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Free Free: empoderamento feminino e marcas

Yasmine Sterea, fundadora do Free Free, movimento de liberdade feminina, conta como é abordar a questão junto ao setor privado


29 de agosto de 2022 - 8h00

Campanha #EuMeBanco, do Free Free junto a marca Quem disse Berenice (Crédito: Divulgação)

Qual o papel das empresas na luta em prol do empoderamento feminino? No intuito de mostrar ao mercado esse caminho e libertar mulheres e meninas do abuso físico, emocional e financeiro, o Free Free atua ao lado do Ministério Público e marcas como Vivara, Riachuelo e Pantys. 

A organização conta hoje com uma rede de 70 parcerias, já afetou mais de 16 mil mulheres e meninas diretamente e 30 milhões de pessoas indiretamente e trabalha com eventos, conteúdos, experiências, projetos, workshops e produtos. De 2021 para 2022, a plataforma cresceu seu alcance digital em mais de 100%, com 2 milhões de pessoas acessando ao mês. 

Yasmine Sterea, fundadora e CEO do projeto, conta ao Meio & Mensagem sobre a evolução da pauta na mídia, o trabalho com a iniciativa privada e as particularidades de trabalhar a questão sob um olhar que foge da dor como imagem e busca na arte um atrativo. Durante sua carreira, a executiva já assinou mais de 20 capas para a Vogue com nomes como Rihanna, Gisele Bündchen e Kim Kardashian e já trabalhou ao lado de Anitta. 

Yasmine Sterea, fundadora e CEO do Free Free (Crédito: Philipe Kliot)

Meio & MensagemComo nasceu a Free Free 

Yasmine Sterea – Eu comecei a Free Free muito baseada na minha história pessoal. Eu perdi a minha mãe quando eu tinha 21 anos, ela tinha 42 e tirou a própria vida, muito por essas questões todas que abordamos como liberdade física, emocional, financeira etc. Quando eu engravidei da minha filha eu em uma posição de liderança no mercado da moda já bem grande, mas aquilo parecia que não tinha mais sentido para minha vida. Porque com a vinda de uma menina eu comecei a pensar como que a vida dela seria, quais abusos ela sofreria e o que eu poderia fazer para usar o que eu já sabia fazer e criar algo que fosse de alguma forma, apoiasse tanto ela, quanto outras meninas. O Free Free é um movimento e também tem um instituto. Onde podemos tanto gerar awereness e conscientização em massa através da plataforma, mas também dando um suporte para pessoas em situação de vulnerabilidade social também através do Instituto. Eu queria fazer algo diferente do que eu via. Nós não discutíamos o abuso e se discutíamos, era sempre uma mulher com soco no olho. E o abuso não é só a violência física, né? Ela acontece em todos os lugares, com todas as mulheres. Queríamos justamente criar esse ecossistema de impacto onde pudéssemos fazer tudo isso usando a moda, a arte, a cor, o emocional, o sensorial, para que virasse algo até mais fácil de querermos olhar. E não uma campanha com uma mulher que levou um soco no olho, a gente não se identifica com aquilo muitas vezes. Então como podemos desenvolver algo que seja tão relevante no sentido de que as pessoas gostem de ver tanto como gostamos de ver moda, arte, um filme, mas que tenha essas informações relevantes que a mulher precisa saber?

Meio & MensagemQual o papel da mídia no empoderamento feminino? O tema tem evoluído? 

Yasmine – Eu não me lembro de ver projetos como esses quando eu era adolescentes. Nós já avançamos muito e a mídia tem um papel fundamental, porque ela tem o poder de mudar a forma que enxergamos enxerga o mundo, a forma que enxergamos a mulher, os tabus que criamos. Por ter uma força de alcance, ela tem 100% de responsabilidade também passar informações que sejam relevantes. Se formos olhar lá atrás, quando começou o movimento feminista sufragista, na Inglaterra, a mídia fazia campanhas mostrando a mulher como opressora. A mídia sempre teve um papel nas nossas visões do mundo, tanto referente ao corpo da mulher quanto aos costumes. ‘A mulher perfeita tem que ser casada, ter dois filhos, o cabelo deve ser liso, ela tem que ser magra etc. Mas quem disse isso? De onde tiraram isso? Nós somos tão diferentes, cada pessoa gosta de coisas diferentes, tem verdades diferentes. Então, na hora que a mostramos uma fórmula como a única, excluímos e oprimimos muita gente. Por isso, o papel da mídia é fundamental. Ainda tem muita vergonha, muita culpa, muito medo. Muitas das mulheres passam algum tipo de de violência e não falam sobre isso. Está aí também o papel da mídia em desmistificar isso e tirar essa culpa da mulher. O abuso é o oposto da liberdade.  

M&M – Qual a importância da participação do setor privado?

Yasmine –  Na Free Free tentamos sempre ter um trabalho de conseguir incluir tanto o poder privado, como empresas, marcas, corporações, a própria mídia e o poder público. É sobre entender que não vamos fazer uma mudança sozinho. As marcas e a mídia tem awereness e falam com milhões de pessoas todos os dia através dos seus produtos, como é que usamos esses poderes também? É um ecossistema que todo mundo precisa se conscientizar. Se não amanhã uma marca de beleza vai colocar uma propaganda falando que a mulher tem um certo padrão, como já foi feito tantas vezes, uma revista vai colocar na capa e falar que isto é o certo. Precisamos, todos juntos, trazer esse debate e entender que somos diferentes, que muitas vezes temos opiniões diferentes, mas que algumas coisas que a gente não pode abrir mão, como o abuso e preconceito. Não tem nenhuma mulher, por mais que ela seja de direita ou de esquerda, gorda ou magra, lésbica ou hétero, nenhuma mulher, independente da sua visão de mundo, vai querer sofrer abuso. É algo que nos une, toda mulher quer ser feliz, quer ter essa liberdade de escolha. 

M&M – Como tem sido o trabalho da organização com as marcas?

Yasmine – Nós sempre trabalhamos com marcas, eu acredito muito que elas têm esse papel da influência e de mudança. Eu acredito que uma marca não existe só para o lucro, mas também como uma entidade que tem papel social. Nós já fizemos colaborações com a Riachuelo, com a Pantys, hoje temos como parceiros a Quem disse Berenice, o Grupo Boticário, a Vivara. Sempre tentamos criar colaborações longas com os nossos parceiros para unir forças. Quando estamos trabalhando com o Boticário, por exemplo, é óbvio que estamos olhando para questões de beleza também, mas não só a parte estética, é sobre desmistificar todos os tabus de beleza e como isso coloca a mulher numa caixinha, que objetificam e acabam deixando-a vulnerável. Mas nós também gostamos de beleza, a beleza não é o opressor. É sobre mostrar todos os corpos, entender que a beleza é plural. Nós trabalhamos o que é o foco principal daquela empresa, só que trazemos essa mensagem. Passando informações para o público de uma forma que seja gostosa de ver, de ouvir, que não fique pesado e com isso vamos gerando awereness. Às vezes até desenvolvendo produtos, coleções, como foi no caso com a Riachuelo, com a Pantys, porque muitas vezes as pessoas querem vestir essa mudança. É sobre como usamos esse poder de influência para gerar identificação através desses produtos, através das campanhas e do que as marcas já trabalham. Nós começamos a desenvolver também um trabalho de consultoria paras marcas. Porque como eu vou só falar se dentro de casa está uma bagunça? É preciso também olhar para dentro porque a empresa é um ecossistema ali também de pessoas, é um microestado, vamos dizer. Agora com a Vivara, além de ter um trabalho de comunicação externa, onde fazemos os manifestos, projetos, também fazemos essa consultoria com o time da Vivara todo mês. Mensalmente temos mais de cem pessoas com a gente olhando pra tudo isso, trazendo os homens para conversa também porque não é uma conversa só de mulher para mulher, temos que falar com todo mundo. É uma mudança cultural e estrutural que não dá pra acontecer só de um ato.  

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