O impacto da Copa do Mundo com 48 times
Ampliação do número de seleções pretende aumentar receitas comerciais, mas pode gerar queda no nível técnico e no interesse na primeira fase do torneio
Ampliação do número de seleções pretende aumentar receitas comerciais, mas pode gerar queda no nível técnico e no interesse na primeira fase do torneio
Fernando Murad
15 de junho de 2018 - 7h00
Na quarta-feira, 13, véspera da abertura oficial da Copa da Rússia, o 68º Congresso da Fifa decidiu pela ampliação do número de participantes da competição de 32 para 48 seleções a partir da edição de 2026, que será realizada em conjunto por Canadá, Estados Unidos e México (a candidatura venceu Marrocos por 134 votos contra 65 — e uma abstenção).
Com 48 times, o formato da competição mudará. A primeira fase terá 16 grupos com três seleções, sendo que as duas primeiras se classificam para a fase seguinte, já eliminatória. O número total de jogos do torneio passará de 64 para 80. Entretanto, as partidas serão realizadas no mesmo período de tempo.
Uma das principais plataformas de Gianni Infantino, sucessor de Joseph Blatter na presidência da Fifa, a expansão do torneio levou em conta, segundo a entidade, o equilíbrio esportivo, a qualidade da competição, o impacto no desenvolvimento do futebol, a infraestrutura, as projeções sobre a situação financeira e as consequências para a entrega de eventos. Para os defensores, a decisão levará mais convidados para a grande festa do futebol. Para os críticos, acarretará em jogos com nível técnico ruim.
“O aumento da Copa para 48 seleções é um erro que vai custar caro para a Fifa no futuro. O dinheiro vai crescer no curto prazo, já que mais partidas geram mais receitas e com mais países, mais audiências. Por outro lado, o nível da competição vai cair profundamente, se transformando em fases iniciais com times sem capacidade mínima de participar. Teremos goleadas absurdas e jogos sem graça. Enfim, um tiro no pé”, opina Amir Somoggi, sócio-diretor da Sports Value.Para Eduardo Muniz, sócio da TopBrands, a ampliação é mais positiva do que negativa. “Com essa movimentação, serão mais jogos, e a Fifa ganha entrega de exposição, que é uma variável importante na mesa de negociação, apesar de, pessoalmente, acreditar que este não é o vetor mais importante, e sim o significado que a Copa do Mundo entrega. A abrangência de países também dá maior repercussão ao evento e aproxima países com menor envolvimento, gerando maior engajamento da sociedade local. Em termos comerciais, acredito mais numa evolução de cross sell do que numa abertura de novos mercados, o que eventualmente pode acontecer”, analisa Eduardo, ressaltando que a qualidade dos jogos é um ponto de risco a ser olhado. “A Fifa não pode deixar baixar o nível esportivo”.
Receitas
O crescimento acelerado do faturamento da Fifa neste século sofreu um baque com o caso de corrupção que veio à tona em 2015 e prendeu vários dirigentes da entidade, incluindo o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) José Maria Marin. Multinacionais como Nike, Coca-Cola, Adidas, McDonald’s e Visa pressionaram a Fifa no sentido de mudanças em sua gestão. Em setembro de 2016, Philippe Le Floc’h assumiu como chief comercial officer como parte da reestruturação da administração da Fifa.
Dentro do plano de ampliar as receitas, a entidade máxima do futebol criou um modelo comercial para as copas de 2018 e 2022 com as chamadas cotas regionais e, com ele, atraiu novos parceiros, especialmente da Ásia e da Rússia. As chinesas Diking (de trajes masculinos), Luci (de tecnologia e entretenimento) e Yadea (de motocicletas e bicicletas elétricas), na Ásia, e as russas Rostelecom (de telecom), Russian Railways (transporte ferroviário) e Alfa-Bank, na Europa, se tornaram parceiros regionais.
A Catalyst foi escolhida pela Fifa, em setembro de 2017, para negociar as cotas de patrocínio regional na América do Sul, mas não assinou nenhum contrato. A agência de marketing esportivo ainda negocia com a Fifa uma renovação do acordo para o ciclo da Copa do Mundo de 2022. “A Fifa enfrenta problemas além do formato da Copa do Mundo, como imagem e o legado da corrupção. Esses problemas institucionais diminuem, cada vez mais, a intenção das empresas de estabelecer vínculos com a Fifa enquanto ela não resolver a questão. No Brasil, ainda temos o mercado em recessão. É nítida a posição mais comedida das empresas. São raras as exceções”, diz Eduardo.
Segundo o relatório financeiro de 2017 apresentado no Congresso da Fifa, a receita do período de 2015-2018 foi reajustada para cima e chegou a US$ 6,1 bilhões, o que representa um crescimento de 8% sobre o desempenho do ciclo da Copa de 2014, até então o recorde da entidade, com US$ 5,7 bilhões. Para o ciclo 2019-2022, que culmina com a Copa do Mundo do Catar, a projeção de faturamento é de US$ 6,56 bilhões, dos quais 70% já estão previstos em contratos assinados. “É importante salientar que esses dados seguramente ainda não foram auditados e apresentados em um relatório financeiro definitivo. O crescimento acentuado do antigo budget para o atual número do ciclo 2015-2018 é único na história da entidade. Nunca houve uma mudança tão elevada”, pondera Somoggi.Crédito da foto do alto: Clive Rose-GettyImages
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