Inovação e combate à fake news marcou cobertura de eleições
Maior live já realizada no Brasil, investimento em inovação tecnológica e diversas frentes contra fake news são legados dos veículos jornalísticos
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Teresa Levin
5 de novembro de 2018 - 13h29
Grandes equipes direcionadas ao combate contra fake news foi um dos marcos da atuação de alguns dos principais veículos na cobertura das eleições de 2018. Um esforço que funcionou como pano de fundo para o teste e a implementação de algumas inovações, que incluíram desde o lançamento de conteúdo original nas mais diversas mídias, passando pela integração mais sólida de plataformas até chegar a novos formatos para informar a audiência.
Em parceria com o Google, a Band apostou em uma iniciativa inédita no País que levou o canal a registrar o recorde da maior live já feita no YouTube no Brasil, no primeiro debate em televisão aberta e um dos poucos com a presença de Jair Bolsonaro, em 9 de agosto. O canal registrou no YouTube, segundo números da plataforma, 390 mil espectadores assistindo ao mesmo tempo a transmissão.
“O debate da Band bateu o recorde que era do youtuber Felipe Neto, e se tornou a live mais vista no Brasil, com repercussão inclusive em todos os escritórios do YouTube no mundo”, conta André Luiz Costa, diretor executivo de jornalismo da Band.
Ainda em parceria com o Google, a Band também construiu a Sala Digital, ao lado do estúdio do debate. “Nela foi possível observar em tempo real, minuto a minuto, a reação da população do Brasil inteiro nas redes”, fala. O executivo acrescenta que na ocasião, pela primeira vez, o Google, por meio do Google Trends, abriu esses dados em tempo real. “Quem estava em casa ou na plateia, ou mesmo os assessores dos candidatos, e os mais de cem jornalistas presentes na emissora, tinham acesso à esses dados”, fala André. O Google trouxe profissionais dos Estados Unidos, além de acionar um time em Israel que participou da compilação dos dados, que foram transformados em gráficos.A Folha de S. Paulo também teve desempenho marcante com furos de reportagem (como a notícia de que empresários financiaram disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp). A cobertura atraiu, segundo o jornal, um grande movimento de novas assinaturas, mas também críticas e ameaças do presidente eleito, que chegou a declarar o corte de investimentos oficiais do Governo Federal em mídias do Grupo Folha.
O veículo investiu ainda em formatos inovadores como o GPS Eleitoral, desenvolvido pelo Núcleo de Inteligência da Folha. Nele, o leitor teve acesso a um monitoramento e a análise do que os presidenciáveis divulgavam em seus planos de governo, discursos, redes sociais etc. Ainda na pré-campanha, o diário havia lançado uma ferramenta chamada Match Eleitoral, desenvolvida com o Datafolha, que ajudava o eleitor a escolher seus candidatos. Segundo a Filha, foram realizados mais de 1,3 milhão de matches.
Integração
O Grupo Globo integrou seus diversos veículos para a cobertura das eleições, mas também cada um desses outlets também testou formatos próprios. “O Globo fez uma forte aposta em conteúdo analítico e em formatos inovadores, tanto na edição impressa quanto nos produtos digitais. Em um ambiente com alta circulação de notícias commodities, a opção do jornal foi focar em conteúdo diferenciado, de acordo com sua estratégia de ampliar a audiência e também a venda de assinaturas digitais”, conta Maria Fernanda Delmas, editora executiva do jornal. Um dos destaques foi a série de vídeos de humor de Marcelo Adnet, que teve grande repercussão nas redes sociais em outros veículos. “Foram 12 vídeos, com imitações de candidatos à presidência e a governos estaduais, além de políticos de eleições passadas. A audiência atingiu 23,6 milhões no YouTube e mais 15 milhões de visualizações no Facebook”, diz.
Já a TV Globo apostou em cobertura diária, sabatinas no Jornal Nacional e no Jornal da Globo, e outras ações de conteúdo. Segundo comunicado da emissora, no domingo do segundo turno a programação da Globo alcançou mais de 105 milhões de pessoas. No período pré-eleitoral, para levantar o debate sobre políticas públicas, a emissora levou ao ar o projeto “O Brasil Que Eu Quero, com milhares de brasileiros compartilhando, por meio de vídeos, seus desejos para o futuro do País. Ao longo de sete meses, foram publicados na plataforma da emissora cerca de 112 mil pedidos, representando 99,5% dos municípios do país, parte deles exibida em telejornais e programas da emissora.
Por sua vez, a GloboNews estreou, no fim de julho, sua nova grade de programação, com mais noticiário ao vivo, como o GloboNews Em Ponto, apresentado por José Roberto Burnier, das 6h às 9h. Nos dias de votação, nos dois turnos, a GloboNews teve 20 horas ininterruptas de noticiário ao vivo. Durante os meses que antecederam o pleito, o canal também levou ao ar mais de 60 conteúdos entre séries, documentários e programas. Já o G1 usou jornalismo de dados, interatividade e novos formatos. O “Sintonia Eleitoral” permitia comparar os pontos de vista do eleitor com os dos presidenciáveis, a partir de respostas e de declarações públicas dos próprios candidatos. Mais de um milhão de pessoas participaram.
Carlos Aros, diretor de conteúdo da Jovem Pan, conta que a rádio ampliou a cobertura multiplataforma e a integração com afiliadas. “Exploramos cada vez mais as possibilidades de geração de reportagens e outros conteúdos em vídeo, fortalecemos nossa presença no YouTube e em outras plataformas”, conta. A Record TV apostou em sabatinas, entrevistas, debates com os principais candidatos à presidência e vice-presidência e aos governos estaduais. O portal do grupo, R7 afirma que o número de visitantes únicos cresceu 133% em 7 de outubro, data do primeiro turno das eleições. No dia 28, o aumento dos visitantes únicos foi de quase 70%, enquanto a quantidade de páginas acessadas cresceu 65,2%, ainda segundo números internos, representando a melhor marca em usuários únicos mensal desde novembro de 2016.Fake news
O combate às fake news foi uma frente bastante importante nos mais diversos veículos. Em julho, a Globo uniu suas diversas marcas jornalísticas no projeto “Fato ou Fake”, para alertar o público sobre informações duvidosas disseminadas na internet. Profissionais de veículos como Extra, Época, GloboNews e CBN fizeram um monitoramento diário para identificar postagens e mensagens muito compartilhadas em redes sociais e por aplicativos como o WhatsApp. Foram 957 checagens ao longo da campanha eleitoral; ao todo, 200 boatos espalhados na internet e no celular foram desmentidos. No fim de semana do segundo turno, o Fato ou Fake se uniu a outras cinco agências de checagem (Projeto Comprova, Lupa, Aos Fatos, Boatos.org e E-Farsas) para checar mensagens de conteúdo suspeito e aumentar o alcance das informações
David Friedlander, editor executivo do Estadão, conta que o veículo desenvolveu projetos de inovação em que infografia e jornalismo de dados foram integrados ao fact checking. “Para ajudar a combater a desinformação, como com o projeto Estadão Verifica”, aponta. O jornal também se uniu à coalizão do Comprova, que contou com apoio de Google, Facebook e Twitter, reunindo 24 veículos de imprensa brasileiros, entre eles o UOL, a Folha, Nexo, Jornal do Commercio e SBT.
A Band chegou a criar um um sistema interno de checagem, mostrando o que era verdadeiro e falso, e posteriormente também integrou ao Comprova. “Todas as redações trabalharam em conjunto desmentindo fake news diariamente. A ideia é que de alguma maneira continue, sob a coordenação da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo)”, diz André Luiz Costa, diretor executivo de jornalismo da Band.
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