Eles estão mudando vidas

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Opinião

Eles estão mudando vidas

O modelo atual de museu dialoga ativamente com grupos sociais, realiza exposições em conjunto com a comunidades e explora muito melhor a comunicação


22 de março de 2022 - 6h00

Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro (Crédito: NurPhoto/GettyImages)

Chato. Paradão. Desinteressante. Muita gente que eu e você conhecemos usa palavras assim para se referir aos museus. No entanto, quem acompanha a profunda revolução pela qual vêm passando essas instituições usa palavras bem diferentes. Para mim, uma dessas palavras é disrupção.

Hoje há museus que assumem posição clara em relação aos desafios sociais, políticos e culturais do presente. Oferecem informações confiáveis, apontam desigualdades e instigam o pensamento crítico. Muitos agem em prol de uma coletividade, em conjunto com ela. E assim deve ser, já que as coleções têm um enorme poder de comunicar e de interferir em nossas vidas, ajudando-nos a repensar conceitos, a questionar preconceitos.

Há museus que agem em defesa do meio ambiente (Museu do Amanhã); das causas dos povos originais (Museu Indígena Kanindé); pela igualdade de gênero (Museu da Diversidade Sexual); pela melhoria das condições das trabalhadoras sexuais (Museu do Sexo das Putas); por condições de vida justas nas favelas (Museu da Maré). Exemplos no exterior incluem museus que treinaram e contrataram refugiados como guias de exposições e outros que ajudam idosos com demência.

Estudos mostram que museus podem aumentar a sensação de bem-estar. Eles inspiram, estimulam, fortalecem nossa identidade. Recentemente, um projeto na Bélgica liberou médicos a prescreverem visitas a museus visando restaurar a saúde mental dos pacientes.

O processo de comunicação do museu também passa por mudanças radicais. Não mais fechado em si, do alto do conhecimento acadêmico de curadores e pesquisadores, o museu atual dialoga ativamente com diversos grupos sociais e realiza exposições em conjunto com a comunidades. No Museu do Índio, indígenas são convidados a visitar a reserva técnica (onde ficam armazenadas as coleções), colaborando na documentação e ressignificação dos artefatos a partir de seu próprio conhecimento empírico. Em outros, grupos sociais fragilizados são capacitados, aprendendo técnicas artesanais que promovem geração de renda.

O museu também conversa melhor com o público externo com a ajuda de jornalistas e designers que, em conjunto com sua equipe técnica, geram um conteúdo envolvente e inovador. Essa parceria vem produzindo, desde bons perfis de museus no Tik Tok (Galeria Uffizi, na Itália), até instituições sediadas no metaverso (MASP-SP) e iniciativas com Inteligência Artificial (Pina, São Paulo).

A campanha “Museus Mudam Vidas”, da britânica Museums Association, criou o Museums Change Lives Awards (Prêmiação Museus Mudam Vidas, em tradução livre). A edição de 2021 incluiu iniciativas como a do Mixed Museum, com uma exposição virtual sobre a miscigenação feita a partir de entrevistas com pessoas nascidas de pais negros e mães brancas na II Guerra Mundial. O público, ali, aprende sobre o racismo.

Esse poder dos museus precisa ser comunicado para além dos círculos acadêmicos. É preciso alcançar outras gentes, de jornalistas a investidores e servidores de órgãos públicos da Saúde, da Economia e do Desenvolvimento Social.

Empregada no início deste texto para definir esta forma poderosa de atuação dos museus, a palavra disrupção é definida como uma interrupção do curso normal de um processo. Não é o mesmo que evolução, que ocorre, por exemplo, quando se implementam melhorias no processo de trabalho. A disrupção provoca uma ruptura com padrões já estabelecidos: é um meio totalmente novo de ver ou realizar alguma coisa.

Em 2017, a American Alliance of Museums divulgou que as instituições culturais representaram cerca de 21 bilhões de dólares em atividade econômica direta. Um estudo do Ottawa Declaration Working Group mostrou que cada dólar investido em galerias, bibliotecas, arquivos e museus gera quatro em benefícios à sociedade.

Museus disruptivos, audazes e conectados trabalham por uma sociedade mais justa, inclusiva e equalitária. Essa realidade precisa chegar a mais empresas, cujas marcas se identificam com a disrupção e a atuação social.

Que tal apoiar os museus e disseminar essa revolução?

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