100 anos do rádio: desafios e tendências para o futuro
Emissoras apostam em estratégia multiplataforma para aumentar sua participação nos investimentos dos anunciantes e apostam em futuro para além das telas
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Taís Farias
8 de setembro de 2022 - 8h04
No Brasil, o dia 7 de setembro é marcado pelo feriado da Independência. No entanto, também é nessa data em que se comemora o aniversário do rádio, que em 1922 fez sua estreia no País, com a transmissão do discurso do então presidente Epitácio Pessoa. Os dados mostram que o rádio chega aos cem anos fazendo parte do dia a dia das pessoas.
Em setembro do ano passado, o estudo Inside Radio 2021, da Kantar Ibope Media, pesquisou 13 regiões metropolitanas e apontou que 80% dos brasileiros consomem rádio. O número representa um aumento de dois pontos percentuais, na comparação com o ano anterior. Em média, cada ouvinte passaria 4 horas e 26 minutos conectados com o meio.
Sobre o perfil desses consumidores, a pesquisa mostrou que 52% são mulheres e 48% homens. As pessoas da classe C lideram o consumo dessa mídia, com 43% do total. No entanto, são seguidas pelas classes A e B com 40%.
Com relação a idade, o maior número de ouvintes tem mais de 60 anos (21%), na sequência aparecem os públicos de 30 a 39 anos (20%) e de 40 a 49 anos (19%). Já na rádio web, emissoras que fazem sua transmissão via internet, o público muda. 57% têm entre 20 e 39 anos.
Se no tocante ao consumo as flutuações são visíveis, quando o assunto é a fatia que o rádio abocanha nos investimentos de mídia dos anunciantes o tom é de estabilidade. De acordo com dados do Cenp-Meios, se em 2020 o rádio representava 4,2% do total de investimento em mídia, no ano passado, a taxa caiu para 3,1%. Na comparação, o meio está à frente do cinema, das revistas e dos jornais. Porém, perde para o out-of-home, a TV paga, a internet e a TV aberta.
Nesse sentido, como as emissoras enxergam o desafio de fazer o share do rádio crescer? Uma das apostas do setor é de que, com a ida para novas plataformas e o posicionamento como provedor de conteúdo, os anunciantes também possam a transitar entre os meios. Mais do que a mera exposição de marca, é possível pensar em soluções personalizadas, como o branded content
“O rádio ganha possibilidades com seu desdobramento multiplataformas, onde um conteúdo ao vivo pode ser reaproveitado e reempacotado para distribuição nos streamings. Rádios com transmissão simultânea das imagens dos estúdios ganham interesse. Essa mescla entre formatos e mídias apontam caminhos onde se abrem possibilidades de investimentos”, explica Bia Ambrogi, presidente da Associação Brasileira das Produtoras de Som.
Essa conexão com outros formatos ajudaria o rádio a conquistar uma fatia maior dos investimentos. “Parte da verba publicitária, antes considerada web, na verdade volta para o produtor de conteúdo de áudio, uma vez que ele adota esse canal de distribuição”, ilustra o diretor superintendente do Sistema Verdes Mares, Ruy do Ceará.
Rodrigo Neves, presidente da Associação das Emissoras Rádio e Televisão do Estado de São Paulo, cita o exemplo de outros países da América Latina, em que o share do rádio chega a até 16% do investimento em mídia dos anunciantes.
Nesse contexto, quando pensam em tendências, as emissoras apostam no áudio como uma alternativa ao excesso de telas. “As pessoas estão ficando saturadas e procurando maneiras de fugir desses espaços que impulsionam sintomas psíquicos, como a ansiedade e depressão. O rádio vai ser um refúgio para evitarmos as inúmeras notificações de um celular”, defende o gerente comercial da Gazeta FM, Nilson Bezerra.
A facilidade de entrar na rotina das pessoas, já que não existe concentração exclusiva, também é uma aposta. Em paralelo, cresce o uso de smart speakers e outras ferramentas controladas por áudio. “Ninguém tem domínio da voz como o rádio”, opina o presidente da Aesp.
De acordo com os executivos, o fator da acessibilidade também pesa para facilitar a entrada do público. “Por ter um baixo custo e ser acessível, o rádio nos permite entrar no ar de qualquer parte do Brasil, desde sempre. Dessa forma, ele consegue ter uma acessibilidade econômica para todas as frentes, o que o torna um meio dos mais adaptáveis e economicamente sustentáveis”, destaca Ruy do Ceará.
Apesar dos desafios, Flávio Lara Resende, presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, não titubeia e defende a longevidade do rádio: “Já anunciaram a morte do rádio muitas vezes, mas tenho certeza de que ele anunciará mais uma revolução tecnológica”.
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