Chineses protestam contra marcas japonesas
Montadores são as mais atingidas, mas empresas de outros setores também estão preocupadas
Montadores são as mais atingidas, mas empresas de outros setores também estão preocupadas
Meio & Mensagem
25 de setembro de 2012 - 10h05
Dois anos atrás, Sherry Wang comprou um Toyota Camry porque o veículo possibilitava uma ida confortável para o trabalho como pesquisadora na cidade chinesa de Xi’an.
Mas ultimamente, ela tem usado o ônibus.
“Temo que eu ou meu carro nos tornemos alvo” de protestantes anti-japoneses, reunidos nas ruas chinesas nestes últimos dias, Wang afirma. “Só espero que a vida volte ao normal o mais breve possível”.
Wang ilustra por que montadoras japonesas como a Toyota, a Nissan e a Honda estão se preparando para o que pode se tornar uma crise na China maior do que o tsunami do Japão. Enquanto protestos violentos pelo controle das ilhas reivindicadas pelas duas nações (leia mais abaixo) pioram, a Passenger Car Association, da China, prevê que as marcas japonesas perderão a liderança no mercado local pela primeira vez desde 2005.
Na semana passada, as três maiores produtoras de automóveis do Japão – Toyota, Nissan e Honda – reportaram ataques em suas concessionárias na cidade litorânea de Qingdao, na China, e interromperam a produção das plantas chinesas.
Outros empresas japonesas fecharam suas portas por medo de serem atingidos pelos protestos. Alguns outlets da loja de roupas Uniqlo estavam vazios, assim como dúzias de lojas de conveniência 7-Eleven, afirmam notícias. A Canon suspendeu operações em três fábricas, segundo o Financial Times.
Enquanto empresas automobilísticas estiveram entre as empresas mais afetadas, a crise diplomática coloca em risco transações bilaterais – em mercadorias desde arroz até tratores – que triplicaram na última década para mais de US$ 340 bilhões.
Consumidores que estão evitando modelos japoneses podem retornar às líderes do mercado, como a General Motors, que vendeu quase dois milhões de carros na China (sob marcas como Buick, Chevrolet, Cadillac) e a Volkswagen, cujo empreendimento conjunto vendeu um total de 1,49 milhão de veículos neste ano. Líder no Japão, a Nissan vendeu em torno de 485 mil veículos na China até o momento.
O centro dos protestos gira em torno da disputa de décadas sobre um grupo de ilhas, conhecidas na China como Diaoyu e no Japão como Senkaku. O governador de Tóquio, Shintaro Ishihara, reacendeu a briga em abril, quando declarou que poderia usar fundos públicos para comprar as ilhas. Desde então, protestos na China têm ocorrido, com alguns manifestantes incendiando showrooms automobilísticos e quebrando veículos de marca japonesa.
Milhares de protestantes marcharam por cidades chinesas na semana passada, no 81º aniversário do Incidente da Manchúria, ataque nas ferrovias japonesas que alguns historiadores afirmam ter sido uma desculpa usada para que o povo japonês invadisse a China. Manifestantes em Xangai reuniram-se no consulado japonês entoando “Abaixo os demônios do Japão, devolvam Diaoyu”.
Muitas concessionárias na China que vendem carros japoneses fecharam após alguns showrooms serem atacados e vandalizados, segundo Luo Lei, representante da secretaria geral da estatal China Automobile Dealers Association.
Fotos não comprovadas postadas em fóruns online mostraram Toyotas com seus distintivos cobertos por logos de marcas chinesas, como BYD. Concessionárias japonesas seguraram bandeiras chinesas e cartazes proclamando o patriotismo chinês.
“A atitude de todos em relação ao Japão é muito hostil agora”, diz Zhang Jian, vendedor de uma concessionária Mitsubishi em Chengdu que ostentou uma bandeira chinesa em suas janelas e fez sinais mostrando apoio pelas reivindicações da China pelas ilhas. “Embora estejamos vendendo um produto de um empreendimento conjunto China-Japão, isso não tem relação com nosso sentimento sobre as ilhas Diaoyu. Somos chineses e apoiamos a causa do país”.
Consumidores que entram nas lojas atraídos pelas vitrines caíram pela metade em setembro na concessionária e as vendas serão afetadas, se as tensões persistirem, Zhang afirma.
A fatia de mercado coletiva das marcas japonesas de carros, líderes um entre as montadoras estrangeiras na China desde 2005, provavelmente cairão para 22% este ano, enquanto marcas alemãs poderiam aumentar sua fatia para 22,5%, segundo projeções da China’s Passenger Car Association.
Alguns analistas afirmam que as preocupações podem ser exageradas.
“Já que nem Japão nem China estão realmente interessados em um conflito sério que prejudicaria as duas economias, espero que uma solução seja encontrada logo”, declara Klaus Paur, diretor da base global de pesquisadores do setor automotivo da Ipsos, em Xangai. “Com um marketing apropriado e muita comunicação, os fabricantes japoneses de carros podem tentar recuperar o território perdido”.
Em curto prazo, o sentimento anti-Japão impedirá os planos de expansão dos fabricantes japoneses, com as vendas de setembro provavelmente atingindo o ponto baixo do ano, diz Paur.
A Nissan tem os planos mais ambiciosos para o país, com o aumento da venda para 2,3 milhões de veículos em 2015, um milhão a mais do que o comercializado em 2010.
A Toyota afirmou, neste mês, que pretende aumentar entregas chinesas para 1,8 milhão de veículos em 2015, mais do que o dobro do entregue no ano passado, acrescentando pelo menos 20 modelos novos ao portfólio à disposição no mercado.
Enquanto as tensões provavelmente prejudicarão as vendas em curto prazo, com o tempo os carros japoneses encontrarão compradores, diz Zhou Jincheng, analista da Fourin.
“Consumidores chineses entendem que produtos japoneses são de boa qualidade”, afirma Zhou. “Então fabricantes de carro no Japão não devem se preocupar com os produtos em si, e sim em rever seus planos de negócio no país levando em conta a situação política”.
Do Advertising Age, com informações da Bloomberg News
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