A Mulher da Casa Abandonada: desafio do áudio ao vídeo
Codiretora da série, que chega ao Prime Video nesta sexta-feira, 15, Livia Gama fala sobre a adaptação da narrativa do podcast ao visual

Casarão de Higienópolis em que residia a personagem principal de A Mulher da Casa Abandonada, nova série do Prime Video (Crédito: Divulgação)
Nesta sexta-feira, 15, o Prime Video estreia a série documental A Mulher da Casa Abandonada, uma adaptação audiovisual do podcast do mesmo nome, lançado em 2022 pelo jornalista Chico Felitti, que fez muito sucesso e popularizou a história da moradora de uma residência no bairro de Higienópolis, em São Paulo, cujo passado escondia uma acusação de exploração trabalhista.
Três anos depois da popularização do podcast, o Prime Video, em três episódios, reconta o caso, agora com apoio de imagens, e procura adicionar novos elementos e entrevistas sobre a investigação e o desdobramento do caso.
A produção da série documental é dirigida por Kátia Lund, que foi responsável por levar a narrativa de Felitti para a linguagem visual. Nesse processo, Kátia contou com apoio de Lívia Gama e Yasmin Thayná, codiretoras dos episódios que também auxiliaram na construção e adaptação da narrativa.
O projeto que vai ao ar na Amazon também teve o próprio Chico Felitti como consultor criativo e produtor executivo. Também participaram Gil Ribeiro, Marcia Vinci, e Margarida Ribeiro, da Coiote, como produtores. A série foi roteirizada por Tainá Muhringer, Fernanda Polacow, Henrique dos Santos, Mari Paiva e Karolina Santos.
Também diretora da Santa Transmídia, Lívia Gama conta que criar imagens sobre um produto de áudio é um desafio, uma vez que, ao ouvir os podcasts, as pessoas naturalmente criam suas próprias imagens e ideias a respeito daquelas pessoas e cenários.
“O desafio é transformar essas imagens subjetivas em algo concreto, sem perder a força da imaginação”, conta a codiretora de A Mulher da Casa Abandonada.
Ao Meio & Mensagem, Lívia contou sobre sua atuação no projeto, já que ficou responsável por recriar, de forma ficcional, muitas das cenas que realmente aconteceram, para que os espectadores tenham a possibilidade de visualizar a narrativa. Veja:
Meio & Mensagem: A Mulher da Casa Abandonada nasceu de um podcast que acabou ficando muito popular. Quais os principais desafios de adaptar essa linguagem de áudio para uma narrativa visual?
Lívia Gama: O podcast tem uma força muito grande na imaginação. Cada pessoa cria sua própria imagem a partir daquilo que ouve. Quando trazemos isso para o audiovisual, o desafio é transformar essas imagens subjetivas em algo concreto, sem perder a força da imaginação e sem distorcer a realidade. No nosso caso, havia ainda a responsabilidade de lidar com uma história real e dolorosa. Por isso, cada cena foi pensada com muito cuidado, sempre baseada em relatos verificados. Não era só “mostrar” o que o podcast contou … até porque a série vai além dele, mas sim traduzir essa narrativa para um universo visual que respeitasse as pessoas envolvidas e transmitisse o peso da história.

Podcasters entrevista Chico Felitti
M&M: Sua participação, como codiretora, foi na criação de cenas ficcionais da história. Como foi o trabalho de criar essas cenas e procurar retratar essas passagens, que realmente aconteceram?
Lívia: Fiquei responsável pelas cenas ficcionais de reencenação, que são delicadas justamente por lidarem com acontecimentos reais. Enquanto a Kátia Lund estava nos Estados Unidos gravando as entrevistas, eu acompanhava tudo em tempo real e já ia construindo visualmente as passagens que mereciam ganhar vida na tela. O objetivo era fugir de um tom teatral ou exagerado, trazendo uma estética cinematográfica que fosse imersiva, mas não sensacionalista. Foi um trabalho de escuta atenta, pesquisa e tradução visual, sempre equilibrando o rigor jornalístico com a sensibilidade artística.
M&M: Em sua opinião, há alguma particularidade de dirigir um trabalho para uma plataforma de streaming, em comparação com outros meios (como TV, digital, etc)?
Lívia: O streaming traz a possibilidade de uma imersão mais prolongada. O espectador escolhe quando e como vai assistir, então podemos criar narrativas mais densas, com tempo para o silêncio e para a construção de atmosfera. Não há a mesma pressão de “ganhar atenção” em segundos, como na TV aberta ou no digital rápido. Isso nos permite criar um ritmo mais autoral e trabalhar nuances, algo que foi essencial para essa história.
M&M: Quais as expectativas em relação à receptividade da produção e de que maneira você espera que o público assimile a história?
Lívia: Minha expectativa é que o público vá além da curiosidade pelo caso e realmente sinta o peso do que aconteceu. Essa não é apenas a história de uma mulher excêntrica em uma casa abandonada, é a história de violência e injustiça que ainda reverbera. Espero que o público seja tocado pela atmosfera que criamos, que perceba o cuidado por trás de cada cena e, acima de tudo, que essa narrativa contribua para reflexões mais profundas sobre o que aconteceu e sobre o que ainda acontece no mundo real.