Não avançaremos sozinhos, o racismo sabe dar olé
De acordo com o Instituto Ethos, em 2019 eram duas mulheres negras em cadeiras de presidência nas 500 maiores empresas do Brasil
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30 de novembro de 2023 - 10h00
Ser negro no Brasil quase sempre implica em uma dualidade entre pertencer e não pertencer. Somos 56% da população, segundo o IBGE. Mas somos absoluta minoria em determinados espaços. Para quem não acredita, é só fazer o famoso jogo do pescoço: é só olhar para os lados e perceber que quanto mais você sobe na pirâmide, mais branco o seu entorno vai ficando.
Esta linha tende ao ponto zero, sem exagero. De acordo com o Instituto Ethos, em 2019 eram duas mulheres negras em cadeiras de presidência nas 500 maiores empresas do Brasil. DUAS. Não dois porcento. Isso representava 0,4%. Ou seja: o não pertencimento gritando a plenos pulmões.
Aliás, historicamente, a comunicação é um ambiente de tons, olhares, palavras, gestos, pensamentos, hábitos e relações embranquecidas. É fato também que tudo isso está mudando bastante nos últimos tempos, principalmente devido a esforços coletivos e programas afirmativos que têm conseguido romper com essas barreiras tão arcaicas.
A mensagem-chave é: a gente não avança muito sozinho. Mas, juntos, vamos mais longe, bem mais rápido. É clichê? Não. Para a população negra, a ideia de aquilombamento e de se unir para alcançar os patamares aceitáveis de presença tem se mostrado cada vez mais poderosa. Se a gente já intuía, agora a gente sabe.
Na FutureBrand, desde 2019 o grupo de pessoas negras se uniu para criar o Afrofuture. Um espaço pensado para ser um ambiente de segurança e acolhimento para nós, criado e pensado por nós. A função primária do Afrofuture é abraçar nossa humanidade, nossas vulnerabilidades, nossas diferenças (afinal, não é porque somos negros que pensamos igual) e nos ajudar a nos encontrar – seja nos desafios, seja nas risadas.
Alguém pode se perguntar: ainda precisa disso? Precisa e muito. O racismo sabe dar olé. Sabe atingir só quem ele quer, de um jeito silencioso e extremante brutal. E isso acontece principalmente se você estiver sozinho, sem um grupo de apoio.
Por isso, ao escrever este artigo, fica evidente para mim que a função dele precisa ser a mesma do Afrofuture: acolher e ajudar a se encontrar. Quero dizer para você, pessoa negra que, às vezes se sente sozinha, às vezes se pergunta se por acaso não entendeu errado algum comentário ou se questiona se realmente existe vida aliada lá fora (spoiler? Existe.), que estar com outras pessoas negras vai ser não só muito bom como fundamental para que a gente consiga tornar esse ambiente mais saudável para nós e para todos.
E é justamente sobre esse ‘tornar’ que estamos discutindo este ano por aqui. Neste novembro, estamos dedicando nossa atenção à possibilidade de colocar um ponto de virada na linha do tempo. Uma reflexão inspirada no movimento do afrofuturismo, que – falando resumidamente – é um movimento e uma estética que ousa pensar que no futuro mais longe, daqui a zil anos, pessoas pretas estarão em papeis centrais da tecnologia, da ciência, das artes e por aí vai. Um movimento cultural de construção de novas utopias produzidas, pensadas e consumidas pela população negra.
Estamos provocando todos a refletir: quem você quer ser daqui a mil anos. Você, pessoa negra, e você, pessoa branca. Porque nós somos fontes criadoras da história. Somos ancestrais e responsáveis pela sociedade que vai ou não existir quando esse futuro longínquo chegar.
E aqui, o ponto é pensar que diversidade traz liberdade (para todo mundo) e que liberdade é o caminho para a criatividade, se olharmos para a indústria da comunicação. Além disso, a liberdade também é o ingrediente fundamental da felicidade, se olharmos para algo muito maior do que a indústria: nossa vida – hoje e daqui a mil anos.
É sempre uma questão de se saber parte. E de entender que, juntos, a gente tem mais chance – não só de sobreviver, mas de sermos livres e felizes. Esta é a reflexão que gostaríamos de trazer para a mesa neste novembro. E que, neste ano que está quase chegando ao fim, a gente possa estar um grauzinho mais perto do futuro que todos desejamos.
Um chêro cheio de afeto e esperança. E feliz futuro para todos nós
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