Pessimistas, brasileiros recorrem à nostalgia, diz Ipsos
Resgate do passado deve nortear estratégias para se conectar com os consumidores brasileiros, segundo relatório da empresa

Nostalgia ajuda os brasileiros a se sentirem confortáveis (Crédito: 90cred-NM-art / shutterstock)
Em um cenário de incertezas sobre o futuro e preocupação constante a respeito de segurança, saúde e do bem-estar mental, recorrer a memórias que trazem algum tipo de conforto ou representam um cenário mais conhecido pode servir de alento aos brasileiros.
Essa é uma das principais conclusões apresentadas pela Ipsos, que detalhou, em São Paulo, o relatório Coleção Fair 2026. Essa edição foi intitulada “Eco dos Tempos: como a colisão entre passado e presente moldam o fragmentado futuro do Brasil”, e apresenta um panorama de como alguns assuntos podem ditar as tendências de consumo no País.
Para chegar a esses resultados, o instituto de pesquisa levou em consideração alguns aspectos socioeconômicos que interferem diretamente na forma como os brasileiros consomem, como questões relacionadas a segurança, que é a principal preocupação para 52% dos respondentes.
Seguido a isso, estão pobreza e desigualdade social, com 38%, e saúde com 36%. Segundo Marcos Callari, CEO da Ipsos Brasil, essas preocupações definem as prioridades dos consumidores e, consequentemente, suas decisões de compras.
Passado, presente e futuro impactam a rotina
De acordo com os dados apresentados pela Ipsos, a Nostalgia é um dos grandes assuntos que permeiam a rotina dos brasileiros, e que deve nortear as conversas, inclusive com as marcas, em 2026. Isso acontece porque, ao voltar ao passado, o consumidor procura por um ponto de conforto.
Segundo Lucymara Andrade, diretora de BHT da Ipsos, a sociedade está cansada, não só fisicamente, mas mentalmente. Não à toa, saúde mental é uma das principais preocupações para a população. “O Brasil teve uma evolução gigantesca, hoje temos 52% das pessoas concordando que essa é uma das principais preocupações hoje”, diz.
Reflexo disso é um mix de sentimentos que variam entre ansiedade e cansaço, que reforçam a busca por algo confortável e certo, diferente do futuro.
Nesse aspecto, a Ipsos enxerga que existem três movimentos: o primeiro é a fuga para o passado, porque o presente está líquido; o segundo é a fuga do futuro, que parece ser inalcançável e, por último, há a fuga de si mesmo, fazendo um movimento de retorno ao que já foi.
“Esse é um fenômeno complexo e contraditório, já que as pessoas querem os elementos e tecnologias do futuro com a estética do passado”, afirma Marcela Ayres, gerente sênior de inovação da Ipsos.
Isso gera, segundo a empresa, uma oportunidade para as marcas se conectarem com os consumidores, se tornando uma ferramenta de conforto para que eles consigam navegar pelo tempo presente.
Exemplos de retorno ao passado têm inundado a mídia e gerado uma reação das marcas. A Netflix trouxe de volta a estética dos anos 80 e 90 em Stranger Things, que chegou à sua 5ª temporada neste ano sendo um sucesso de collabs e marcas ativando sua estreia.
Já a Globo, para os seus 100 anos, investiu em um remake de uma das mais aclamadas obras de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, Vale Tudo, que também foi sucesso entre as marcas. “A nostalgia vende por que ela conecta com o consumidor”, completa Marcela.
Segurança e individualismo
Esses dados também são reflexo do nível de confiança do brasileiro em relação ao País. Segundo a Ipsos, 60% das pessoas acreditam que o Brasil está indo para uma direção ruim. Embora isso aconteça, o índice de confiança segue acima de 50%, mas o mundo está pessimista em relação ao processo de consumo (48%).
A confiança social em algumas instituições também está abalada. A pesquisa aponta que os partidos políticos só detêm 32 pontos de confiança, enquanto o congresso nacional soma 37. A presidência da república aparece em seguida, com 41 pontos, e o único acima da média são os governos municipais, com 54 pontos.
Outro dado que corrobora para as estatísticas da nostalgia são os comparativos com períodos anteriores. Segundo a plataforma, apenas 18% das pessoas acreditam que a população é mais feliz hoje do que era há 50 anos.
O mesmo acontece com a percepção de segurança, já que 64% dos respondentes acham que as pessoas se sentiam mais seguras há 50 anos. Embora os dados não sejam otimistas, 39% acreditam que o padrão de vida melhorou, bem como questões de educação (41%) e saúde (47%).
De acordo com Jean-Christophe Salles, CEO da Ipsos na América Latina, esses aspectos também devem fazer mercado mudar, especialmente nos próximos dez anos. “Vamos ter 30% mais de pessoas com 60 anos e menos pessoas até 15 anos. Isso impacta alguns setores, como sistema de saúde e pensão”, explica.

