Mackenzie Scott, impacto e futuros regenerativos

Buscar
Publicidade

Blog da Regina

Mackenzie Scott, impacto e futuros regenerativos

As muitas mensagens que uma mulher poderosa como Mackzenzie Scott passa ao mundo com as doações anunciadas essa semana deixam evidente a importância do olhar feminino sobre questões urgentes


24 de março de 2022 - 15h53

São várias as camadas de impacto da decisão de Mackzenzie. A primeira e mais óbvia delas é a comparação com os projetos de seu ex-marido Jeff Bezos, com quem fundou a Amazon (Crédito: Jörg Carstensen/ Getty Images)

Em tempos movediços como o atual, alguns conceitos estão passando por uma completa revisão. Um deles é o do capitalismo. Vivenciamos a transição da era do chamado capitalismo de shareholder, baseado no binômio risco-retorno, cujo objetivo é gerar retorno financeiro ao acionista, para a do capitalismo de stakeholder, das partes interessadas, no qual as empresas dialogam efetivamente com seus diferentes públicos e buscam atuar no trinômio risco-retorno-impacto. É exatamente essa última palavra – impacto – que aflora com muito vigor no contexto atual de pós pandemia e de escancaramento das desigualdades econômicas e sociais que com elas emergem. Impacto positivo e economia regenerativa já ecoam no universo dos negócios afinados com o conceito de sustentabilidade e foram potencializadas no contexto atual.

Essas novas formas de gerar (e distribuir) riqueza chamam ainda mais atenção quando assistimos ao anúncio feito nesta semana por Mackenzie Scott, a bilionária acionista da Amazon, de doar 3,8 bilhões de dólares a 465 organizações espalhadas pelo mundo. Dentre elas, estão 15 ONGs brasileiras.

São várias as camadas de impacto da decisão de Mackzenzie. A primeira e mais óbvia delas é a comparação com os projetos de seu ex-marido Jeff Bezos, com quem fundou a Amazon. Mackenzie escolhe fazer investimento de impacto para transformar realidades em escala global, mirando entidades voltadas a pautas urgentes deste mundo distópico de 2022 como direitos humanos, equidade de gênero, democracia, política, causa negra, educação infantil e pobreza, enquanto seu ex-marido trava com alguns poucos pares de multibilionários uma disputa egoica, investindo muitos bilhões de dólares em espaçonaves para colonizar outros planetas como Marte. Na escala de prioridades e emergência para nossos atuais problemas e na régua do impacto, não fica difícil assinalar qual dessas escolhas é mais efetiva para a vida das pessoas.

O segundo aspecto importante do anúncio de Mackzenzie é o fato de ter incluído o Brasil nesse rol de entidades nas quais está fazendo investimento social. Os nomes nacionais que estão no rol de Mackenzie são: BrazilFoundation, Conectas Direitos Humanos, Fundo Baobá, Fundo Brasil de Direitos Humanos, Fundo Casa Socioambiental, Fundo ELAS, Gerando Falcões, Instituto Dara, Instituto Rodrigo Mendes, Instituto Sou da Paz, Nossas, Politize, Projeto Saúde e Alegria, Redes da Maré e Vetor Brasil.

A BrazilFoundation e Gerando Falcões receberam, cada uma, R$ 27 milhões, montante que representa individualmente a maior doação de suas histórias. Em entrevista à revista Veja, Edu Lyra, fundador da Gerando Falcões, contou que há quatro meses a equipe de Scott está estudando a organização, suas contas, seus projetos e seu compliance. A doação foi feita com total liberdade para o uso do dinheiro, e Edu Lyra já tem os planos montados. Pelo menos 5 milhões de reais serão usados em um projeto piloto na favela dos Sonhos, em Ferraz de Vasconcelos (SP), que abriga mil moradores. Outro plano de Edu é usar outros 5 milhões de reais em um banco social para financiar ideias que venham das favelas, por meio do intermédio dos líderes sociais. A Gerando Falcões está hoje em 3.700 favelas brasileiras, em 25 estados.

Um terceiro fator importante na atitude da acionista da Amazon é a doação de um valor bastante representativo: 275 milhões de dólares à organização Planned Parenthood (PPFA), uma das principais defensoras do direito ao aborto nos Estados Unidos. A PPFA declarou que a doação de Scott ao escritório nacional do grupo e suas 21 filiais foi a maior realizada por um só doador na história da organização, que administra clínicas dedicadas à saúde reprodutiva e sexual em todo o país. O grupo destacou que a doação foi feita enquanto os estados conservadores abordam iniciativas jurídicas para reverter o direito ao aborto e quando a Suprema Corte dos Estados Unidos está em posição de revogar potencialmente a lei “Roe v. Wade” (Roe contra Wade), uma decisão judicial histórica de 1973 que estabeleceu o acesso ao aborto como um direito constitucional da mulher.

Mackenzie Scott foi casada com Jeff Bezos por 25 anos e teve um papel importante na criação da Amazon. Quando se separou de Bezos, em 2019, Mackenzie começou a doar sua fortuna para a filantropia. São quase 16 bilhões de dólares distribuídos a 1257 organizações desde 2020, contadas as que foram anunciadas essa semana. Aos poucos, Mackenzie tem se desfeito de suas ações na Amazon. No começo do ano, os documentos enviados à SEC (a CVM norte-americana) davam conta de que Mackenzie havia se desfeito de 2,5 milhões de ações da companhia, algo em torno de 8 bilhões de dólares. Ela ainda possui mais de 14 milhões de ações da empresa.

Cinco anos antes da separação, em 2014, fundou a plataforma contra assédios ByStander Revolution, e recentemente prometeu doar metade de sua fortuna para a “Giving Pledge”, uma instituição beneficente que reúne os contribuintes mais ricos do mundo, como o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, Warren Buffett e Bill Gates.

As muitas mensagens que uma mulher poderosa como Mackzenzie Scott passa ao mundo com as doações anunciadas essa semana deixam evidente a importância do olhar feminino sobre questões urgentes, como as inúmeras desigualdade econômicas e sociais que as pessoas atravessam pelo mundo.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Carla Cancellara, nova VP de criação da Fbiz: “A mudança precisa vir de nós, líderes” 

    Carla Cancellara, nova VP de criação da Fbiz: “A mudança precisa vir de nós, líderes” 

    A executiva, que também é copresidente do Clube de Criação, fala sobre liderança, criatividade e gestão focada em diversidade e inovação  

  • Criadoras das margens: mulheres que desbravam caminhos pelas periferias 

    Criadoras das margens: mulheres que desbravam caminhos pelas periferias 

    Empreendedoras fazem lista de mulheres para mostrar que é possível criar fora dos centros de poder