Faxina de ideias: criatividade para questionar

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Faxina de ideias: criatividade para questionar

Verônica Oliveira, CEO do Faxina Boa, conta sua trajetória e a importância do seu trabalho nas redes para a valorização e apreciação dos trabalhos domésticos


18 de novembro de 2021 - 10h15

Verônica Oliveira, fundadora da página Faxina Boa (Crédito: Eduardo Lopes/Imagem Paulita)

Criatividade, superação e vontade de mudar o mundo são algumas características que definem Verônica Oliveira, fundadora da página de conteúdo Faxina Boa. A palestrante do ProXXIma 2021 contou que quando começou na faxina, percebeu que os problemas e questões presentes no trabalho doméstico ainda eram os mesmos dos anos 90, época em que sua avó trabalhava na área. 

“Comecei a trabalhar com a faxina depois de um problema de saúde e descobri no trabalho doméstico não só uma forma de ganhar dinheiro, mas algo bom para o meu mental. Foi transformador para mim em muitos sentidos. Minha primeira faxina foi para uma amiga, comecei a arrumar as coisas e quando eu vi estava limpando a casa toda e ela quis me pagar. Ali percebi que poderia viver isso”, explica.  

Porém, a história dela começou a se diferenciar das demais quando ao procurar vagas na internet para o serviço, percebeu que as pessoas procuravam de uma forma muito triste e até mesmo depreciativa, algumas vezes até mesmo se desculpando pela sua condição na qual o trabalho doméstico era a única opção. Então, a empreendedora criou anúncios criativos que a representassem que atraíram a atenção do público e começou a alimentar a página.  

“Eu quis fazer diferente, quis chegar falando que eu sou muito boa nisso e é por isso que teriam que me contratar. Usei referências de cultura pop para mostrar quem eu era, e com isso eu consegui chamar a atenção e atrair seguidores que acabaram virando clientes. No trabalho doméstico nós não somos vistos como pessoas, achavam estranho eu gostar de rock ou postar nas redes sociais, porque elas não conversam com esses trabalhadores. Eu usei esse espaço nas redes sociais não só para mostrar a rotina, mas para personificar esse trabalho”, conta Verônica.  

A profissional revela que não se via como uma criadora de conteúdo e nem sabia olhar os relatórios de engajamento, mas uma coisa que a ajudou foi começar a trabalhar para pessoas da área de criação e marketing que gostavam de seus anúncios, a chamavam para trabalhar e ensinavam mais sobre esse universo.  

“Eu comecei com uma página no Facebook e tinha um bom alcance, aí eu entrei para outras redes sociais e até esmo no LinkedIn. Por um momento eu até pensei, nossa, mas não tem faxineira no LinkedIn, porém, hoje, me tornei até parte do time de influenciadoras da rede ao lado de nomes como Anitta e Larissa Manoela”, explica. 

A importância de dar voz  

Ao desbravar a criação de conteúdo sobre o trabalho doméstico, Verônica conta que começou a ver a importância e a necessidade de falar sobre o tema. “A primeira mensagem que mostrou a importante foi de uma garota que me contou que a mãe dela não dava valor para ela, a comparava com os irmãos e falava que ela tinha dado errado na vida, mesmo sustentando a casa e os filhos com o trabalho doméstico, porém, ao ver os meus posts, viu que ela era importante também”, conta.  

A criadora diz que em suas redes busca valorizar não apenas os serviços de faxina, mas também os professores e outros serviços ao público. E quer inspirar as pessoas a terem orgulho dos seus trabalhos independente do que eles sejam, pois muitas pessoas descobriram a felicidade em trabalho que não são muito comuns.  “Não faz sentido as pessoas acharem que a felicidade depende de um diploma ou uma cadeira de CEO”, argumenta a profissional.  

Ela diz que sua missão é fazer com que as pessoas reconheçam e valorizem esses trabalhos que sempre existiram e vão continuar existindo, mesmo que talvez ela mesma não veja essa mudança. E que um dos seus diferenciais é que a forma com que ela se expressa atinge públicos muitos diferentes, pois seus seguidores são prestadores de serviços e filhos de domésticas, mas também o público em geral, de diversos setores.  

A relação com as marcas  

Ao ver que sua criação de conteúdo na internet era promissora, Verônica parou de trabalhar como faxineira e passou a focar apenas nas suas páginas nas redes sociais. Como criadora de conteúdo, ela tenta conectar as marcas com seu púbico em ações que façam sentido para eles como a parceria realizada com a Veja para ajudar financeiramente mulheres que perderam seus empregos, ou com o Serasa, em uma ação para a limpeza do nome através do feirão  

“No começo, era novidade para mim e foi estranho, eu não tinha noção de como era o trabalho de criação de conteúdo, mas hoje já é natural. Cocriamos muito, já fiz até parcerias para desenvolvimento de produtos. Hoje eu trabalho com grandes marcas e sou muito feliz, eu busco trabalhos que me conectam com a galera e que agregue para eles”, comenta.  

Inicialmente, a produção do Faxina Boa era feita exclusivamente por ela, porém, a influencer revela que já atua com uma empresa de vídeo e está procurando um social media. “Eu achava que eu precisava fazer tudo sozinha, mas para manter a qualidade do conteúdo não dá”.  

Hoje, Verônica é agenciada pela Brunch, o que, segundo ela, é muito importante para o criador de conteúdo, pois muitas vezes eles não possuem o conhecimento para realizar a parte contratual do trabalho, podendo até mesmo cair em armadilhas.  

Talento natural  

 Apesar de não possuir um diploma na área de comunicação, a fundadora do Faxina Boa conta que quando era criança escrevia jingles para produtos imaginários. Ao crescer, percebeu que isso era publicidade e pensou em entrar na faculdade, porém, como engravidou muito cedo, acabou deixando o plano para trás. Quando começou a trabalhar como doméstica, iniciou na faculdade de marketing, mas com a dupla jornada acabou não finalizando o curso. Porém, conta que ainda tem o desejo de terminar.  

“Quando eu estava na faculdade os professores me chamavam para falar com os alunos. Eu escutava ‘a faxineira que criou uma campanha de marketing’ e pensava ‘eu criei?’ Eu precisei ver os outros falando para entender o que eu tinha feito de uma forma natural”.  

A criadora conta que quando começou a ser convidada para palestrar acreditava que ainda não tinha condições. Então, enquanto trabalhava no seu dia a dia, colocava palestras no celular para assistir e se inspirar.  

O livro  

Uma de suas recentes conquistas profissionais foi publicar seu primeiro livro no ano passado. Em Minha vida passada a limpo: Eu não terminei como faxineira, eu comecei, a autora aborda através das suas histórias questões como assédio no trabalho, gravidez na adolescência, a realidade do trabalho doméstico etc.  

“Foi uma forma que encontrei de colocar tudo que eu queria para fora, foi até, em alguns momentos, um processo doloroso de reviver. Eu me questionei em alguns momentos porque estar fazendo isso, mas quando eu vejo as pessoas falando que ele foi o tapa na cara que elas precisavam, tudo faz sentido”, reflete.  

Ela conta que grande parte do livro foi escrita no trajeto que ela fazia de Itaquera para o centro quando ia trabalhar e, esperançosamente, guardava na nuvem pensando em um dia publicar.  

A publicidade da faxina  

Com o investimento na criação de conteúdo e em um envolvimento com as marcas, Verônica diz que sempre que pode aponta sobre a forma que a publicidade dos produtos de limpeza é feita. “Elas me fazem mal, é uma loucura como as propagandas de produtos de limpeza ainda são direcionadas para mulher, e por que isso acontece? Por que é sempre o mesmo grupo de pessoas de classe média alta, que mora no mesmo bairro e vai para a mesma agência que cria as campanhas e cometem erros muito básicos ainda. E eu quebro essa bolha na hora que eu falo com as marcas”, argumenta.  

Segundo ela o que as marcas precisam não é pensar em criar produtos abrangentes para toda a população, pois todos já os consomem. Sendo assim, é sobre realinhar a comunicação que ainda está descolada da realidade quando, por exemplo, uma marca coloca o Luciano Huck para fazer a propaganda de um produto para lavar louça.  

“Uma vez eu escutei que eu não tinha fit com a campanha de um produto de limpeza, mas quando vi a divulgação com uma mulher elegante de salto segurando um mop pensei, esse é o fit? Essa é a realidade?”, questiona a profissional.  

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