Lei de Dados fortalece carreira de Chief Information Officer
Texto que entra em vigor em 2020 estimula lideranças híbridas, que combinam direito, governança corporativa e TI
Na última década, empresas se habituaram a coletar e armazenar o máximo volume possível de dados pessoais dos consumidores. Com a emergência de leis de proteção de dados como o GDPR europeu e a Lei Geral de Proteção de Dados, que entra em vigor no Brasil em 2020, a lógica de tratamento dos dados sofre uma reviravolta, já que empresas deverão cumprir requisitos rígidos para coletar e processar informações sensíveis dos usuários. Crescerá, portanto, a demanda por profissionais orientados à segurança da informação e proteção de dados pessoais, entre eles os Chief Information Officers (CIOs) e Data Protection Officers (DPOs).

O CRM ficou sexy, a LGPD vem aí. O que muda?
Com pouco mais de um ano para se adequarem à lei de proteção de dados brasileira (LGPD), que entra em vigor em 2020, empresas de diferentes portes e segmentos precisam correr para adaptar suas estruturas às exigências legais.
João Rocha, líder de segurança da IBM Brasil, afirma que a lei obrigará empresas a repensarem a coleta e tratamento de dados de consumidores. “Passamos por um momento em que todas as empresas queriam ter suas áreas de inteligência de dados, o que gerou um processo de coleta exacerbada sem que elas necessariamente soubessem de onde os dados vinham e se eles poderiam de fato ser utilizados”, conta o executivo.

É criado órgão regulador para lei de dados
A chief information officer da Totvs, Mara Maehara, é responsável por todas soluções operacionais e pela infraestrutura de tecnologia da empresa. Ela, que também já foi CIO do Grupo Pão de Açúcar, acredita que as equipes de segurança da informação são cruciais para manter a integridade e confidencialidade dos dados.
A executiva explica que, se um dia os times de negócios e segurança da informação trabalharam de forma independente, cada vez mais compartilham estratégias.
“Há muitas discussões sobre riscos envolvidos de determinada operação, ou projeto, e sobre a busca por alternativas seguras para a entrega dos serviços. Contudo, quem faz a decisão final de assumir, mitigar ou evitar o risco são as áreas de negócio, e não os profissionais de TI”, conta Mara.
Um departamento de gestão de dados pode ser segmentado em várias camadas, com profissionais de diferentes perfis – como advogados, profissionais de TI e até de compliance. Para o vice-presidente da Associação Brasileira de Proteção de Dados (ABPDados), Rony Vainzof, os Data Protection Officers precisam cada vez mais ter conhecimentos multissetoriais. “Este profissional precisa ter conhecimentos sobre leis setoriais e sobre governança corporativa, já que ele vai ser o fiscalizador do cumprimento da LGPD dentro das empresas”, afirma.Revisão de parceiros
A alteração da gestão de dados com a LGPD fará com que empresas busquem conhecer a fundo a maneira como terceiros tratam e processam seus dados proprietários, o que também exigirá mais trabalho por parte dos líderes de segurança. Práticas como a compra de mailing e bases de dados de terceiros, neste contexto, tendem a se tornar cada vez mais fiscalizadas para garantir a segurança da informação.
“Muito provavelmente, as grandes empresas que contratam empresas menores terão contratos relacionados ao cumprimento da lei de dados e tratamento adequado de dados, e só vão autorizar parceiros a tratarem seus dados quando eles tiverem sido avaliados e auditados”, argumenta Dr. Rony, da ABPDados.
Pequenas e médias empresas que armazenam dados de consumidores finais, por sua vez, também terão que profissionalizar seus times e estruturas para controlar a cadeia de uso e tratamento de dados sensíveis.Terceirização da gestão
Quando o assunto é a manutenção de times de gestão de dados, empresas têm a opção de criar estruturas internas robustas ou terceirizar parte desta atividade. Mara Maehara, da Totvs, acredita que parte das operações de monitoramento e controle de segurança podem ser ser terceirizadas de forma segura para empresas especializadas.
João Rocha, da IBM, acrescenta que esta ainda é a opção mais viável para a maioria das empresas. “O custo de aquisição e implementação de soluções ainda é muito alto. Em segundo lugar, existe uma certa escassez de profissionais de segurança no mercado”, explica o líder de segurança.