Fala que eu te escuto
No mundo dos assistentes digitais, valores conhecidos do rádio, com uma camada de inteligência artificial, criam o desafio de entregar comunicação de forma totalmente individual
No mundo dos assistentes digitais, valores conhecidos do rádio, com uma camada de inteligência artificial, criam o desafio de entregar comunicação de forma totalmente individual
Dia destes estava em um táxi e notei que o motorista estava um pouco perdido. Como vi que ele tinha um celular acoplado ao painel, sugeri que ele usasse o Waze, o app que informa rotas e trânsito. Ele deu uma risada um pouco sarcástica e disparou: “Eu não confio nele não, filho”. Respeitei, mas liguei o meu para garantir que o trajeto estivesse correto. Na primeira curva, meu app anuncia em voz alta: “Vire à direita”. O motorista, espantado, me pergunta: “Uai, no seu Waze a voz é de um homem? No meu é de uma mulher, e ela só me dá informações erradas”.
Apesar de minha clara reprovação ao comentário, enquanto profissional de comunicação, fui levado mais uma vez a refletir sobre como a voz influencia na transmissão de informações e na comunicação de forma geral. Isso não é novo, particularmente em rádios, mas o advento dos assistentes digitais deve dar novos contornos esse debate.
Quais seriam as reações de um indivíduo ao ouvir um spot de rádio com uma voz feminina anunciando uma loja de material de construção? Ou até mesmo a uma voz masculina ofertando um produto de uma loja de cosméticos. E você, como reagiria? É um assunto polêmico. Sabemos que a voz é fundamental na comunicação, mas ao colocá-la como instrumento devemos nos despir de nossas crenças e credos?
Seria uma volta aos tempos de ouro do rádio, onde a voz ideal para um spot era escolhida de acordo com o target desejado. Uma voz doce e feminina ou uma voz grave e masculina seria escolhida por um anunciante para lançar um barbeador? Sem o bom emprego da voz, o rádio não seria tão relevante e não criaria este ambiente mágico que funciona até hoje.
Da rádio aos assistentes digitais
Nós, publicitários, marqueteiros ou profissionais de comunicação, precisamos começar a considerar cada vez mais este tipo de análise, pois estamos muito próximos de um mundo empoderado por Assistentes Digitais: Apple Siri, Microsoft Cortana, Google Home, Amazon Echo, etc., tecnologias que utilizam comando de voz para receber perguntas e emitir respostas; um ambiente onde emissor e receptor precisam manter um diálogo pessoal e conveniente. Neste mundo, ofertas genéricas terão menor valor que as personalizadas, que passarão imensa credibilidade, gerando uma sensação de segurança, garantia e confiança. A relação entre emissor e receptor se renova, e a mensagem carregará valores já conhecidos do rádio, mas com uma nova camada de inteligência artificial, que cria o desafio de entregar comunicação de forma totalmente individual.
Neste novo desafio, as marcas podem escolher muito mais que uma voz. Através da análise de dados de sua audiência — usuários de seu website, fãs de sua página no Facebook, histórico de SAC, etc. —, as marcas podem compreender mais sobre os consumidores e agrupá-los por semelhança, criando, então, mensagens personalizadas. A ideia é que os receptores, ao receberem uma mensagem de um assistente digital considerem-lo, subliminarmente, como alguém da família, ou um amigo de longa data. A relação entre homem e máquina deve se aproximar da vida real. A credibilidade está intimamente relacionada à cumplicidade. Um amigo jamais mentiria. Uma avó sempre passaria ternura. Um pai sempre daria segurança.
Neste contexto, a voz é a principal arma para que a mensagem seja bem percebida. Da mesma forma que um logotipo ou uma paleta de cores bem construída ajuda na percepção e lembrança de uma marca, a voz que ecoará na mente do ouvinte ajudará nestas mesmas associações. Além de escolher a melhor voz para cada target e ocasião de consumo, é fundamental o emprego de estilo, entonação, velocidade, dinâmica e clareza. Por fim, essa relação estética pode render retenção e engajamento do público e, claro, gerar negócios.
Para finalizar, deixo uma pergunta no ar: veremos uma ascensão dos spots e dos jingles, das telenovelas e dos podcasts? Novas questões para velhos desafios.
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