Indústria do luxo: uma nova Gucci está surgindo?
Diretor criativo da grife italiana, Alessandro Michele, reduziu número de desfiles e considera o calendário da moda obsoleto
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Roseani Rocha
3 de junho de 2020 - 6h00
A depender do atual diretor criativo da grife italiana Gucci – hoje parte do portfólio de “maisons” do grupo de luxo francês Kering – a marca irá diminuir o ritmo a que toda a indústria da moda tem se submetido não é de hoje. Esse excesso, aliás, leva a práticas que chocam muita gente, como a destruição de produtos que valem milhares de dólares quando não são vendidos ou perdem validade (caso dos cosméticos e perfumes). Mesmo o argumento de que isso é feito em último caso e para proteger a propriedade intelectual das marcas e sua exclusividade, evitando falsificações – que as grifes de fato sofrem muito – não consegue ter legitimidade no mundo hoje.
Assim, recentemente, Alessandro Michele, que está à frente da direção criativa da Gucci desde 2015, utilizou uma conferência de imprensa virtual em Roma para anunciar que a empresa iria reduzir seus desfiles de cinco para apenas dois por ano. Na ocasião, também afirmou que o calendário da moda é obsoleto, com sua divisão clássica primavera-verão, outono-inverno. Com isso, seu plano é apresentar coleções libertas dessa marcação de estações. A pandemia já tinha feito desfiles de apresentações de coleções masculina e alta costura, no hemisfério norte, serem cancelados em junho e julho e terem sua edição de setembro ameaçada.
Michele também havia se manifestado na conta de Instagram da marca, durante esta pandemia, no que chamou de “Notes from the Silence” (Notas do silêncio), em que, por exemplo, afirmou “Acima de tudo, compreendemos que fomos longe demais. Nossas ações imprudentes atearam fogo à casa na qual vivemos. Concebemos a nós mesmos como separados da natureza, nos sentimos astutos e todo-poderosos. Usurpamos a natureza, a dominamos e machucamos (…) Tanta ganância escandalosa nos fez perder a harmonia e o cuidado, a conexão e senso de pertencimento”.
Em outra postagem, no início de abril, falava que era preciso pensar sobre aquilo que não gostaríamos que continuasse da forma como era. “Porque o maior risco para o nosso amanhã é abdicar da nossa responsabilidade de uma verdadeira e necessária descontinuidade”, afirmou Michele. No fim do mesmo mês, dizia que a mudança que imaginava envolvia a capacidade de se reconectar com as razões mais profundas que o fizeram ingressar no mundo da moda e que sentia necessidade de renovar um compromisso, purificando o essencial ao se livrar do desnecessário. Finalmente, no início de maio, numa nota chamada “Um novo universo criativo”, afirmou que a nova possibilidade de se manifestar não pode estar “constrangida pela tirania da velocidade”, e dizia sentir a necessidade de um tempo diferente, livre das imposições dos deadlines alheios, que arriscam humilhar a criatividade.
O anúncio dessa redução de desfiles e no ritmo de criação de produtos é considerada marcante pelo fato de a Gucci ser a marca mais poderosa a apoiar um movimento rumo a um sistema de produção de moda mais enxuto e com menos desperdício. Ano passado, a receita da Gucci foi de 9,6 bilhões de euros, contra 2 bilhões de euros da Saint Laurent, do mesmo grupo ao qual pertencem, ainda, marcas como Balenciaga e Bottega Veneta. Esse poder de mudança, poderia, assim, exercer influência não somente sobre as demais marcas do grupo, mas toda a indústria do luxo.
Mostrando uma inclinação também a temas que vão além da sustentabilidade ambiental, há cinco dias, em seu Instagram, a Gucci também compartilhou mensagem da artista e ativista americana Cleo Wade, iniciada com a frase “O mundo dirá a você: ‘Precisamos acabar com o racismo’. Comece por curar esse problema em sua própria família”. A mensagem veio depois da morte de George Floyd, cidadão negro, em Minneapolis, nos Estados Unidos. Ele morreu asfixiado por policiais brancos numa abordagem após um comerciante denunciá-lo por tentar comprar cigarros com uma nota falsa de US$ 20.
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