. Portanto, podemos encarar isso como pontos de atenção em qualquer hackathon, independentemente do tamanho e das condições da empreitada.

Foco
Ao longo das 30 horas do hackathon as discussões sobre a proposta de projeto rolaram de maneira interminável. Alguns grupos começaram apreciando duas ou três ideias de projeto dadas pelos próprios integrantes do grupo. Escolher uma delas é uma missão árdua. Isso às vezes toma tempo… muito tempo. E tempo é algo precioso num hackathon. Quando uma ideia é escolhida, começa a via crucis de definir o escopo da ideia. É muito comum o grupo pirar na batatinha e começar a criar um projeto com escopo sem limites claramente definidos ou um escopo Frankenstein, ou seja, repleto de pequenos puxadinhos com o intuito de construir algo mais abrangente. Esse é um momento crucial para o sucesso do grupo num hackathon: a definição da ideia e seu escopo.

Liderança
Ao longo da maratona, os grupos se digladiam internamente conforme cada integrante vai defendendo as suas ideias e convicções. Ao longo das maratonas que participei como mentor, um dos principais aprendizados foi que os grupos com um líder forte normalmente têm muito mais chance de sucesso dos que os outros onde a liderança é compartilhada. Muitas vezes, o líder não é alguém declarado, mas ele emerge ao longo das horas pela sua capacidade de influência, convencimento e desenvolvimento de aliados dentro do grupo. Isso pode parecer algo ditatorial, mas num trabalho onde o tempo e a ordem das atividades é primordial, essa liderança conquistada espontaneamente torna-se crucial.

Defesa do projeto (ou “vender o peixe”)
Essa é uma das partes mais importantes da maratona e talvez a mais negligenciada por todos. Cada grupo tem dois minutos para defender o projeto perante uma banca de jurados. É um tempo super curto para apresentar o contexto da solução, realizar uma demonstração do aplicativo e falar dos diferenciais. Aqui os pontos mais importantes são capacidade de comunicação e argumentação, com uma boa dose de entusiasmo e brilho nos olhos. Nem sempre os vencedores de um hackathon são aqueles que têm o mais perfeito e criativo projeto, ou a melhor solução técnica, mas sim aqueles com a capacidade de melhor apresentar o projeto e empacotá-lo como um negócio, mesmo que seja sem fins lucrativos. Isso exige talento mas, principalmente, ensaio e uma tremenda capacidade de “vender o peixe” devido ao tempo disponível.

Foco, liderança e a capacidade de “vender o peixe”, essas são as três condições básicas para um grupo vencer um hackathon. E veja que em nenhum momento eu falei em código, plataforma técnica e design. Obviamente, existem alguns outros elementos importantes, como trabalhar bem em grupo, capacidade de ouvir e argumentar, gostar de pôr a mão na massa e trabalhar muuuuito, saber lidar com pessoas que pensam diferente de você, flexibilidade etc.

Hackathon é também diversão, portanto, tem que saber entrar no clima e se divertir muito. Não é por acaso que os melhores grupos são aqueles onde as pessoas são as mais leves, relaxadas, bem humoradas e que sabem se divertir. Muitos pensam que nessas maratonas as pessoas rodam direto na base do Red Bull e precisam ficar acordadas o tempo todo, isso não é verdade e nem recomendável. Saber tirar cochilos curtos para recuperar a energia, a atenção e a capacidade de pensar faz muita diferença. Ahhhh, e outra coisa super importante: se alimentar. Ter o cérebro funcionando 30 horas em velocidade máxima consome muita energia e caloria. Portanto, mandar carboidrato pra dentro é crucial.

Muitas vezes os hackathons são vistos meramente como empreitadas de nerds, designers e desenvolvedores. Essa é uma visão muito limitada da proposta. Hackathons são jornadas que representam muito bem a vida real e o mundo dos negócios, onde não basta uma boa ideia ou uma boa intenção, mas dependem da capacidade do grupo construir um projeto maior, com objetivos claros e definidos, e uma capacidade ainda maior para engajar pessoas ao redor dele.

Para você ter ideia do que foi o AngelHack Rio, veja os números a seguir.

Foram 500 pré-inscritos. Desse total, emergiram 250 selecionados. Tivemos 89 presentes no minuto inicial do Hackathon. Cerca de 30% eram mulheres, um índice espetacular em função do histórico que vemos por aí em hackathons no País. Havia 40 mentores e 30 voluntários para coordenar a maratona. Tivemos 120 visitantes circulantes para conhecer o hackathon. Foram 10 litros de bluemix drink, 300 Red Bulls e muita comida… mas muita comida mesmo !!!
Das 30 horas do hackathon, 24 foram dedicadas a programação; 16 grupos iniciaram a jornada, mas 12 terminaram o ciclo de programação, porém um dos grupos não passou pela aprovação da solução técnica. No final, 11 grupos defenderam seus projetos perante cinco juízes. Cada grupo teve o tempo de dois minutos para defender seu projeto, e mais dois minutos para responder perguntas dos juízes.

Confesso que eu nunca vou para os hackathons para celebrar os grupos que alcançam os primeiros lugares. Acho que todos que chegam à reta final e vão para a banca examinadora são vencedores. Esse é o espírito. Mais do que a linha de chegada, o mais legal é a jornada.

Para você que chegou até aqui ouvindo a minha história, eis um souvenir. O grupo Angela foi o grande vencedor do AngelHack Rio 2016, formado por Erika Bueno, Maria Carolina Marinho, Meyrele Torres, Michelle Valente e Tamyres Freitas. Um grupo só de mulheres!!!! Fiquei tão entusiasmado que tive que tirar uma foto com elas. Conheça o projeto delas nessa defesa de menos de dois minutos. Impossível não se encantar!

Parabéns, meninas, me apaixonei por vocês 🙂

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