Assinar

O computador não nos substituirá

Buscar
Publicidade
Opinião

O computador não nos substituirá

Ele não consegue ser criativo e pensar lateralmente. Excepcional em cumprir tarefas, é previsível no seu objetivo e só olha para frente, nunca para os lados


29 de agosto de 2017 - 11h10

Recentemente, Meio & Mensagem trouxe um artigo sobre a criação de uma marca realizada pela inteligência digital, mais precisamente pelo Watson, da IBM. Com um resultado de eficiência duvidosa, o trabalho joga luz em um processo de execução diferenciado, no qual o computador é o principal protagonista. Porém, o que está implícito na matéria é o temor em relação à possibilidade de os computadores substituírem os humanos.

Segundo Oxford, 47% dos atuais trabalhos desaparecerão nos próximos anos e até dataram quando o computador nos superará. É a tal da Singularity. Trabalhos repetitivos, motoristas, médicos, advogados já estão na primeira fila da extinção. E notórios pesos pesados reforçam esse futuro negro; Stephen Hawking disse: “O desenvolvimento total do AI pode significar o fim da raça humana”; e Elon Musk (Tesla) escreveu: “AI é uma ameaça maior para os humanos que as armas atômicas”.

E no campo da realidade, o mais recente feito foram as esmagadoras vitórias do computador sobre gênios do poker e do Go, milenar jogo chinês, em que as possibilidades de jogadas superam os números de átomos no universo. Especificamente no confronto do poker, valorizou-se a vitória porque o computador tinha até superado a questão do blefe, mas felizmente esse feito foi colocado no seu devido lugar porque computador simplesmente trabalhou com base em probabilidades.

E é exatamente aí que reside a grande proeza dessas máquinas, isto é, a sua capacidade de processar velozmente uma quantidade gigantesca de dados, que, por sua vez, dependem da sua inserção pelos humanos (big data). Eles até podem obter esses dados por si só, mas pensar autonomamente é pura imaginação. Trabalhando à base de algoritmos, seguindo um raciocínio lógico e quebrando um problema em pedaços, eles não conseguem ser criativos e pensarem lateralmente. Excepcionais em cumprir tarefas, são previsíveis no seu objetivo e só olham para frente, nunca para os lados, além de não conseguirem ver o problema como um todo.

Esse é o seu tendão de Aquiles, o computar enxerga mas ele não vê. Enxergar é identificar imagens, ver é analisar informações oriundas dessas imagens, principalmente quando elas são carregadas de significados. Em um estudo recente utilizamos a etnografia e antropologia visual, descobrimos que os ladrilhos e panos de pratos eram o grande insight que associavam uma série de valores e emoções da comida com os seus consumidores. Eles eram a conexão com a comida da mamãe/vovó. Ou até em outro estudo no qual foram utilizados brinquedos para desvendar a realidade que o consciente racional não consegue revelar (Constelação familiar). E esse tipo de abordagem que não é quantificada já tem um nome: thick data.

Nessa complexa situação na qual uma série de variáveis estão em questão, somente o ser humano com um vasto background cultural, com conhecimento comportamental e psicológico terá a capacidade de unir os pontos e interpretar os fatos. E acredito que esse é o lado que dificilmente seremos superados.

A máquina não sente! Ela terá que seguir ainda uma longa jornada para entender as complexas emoções humanas e dificilmente o computador imitará uma massa cinzenta de 1,5 kg que tem aproximadamente 90 bilhões de células nervosas que estão ligadas por meio de trilhões de conexões denominadas sinapses e que, em conjunto, fornece centenas de trilhões de caminhos diferentes. Em um esforço para imitar isso digitalmente, alguns anos atrás, os cientistas precisavam de mais de 82.000 processadores executados em um dos supercomputadores mais rápidos do mundo para imitar apenas um segundo da atividade cerebral normal de um ser humano, segundo um artigo de Yoni Heisler.

Ainda teremos muito chão até que o computador entenda essa complexa e imprevisível criatura chamada ser humano. Um animal extremamente carente e ávido por ser amado, reconhecido e procurado. Nisso, o computador jamais nos substituirá.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Quando menos é muito mais

    As agências independentes provam que escala não é sinônimo de relevância

  • Quando a publicidade vai parar de usar o regionalismo como cota?

    Não é só colocar um chimarrão na mão e um chapéu de couro na cabeça para fazer regionalismo