Amauri Soares, da Globo: conteúdo demanda sensibilidade e flexibilidade
Como novo diretor dos Estúdios Globo, Amauri Soares aponta novas abordagens e caminhos para o conteúdo da Rede Globo
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Thaís Monteiro
11 de setembro de 2023 - 6h03
Em março, a Globo anunciou a nomeação de Amauri Soares como novo diretor dos Estúdios Globo. O executivo já era diretor da TV Globo e acumulou ambas as funções com a saída de Ricardo Waddington, que deixou a empresa.
À frente dos Estúdios Globo, TV Globo e Afiliadas há dois meses, Soares deve seguir a linha de modernização que já vinha sendo conduzida. No entanto, seu foco está em dar respostas criativas às demandas das diversas plataformas Globo, o que também representa desafio de inovação constante.
Ademais, Amauri Soares observa que a diversificação das plataformas de distribuição de conteúdo gera fragmentação, mas também oferece oportunidades para conteúdos relevantes se destacarem e criarem uma base de fãs engajada.
Soares, diretor do Estúdios Globo, TV Globo e Afiliadas, contou sobre sua abordagem estratégica para o conteúdo.
Meio e Mensagem – Já se passaram dois meses nessa nova posição. Qual é o balanço desse período? E que inovações devem ser implementadas nos próximos meses?
Amauri Soares – Foram dois meses intensos. Temos, em média, 31 frentes de gravação todos os dias. É um volume excepcional de conteúdo. Estreamos uma novela das 19h, fizemos uma edição histórica do Criança Esperança, estamos gravando ao mesmo tempo duas novas séries originais do Globoplay, além de todos os outros conteúdos que são gravados ou transmitidos ao vivo diariamente.
E isso é o que buscamos na nossa jornada: sensibilidade para responder criativamente às demandas das plataformas Globo e flexibilidade para atuar em diferentes formas e modelos de produção.
M&M – O que muda na estrutura da equipe com sua chegada ao posto de diretor dos Estúdios? Quais desafios estão à frente?
Soares – Os Estúdios Globo seguem processo de permanente modernização. Ricardo Waddington, de quem recebi o bastão, conduziu avanços muito importantes tanto na frente artística como na de produção. Meu papel é seguir neste processo e estar muito atento às necessidades dos nossos parceiros internos: TV Globo, Globoplay, Canais Pagos, produtos da web.
Para cada desafio das plataformas Globo, deve haver resposta criativa dos Estúdios Globo, uma solução de conteúdo. São os nossos conteúdos que movem todo o ecossistema. Por isso, os Estúdios Globo precisam sempre estar em sua melhor forma para contribuir.
M&M – Qual é a diferença entre gerir os estúdios e gerir a TV Globo + regionais e afiliadas?
Soares – A TV Globo e suas 123 regionais e afiliadas formam o que chamamos de Rede Globo. Além de um enorme ecossistema de exibição de conteúdo e de prestação de serviço, é uma plataforma com profundas conexões com o Brasil.
Portanto, gerir esta Rede, em parceria com nossos Afiliados e todo o time TV Globo, é estar em permanente contato com as dinâmicas da sociedade brasileira. É a disciplina de olhar e buscar compreender a sociedade brasileira que guia o trabalho de gestão da Rede Globo, na TV Aberta.
Assim, a diferença entre a TV Globo e os Estúdios Globo é que os Estúdios são a casa de criação de todas as plataformas Globo. A busca de conexão do canal GNT, por exemplo, é diferente e também complementar da busca de conexão da TV Globo ou do Globoplay. O desafio dos Estúdios Globo é estar sensível e saber reagir criativamente às demandas de cada uma das plataformas.
M&M – Como irá conciliar ambos os cargos?
Soares – O trabalho em televisão é muito coletivo. E as equipes são muito maduras, consistentes. Tanto TV Globo como Estúdios Globo têm excelentes executivos e equipes. São times de alta performance e que eu conheço há muito tempo.
M&M – Você mencionou que a área de Programação da Globo ficou mais “analítica e estratégica” sob seu comando. Que aspetos pretende adicionar aos Estúdios?
Soares – Acho que posso contribuir com a experiência de cliente. Como diretor da TV Globo, sou responsável por encomendas anuais que absorvem 85% da capacidade de produção dos Estúdios Globo. É uma responsabilidade que ensina muito. E eu aprendi a trabalhar com os Estúdios, seus criadores e produtores.
Agora, como gestor também dos Estúdios, acho que posso ajudar a unir as pontas, ampliar na nossa comunidade criativa o conhecimento e a sensibilidade para os desafios de quem programa, publica e exibe os conteúdos que eles criam.
M&M – Uma coluna da Folha o descreve como uma figura diplomática, habilidade para lidar com conflitos internos, mais conciliador e flexível. Qual é a importância dessas características para o meio de conteúdo?
Soares – No primeiro dia de trabalho de qualquer profissional de televisão há sempre uma descoberta muito importante: numa gravação, áudio e vídeo são captados por pessoas diferentes e percorrem caminhos diferentes até a exibição. É uma descoberta que nos marca profundamente.
Ademais, conteúdo de televisão é criação coletiva. A gente erra junto e acerta junto. Por isso, eu acho muito importante criar ambientes democráticos e respeitosos, onde todos se sintam seguros para falar e conscientes de que precisam ouvir. É nestes ambientes que nascem e crescem as grandes ideias.
M&M – Você passou por diversas áreas da Globo e trabalhou tanto com jornalismo quanto entretenimento. De que forma você encara as questões relativas à dispersão da atenção da audiência para plataformas de streaming e vídeo curto e questionamento sobre a veracidade das notícias?
Soares – Nunca tivemos tantas formas diferentes de distribuição de conteúdo. Isso, por um lado, gera fragmentação. Mas também premia o conteúdo relevante, que repercute e gera fãs como nunca.
Assim, veja o caso do Big Brother. Hoje, depois de 23 temporadas, ele é mais relevante e alcança mais pessoas; no último levantamento ao qual tivemos acesso, mais de 90% de tudo o que se fala de conteúdo de televisão nas redes sociais do Brasil é sobre conteúdos da grade da TV Globo.
Portanto, é mérito dos conteúdos que criamos. Resultado de todo um ecossistema de plataformas e da enorme presença do conteúdo nas redes sociais. O que era dispersão, neste caso, vira convergência em torno do conteúdo.
É fato que a TV está cada vez mais conectada. Não importa se o consumo acontece na TV ou no streaming. A TV Globo, por exemplo, pode ser assistida pelo simulcast do Globoplay, de graça, em qualquer lugar do país.
Dessa forma, o público escolhe o conteúdo que quer assistir e cabe a nós disponibilizá-lo em sua melhor forma, em qualquer plataforma.
De fato, no caso do Jornalismo, o fenômeno da disseminação das fake news também gerou, num certo grau, convergência. O Jornalismo da Globo acabou se tornando um hub que as pessoas procuram para saber se o que viram nas redes sociais é fato ou fake.
Assim, durante os anos da pandemia, por exemplo, o Jornal Nacional ganhou quase 6 milhões de novos telespectadores. A grande maioria jovens de até 30 anos que queriam saber se aquilo que viam sobre a Covid-19 nas redes sociais era verdadeiro ou falso.
M&M – O que podemos esperar de novidades nessa área no futuro próximo?
Soares – Estamos em fase de desenvolvimento do maior reality musical que a Globo já produziu. Um formato próprio, criado em casa. Terá a direção do Boninho e será produzido pelo time do BBB.
Portanto, vários times da Globo estão trabalhando juntos para fazer acontecer: Estúdios Globo, TV Globo, Globoplay, Multishow, Gshow, Negócios. Estará em todas as plataformas Globo no segundo semestre do ano que vem.
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