Giovana Oréfice
28 de junho de 2023 - 6h03
A pesquisa TIC Domicílios, do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), revela a relevância do mobile no País, atualmente. No ano passado, 99% dos usuários de web acessaram a internet pelo celular e 62% acessaram a rede exclusivamente por esse dispositivo.
(Crédito: A_B_C/Shutterstock)
Contudo, há um recorte impeditivo na experiência de uso e consumo de mídia. A última edição do levantamento indica que 64% dos indivíduos que têm telefone celular contam com plano pré-pago. Fábio Storino, analista de informações do Cetic.br e coordenador da pesquisa TIC Domicílios, comenta que os planos pré-pagos, mais baratos e acessíveis para parcela maior da população, geralmente, possuem um pacote de dados mais restrito, com custo maior dos dados adicionais consumidos.
“Como mostra a pesquisa TIC Domicílios, usuários de internet de planos pré-pagos consomem conteúdo cultural em menores proporções do que os de planos pós-pagos, sobretudo vídeos – filmes, séries e lives –, que consomem mais dados”, adiciona o analista de informações.
Soluções para anunciantes
Além de veículos, a publicidade digital em mobile também entra no conflito pela falta de dados dos usuários. Contudo, as oportunidades ainda existem. “Esses usuários têm comportamento peculiar, que é chegar nos lugares e solicitar o sinal de WiFi. Assim, acabam navegando com liberdade sem se preocupar com os dados”, explica Silmara Vinha, head of business da OPL Digital. Atualmente, muitos estabelecimentos públicos como estações de metrô, aeroportos e praças, contam com conexão de internet disponível à população.
Nesse sentido, a companhia observa que usuários do tipo não só consomem, como exploram mais conteúdos. Uma das grandes tendências para a publicidade digital, sobretudo via mobile, são os vídeos – beneficiados por conexões WiFi. Silmara comenta que há um nível maior de interação com campanhas em situações como a descrita anteriormente.
Storino, do Cetic.br, complementa as alternativas como “aplicativos patrocinados” ou “zero-rating”, apps cujo uso não está limitado à franquia de dados do plano. Segundo ele, muitos planos pré-pagos incluem nessa lista aplicativos selecionados de algumas redes sociais e serviços de streaming e de mensagens instantâneas. “Se, por um lado, isso garante aos usuários acessem a esse tipo de conteúdo, por outro, acaba limitando ou concentrando a experiência de uso da internet a esses aplicativos específicos”, diz.
A OPL Digital conta com umproduto específico para usuários de Android – quase 85% da população – cujo formato funciona via sistema operacional. Ou seja, não necessita de dados WiFi ou redes, sites e apps dos publishers que a companhia tem conectado.
O uso intenso e massivo dos smartphones representa vantagem crescente para a publicidade. “Está cada vez mais explicito que esse é o dispositivo que os usuários utilizam quase 100% do dia”, descreve Rodolfo Darakdjian, CEO da OPL Digital. “Isso só facilita para nós nos apropriarmos desses dados para ter melhor segmentação para o usuário final”, endossa.
Outros impactos da falta de dados no mobile
A pesquisa TIC Domicílios identificou que fatores ligados à conectividade, como o tipo de plano (pré ou pós-pago), o tipo de conexão (WiFi ou rede móvel) e o dispositivo usado para acessar a rede (computador ou telefone celular), estão associados à prática de verificar informações encontradas na internet. O letramento jornalístico pode ser afetado, uma vez que apenas 47% dos indivíduos que têm plano pré-pago afirmaram ter lido jornais, revistas ou notícias pela internet. Na contramão, a proporção foi de 61% entre os que contam com planos pós-pagos.
Apesar disso, Storino alerta para o fato de que o fenômeno é mais amplo e depende também de habilidades críticas que não se limitam ao mundo digital, como saber ler e interpretar um gráfico ou estatística ou saber diferenciar fontes confiáveis de não confiáveis, por exemplo. “Mesmo no ambiente digital, há fatores não investigados pela pesquisa que também afetam o fenômeno da desinformação, como a forma e a velocidade em que as informações circulam (por exemplo, pelas redes sociais), criando silos ou ‘bolhas de informação’”, finaliza o coordenador.