Israel-Hamas: qual é o papel de jornais e redes sociais?
Em momentos de conflitos ou guerras, as pessoas voltam a atenção para a mídia tradicional e o jornalismo profissional
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Renan Honorato
18 de outubro de 2023 - 15h46
As principais chamadas nas capas e escaladas dos jornais têm sido o acirramento dos conflitos entre o grupo radical, Hamas, e Israel. A movimentação dos conflitos, o agrupamento de tropas e as opiniões internacionais sobre o evento ocupam o debate público, das salas de estar aos espaços de trabalho. Em decorrência da polarização, a partir da tentativa de estar a par dos assuntos e ter opiniões sobre tudo, a questão é: a quais fontes as pessoas recorrem quando um conflito ou guerra passam a fazer o noticiário?
Para o sociólogo, pesquisador e professor de comunicação da ESPM, Gabriel Rossi, o jornalismo profissional é o atalho mais prático entre o público e a informação. “A pandemia mostrou muito isso, as pessoas buscam se informar em veículos que tenham lastro, confiabilidade”, ressalta. Antes, diz Rossi, as pessoas tinham na TV a informação centralizada como espaço noticioso. Com as redes sociais, essas informações passaram a ser consumidas de forma fragmentada, das mais diversas fontes. “Isso não é exclusividade da geração Z, mas ela representa muito essa fragmentação. Contudo, a mídia continua sendo a centralizadora das nossas vidas”, afirma Rossi.
“Imagine que você ficou cinco dias sem celular durante a primeira semana depois do atentado do Hamas. Um milhão de coisas aconteceram e parece que estamos à beira de outra guerra mundial”, comenta Carolina Moura Klautau, mestre em comunicação e professora de jornalismo. A especialista também acredita que o jornalismo convencional seja visto como solução ao cenário do excesso das informações muitas vezes recortadas naquele momento do fato, como um atentado isolado ou sequestro de um grupo de pessoas.
“A geração Z assiste pouco televisão linear, mas isso não quer dizer que essas pessoas não consumam informação. Não é porque um jovem não compra um jornal na banca que ele deixa de ter acesso ao conteúdo”, comenta Rossi. O profissional ressalta a transição que os canais tradicionais de imprensa têm feito para se adaptar à cultura das redes sociais. Como é o caso do jornal francês Le Monde ou da TV Cultura. Ambos os veículos adotaram linguagem digital para plataformas como o TikTok, por exemplo, e conseguem transpor o conteúdo do jornal e da TV para as redes digitais.
Para Carolina, na medida em que o jornalismo é posto ao lado de outras instituições sociais, como o Estado ou a Igreja, a adaptação dos dogmas acontece lentamente. “Nos nossos tempos, as tecnologias e os costumes mudam muito mais rápido do que as instituições. Avalio que nós, como jornalistas, demoramos muito para entender as novas lógicas de consumo das redes sociais”, comenta.
Há poucos meses, o WhatsApp disponibilizou às empresas a criação de listas de transmissão profissional, algo que o usuário comum já poderia fazer anteriormente. Alguns veículos, como o G1 , têm incentivado os usuários a se inscrever nas próprias listas. “Com essa demora do jornalismo em entender a lógica do digital ao mesmo tempo em que outros canais se proliferam, ficamos dois degraus atrás em ocupar esses espaços onde as pessoas, de fato, consomem informação”, diz a professora.
Muitos são os estudos que apontam os algoritmos das redes sociais como formadores de subgrupos – as ‘bolhas’ de interesse. Os monopólios sociais são conceitos que estão intrinsecamente ligados à concentração das bolhas. “As pessoas não querem ficar fora dos assuntos com amigos, não querem ficar fora dos assuntos atuais. Algo que as novelas fizeram muito bem nos anos 1990”, explica Rossi. A distância cultural e geográfica dos sujeitos e dos casos da notícia reforçam o interesse regional em se aproximar da informação.
No livro Escutar, Dialogar e Compreender: Jornalismo em tempo de incertezas, o papel do jornalismo aprofundado e interpretativo foi decisivo na Primeira Guerra Mundial. Em 1923, a primeira edição da revista semanal Time inaugurou esse formato como modelo de negócios. Para Carolina, autora da obra, a grande reportagem funciona como a interpretação dos eventos e dos fatos do cotidiano. “Na medida em que, naquela época, havia três, quatro edições do mesmo jornal por dia. As revistas vêm com mais tempo de apuração e aprofundamento sobre o contexto”, diz.
Por fim, os especialistas avaliam que a educação midiática, tanto para as gerações em formação quanto pessoas mais idosas, possa ser uma das soluções para incertezas da cobertura jornalística, em geral. O UOL, por exemplo, passou a definir nos rodapés das matérias online o que é reportagem. “Por se tratar de um conflito extremamente complexo e culturas muito distantes, muitos jornalistas têm reconhecido as incertezas do conflito. Como fato de que é impossível saber tudo e prever o que vai acontecer, muito diferente da guerra na Ucrânia”, compara.
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