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Quanto custa uma entrevista?

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Ponto de vista

Quanto custa uma entrevista?

O modelo de financiamento das empresas de comunicação necessita de debate e, possivelmente, de uma revisão


25 de fevereiro de 2014 - 12h48

O jornal Folha de S. Paulo de 14 de fevereiro, página A8 – Poder – trouxe uma curiosa informação sob o título “Governo decide suspender clipping da EBC” que, em resumo, abordava o fato da Empresa Brasileira de Comunicação estar impedida de distribuir a reprodução de notícias da Folha e de outros três jornais “sem remunerar as empresas produtoras dos conteúdos”.

Segundo a reportagem “As ações fazem parte da política da Folha de proteger o conteúdo que produz e cobrar pelo acesso a ele, de acordo com a legislação brasileira” algo similar às pretensões do movimento Procure Saber que, também baseado na legislação vigente, proíbe as biografias no Brasil.

Pela lógica da Empresa Folha da Manhã S/A, que edita a Folha, a prática de agrupar informações publicadas no jornal e distribuir para a Presidenta (1), ministros (39) e assessores de imprensa/comunicação do governo (149) – http://www2.planalto.gov.br/imprensa/relatorio-da-sip/lista-completav3 – é uma violação de direitos autorais.

Portanto ao privar esse expressivo (SIC) contingente de 189 almas brasileiras de receberem as notícias sob sua óptica, a Folha acredita estar promovendo justiça e se proclama “a primeira (empresa de comunicação) a obter decisão nesse sentido por meio de liminar no fim de 2012 que foi confirmada em 2013 pela Justiça Federal”.

Não demorou muito para que os números da propaganda brasileira em 2013 revelassem que o meio jornal amargou uma variação negativa na ordem de 3,76% (Projeto Intermeios – Meio & Mensagem), enquanto o mercado brasileiro cresceu 6,81%, explicitando que o problema do meio como um todo e da Folha em particular está distante do fato de receber dinheiro pelos seus supostos 189 leitores.

Mas se, como a Folha afirma, a reprodução de suas matérias sem remuneração é uma violação dos direitos autorais, o que dizer das aspas que povoam o jornal em uma avalanche de depoimentos de cidadãos dos mais diversos segmentos que, generosamente, emprestam suas opiniões e pontos de vista para as coberturas jornalísticas e que por esse serviço, também de conteúdo, não são, ao que se saiba remunerados?

Estaria a Folha disposta a pagar pelas informações das suas fontes e entrevistados e dessa forma preservar a lógica da produção de conteúdo sem “violar” direitos autorais? Duvido.

O modelo de financiamento das empresas de comunicação necessita de debate e, possivelmente, de uma revisão. É dessa forma que vamos estancar as soluções simplistas que sugerem pensamentos estapafúrdios como, por exemplo, “Quanto custa uma entrevista?”.  

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