O jogo mudou há uma década

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Opinião

O jogo mudou há uma década

Para estarmos melhor em dez anos, precisamos conectar o mundo real com o dos superpoderes


19 de julho de 2017 - 9h00

Há dez anos, o iPhone era lançado no mercado e nossas vidas nunca mais seriam as mesmas. A revolução dos smartphones nos transformou em humanos com superpoderes. Nascemos e crescemos exercitando os cinco sentidos presentes em nosso DNA: visão, audição, tato, paladar e olfato. Da noite para o dia, ganhamos outra dúzia de sentidos embarcados nos sensores do aparelho. Numa relação que encheria Marshall McLuhan de orgulho, esses devices passaram a ser uma extensão de nossos corpos. A uma compra do cartão de crédito, podemos nos tornar oniscientes, onipresentes, “oniconectados”, “oniconsumidores” e uma gama exponencial de neologismos possíveis.

Foto: Reprodução

Quando penso nos filmes antigos que tentaram retratar a vida no amanhã (hoje), não consigo lembrar de algum que imaginasse que a grande ponte entre o presente e o futuro seria um aparelho como o celular. Em vez de um boas-vindas personalizado a partir da leitura da íris, como em Minority Report, temos beacons e sensores WiFi que detectam a presença a partir do celular e enviam seu recado, sua oferta.

Em vez de carros ultracomputadorizados que voam, bicicletas que podem nos levar a qualquer lugar quando orientadas pelo GPS do celular.Em vez de mídias high tech com petabytes de espaço para armazenar nossas memórias audiovisuais, nossos cliques são jogados automaticamente em algum canto da nuvem que não sabemos onde fica, mas que podemos acessar a qualquer hora.

Em vez de máquinas de fax espalhadas pela casa (abraço, McFly), postamos o conteúdo em uma rede social que a família, os amigos e o mundo ficam sabendo instantaneamente. Chamem o Rubens Ewald Filho para ajudar e essa lista vai ser tão infinita quanto os acessos ao clipe Gangnam Style.

Esse futuro que virou presente trouxe impactos diretos na hora de pensar as estratégias de comunicação. Em nossa vida de apenas cinco sentidos, as escolhas estavam baseadas em suposições. Estimativas de impacto, de público, de efetividade com o canal, levantadas em amostragem ou em pesquisas nada baratas e demoradas. “Se rodar o filme à noite na TV aberta, devemos falar com a família inteira das classes B e C em seu horário de lazer”. Em nossa vida de sentidos múltiplos, as escolhas se baseiam em dados. Informações que colhemos observando os hábitos e, de fato, acompanhando a vida de nossos consumidores.

“Esse homem de 37 anos pesquisou o produto através de um Galaxy S8 enquanto estava no shopping porque quer comparar preço e tem poder aquisitivo para finalizar essa compra”. O smartphone é esperto para os dois lados: entrega a informações na tela de quem procura e abastece um banco de dados. Marcas espertas entendem esse contexto para conhecer melhor o seu público e oferecer o que ele precisa na hora em que ele precisa.

Ainda que ter acesso ao rastro deixado pelo consumidor nos possibilite estar muitos anos à frente de meios tradicionais, existe um longo caminho a ser percorrido nessa estrada. Me coloco no lugar de Daniel, personagem de Albert Brooks no filme Um Visto para o Céu (de 1991, sou um Xennial, me deixe) no diálogo com o seu advogado do purgatório.

– Eu uso 48% do meu cérebro. Você sabe quanto usa?

– Mmm 47%…?

– Heheheh, 3%. Humanos chegam no máximo a 5%.

Para estarmos em uma situação melhor nos próximos dez anos, precisamos agir em algumas frentes. Não podemos viver numa época de sentidos múltiplos usando métricas de apenas cinco sentidos. Precisamos (agências, veículos, marcas, auditorias) conectar o mundo real com o mundo dos superpoderes. Meu engajamento gerou quanto em vendas? O digital levou quantas pessoas para a loja? Quanto o sucesso de views do meu vídeo impactou no negócio? Duvido que alguém discorde que o smartphone representou a virada de jogo para o digital impactar nos negócios. O que precisamos, agora, é saber exatamente os números atualizados nesse placar.

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