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Opinião

Implantar data driven significa mudança cultural necessária para virar o jogo

E se precisar de apoio de TI externo para construção das soluções, procure trabalhar com empresas que não façam apenas entregas de softwares


18 de outubro de 2023 - 6h00

Estrelado por Brad Pitt, o filme “O homem que mudou o jogo” (Moneyball – 2011), indicado naquele ano para o Oscar em seis categorias, entre elas melhor filme e ator, além de ser um daqueles clássicos que se tornam atemporais, continua a ser absolutamente atual e relevante nos tempos atuais, quando mais e mais empresas percebem a importância em utilizar dados para se tornarem mais eficientes e competitivas. O filme é, também, uma aula maravilhosa sobre os reais desafios que se apresentam para gestores interessados em implantar, em suas organizações, a cultura de resultados baseada em dados (data driven culture). Moneyball vai além e mostra, ainda, as barreiras comportamentais que toda mudança cultural tem de superar, para conseguir elevar a empresa a outro patamar.

Para quem ainda não assistiu ao filme (disponível no Netflix), fica o alerta de spoiler deste ponto em diante. Baseado em eventos reais, Moneyball conta a história de Billy Beane, administrador do time de beisebol Oakland Athletics. Com orçamento modesto, menos de 1/4 do valor das principais equipes da liga nacional de beisebol nos EUA (Major League Baseball – MLB), Beane vê, ano após ano, seu time ficar pelo meio do caminho no campeonato.

Beane está convencido que, se não mudar a tradicional forma de gerir sua equipe, os problemas vão se repetir ano a ano. Em meio a essa angústia, ele conhece um jovem economista nerd, recém-formado em Yale, que desenvolveu um sistema de análise do potencial de jogadores de beisebol baseado em dados. O rapaz mostra a Beane que, com base nos dados de cada atleta, é possível montar uma equipe barata, com jogadores que despertam pouco ou nenhum interesse dos clubes, mas com potencial para obter bons resultados. O administrador do Athletics percebe que ali havia algo diferente, consistente e inovador. Ele então, numa atitude ousada, decide mudar o jogo e apostar tudo no novo método, inclusive seu emprego e futuro profissional.

Começa a mudança

A primeira dificuldade surge com os chamados “conselheiros e olheiros”, um grupo sênior que, ao longo de suas vidas, se especializou em escolher jogadores pela observação e pelo feeling. Precisando repor alguns jogadores no time, Beane aposta nos dados objetivos de performance para as novas contratações, e não mais na avaliação do potencial de cada atleta baseada nas percepções pessoais dos conselheiros. A crise se instala. Não demora para aparecer uma frase muito comum nas organizações: “Isso sempre foi assim e não vai mudar”. O grupo de conselheiros se torna um importante foco de resistência à mudança cultural, que é quebrado, não sem deixar um rastro de dores e perdas.

O técnico do time surge, então, como o segundo foco importante de resistência. Os dados de performance indicavam quais jogadores deveriam ocupar cada posição em campo, mas o técnico, fazendo uso da sua autonomia, opta por desprezar os dados na hora de escalar o time. Resultado: uma sequência de derrotas vai empurrando o Athletics para os últimos lugares na tabela de classificação.

Apesar das resistências, Beane toma uma atitude radical e absolutamente arriscada: no meio da temporada ele decide trocar os jogadores preferidos pelo técnico, escolhidos à base de seu palpite pessoal, por outros, que são contratados com base em dados de performance, praticamente obrigando o treinador a escalar o time da forma que as análises estatísticas indicavam.

Resultado? Sim, o time começou a vencer. A confiança cresceu, as vitórias se acumularam e a equipe obteve, na época, 20 vitórias consecutivas na MLB, marca que não era atingida por uma equipe desde 1935, além da tão desejada classificação para as finais (playoffs).

E atenção agora para o spoiler derradeiro! Não, o Athletics não foi campeão da Liga. Mas os resultados obtidos pela equipe mexeram com o “mercado”. Outras equipes rapidamente perceberam que havia ali algo diferente, times com investimentos financeiros bem maiores que o Atlhetics ficam para trás da modesta equipe de Oakland.

Lições que aprendemos

O Oakland Athletics, apesar de não se sagrar campeão, conquistou uma marca de vitórias consecutivas que, na época, entrou para a história da equipe e da própria MLB, além de ver sua história contada num filme que concorreu ao Oscar. A equipe ganhou visibilidade, prestígio e maior faturamento publicitário. Beane recebeu uma proposta salarial com oito dígitos antes da vírgula, até então a maior na história da Liga para um administrador.
A adoção da cultura de resultados baseada em dados representou uma mudança expressiva no modo de gerir as equipes de beisebol nos EUA. Rapidamente outras equipes migraram para a data driven culture e, seguramente, todas tiveram que aprender, aceitar e se adaptar culturalmente às mudanças.

E como se espelhar nessa trajetória e implantar uma cultura baseada em dados na sua empresa? Antes de mais nada, o gestor precisa ter em mente que o principal desafio a superar na implantação da data driven culture não será apenas tecnológico, mas cultural. Posto isso, vale destacar que não é preciso implantar o novo modelo em todos os setores ao mesmo tempo. O processo pode ser escalável. Uma boa análise da maturidade de dados da empresa e dos diversos setores pode indicar os melhores lugares por onde começar. Existe a tendência de maior apoio à implantação da data driven culture nos locais com maior maturidade de dados.

Minha dica? Escolha um setor e comece por ali. Implante as tecnologias, capacite as equipes, organize a governança, obtenha bons resultados, forme embaixadores da mudança, divulgue internamente as conquistas e avance. O pessoal de Gestão de Pessoas e a turma da Comunicação interna podem e devem ser envolvidos nesse processo. Eles têm muito a contribuir com estratégias de apoio à gestão da mudança.

E se precisar de apoio de TI externo para construção das soluções, procure trabalhar com empresas que não façam apenas entregas de softwares, mas que sejam parceiras efetivas no processo de mudança cultural. Parceiros tecnológicos que atuem no ciclo completo de implantação de uma cultura data driven, do diagnóstico à capacitação, na assistência continuada às equipes, que trabalhe com metodologia ágil e entregas rápidas e escaláveis. Isso pode fazer toda a diferença.

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