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Opinião

O mundo acabou

A sensação dominante para muitos é a de perda de referência e de medo do desconhecido


21 de maio de 2018 - 10h00

Crédito: maksime/iStock

Melhor ir logo ao ponto: apensar de muita gente achar que foi ontem, já faz um tempo que o mundo como conhecíamos acabou e o mundo que está sendo criado desde então tem tudo para ser mais aberto, abundante e humano. Mas não necessariamente agora.

Para marcas que desafiaram o tempo evoluindo da entrega a cavalo aos pedidos feitos através de apps e das cartas que atravessavam oceanos em navios lentos à comunicação em tempo real, esse poderia parecer apenas mais um período de grandes mudanças, mas não é bem assim. Talvez influenciados por uma época em que as empresas conseguiam controlar o ritmo da inovação e o comportamento de seus consumidores, a sensação dominante para muitos é a de perda de referência e de medo do desconhecido.

A recente coragem de Jorge Paulo Lemann de dizer exatamente o que pensava e de se colocar vulnerável ao assumir ser um “dinossauro apavorado” durante a conferência “Estratégia e Liderança na Era da Disrupção”, promovida pelo Milken Institute, revelou muito sobre o difícil momento vivido por boa parte das grandes corporações e de seus executivos e acionistas, muitos deles ícones do mundo que não existe mais.

O sentimento demonstrado pelo principal líder empresarial brasileiro se justifica por vários fatores e a tecnologia aplicada ao negócio não é o principal deles. Perguntado se acredita que seria justo dizer que está vivendo um novo paradigma em sua carreira, Lemann respondeu: “Compramos marcas e achamos que durariam para sempre. Nós pegamos emprestado muito dinheiro barato porque dinheiro era barato. Isso funcionou muito bem. E então nós simplesmente gerenciamos o que havia de forma um pouco mais eficiente e agora temos que nos ajustar totalmente às novas demandas dos clientes, clientes que são muito mais volúveis: eles querem produtos diferentes todos os dias, eles querem que seja entregue de uma forma mais fácil…. nós realmente temos que nos ajustar”. É verdade, todos precisam se ajustar e, na prática, isso significa olhar mais para fora, para as mudanças individuais, sociais e culturais que estão trazendo para o centro do negócio discussões que vão de novos produtos e novos modelos de produção a novos modelos de relacionamento com funcionários, parceiros e consumidores.

Um bom momento para pensar no que foi colocado por Julie Sweet, CEO North America da Accenture: não adianta discutir processos disruptivos em relação a empresas e indústrias, é necessário entender os processos disruptivos que estão sendo vividos pelas pessoas e que geram expectativas em suas esferas pessoais, sociais, de consumo e trabalho. Sweet chama atenção para três macro necessidades:

Gerir a experiência: as companhias estão se transformando em todo seu ecossistema. Existem níveis diferentes de expectativas vindo de empregados, parceiros e consumidores. Como endereçar esses diferentes níveis de expectativas, medos, ansiedades, oportunidades e aspirações?

Gerir a necessidade de inovação digital das grandes corporações: “Talvez o maior desafio esteja em reconhecer que é preciso mudar o tipo de líder do qual você precisa”, afirma a CEO da Accenture comentando que as companhias de maior sucesso serão aquelas realmente dispostas a redefinir o que significa liderar um processo de transição onde a inovação é um fator crítico.

Gerir a incorporação da Inteligência Artifical em todo o ecossistema: para Julie Sweet, é necessário olhar para o impacto da inteligência artificial pensando no que foi o impacto da eletricidade no que se refere à sua capacidade de transformar a sociedade e os negócios. “A Inteligência Artificial será algo onipresente nas organizações”, afirma.

Dependendo de onde você está sentado agora, pode parecer que nada disso importa já que está definido em algum lugar que grande parte das empresas da chamada velha economia vão desaparecer em menos de dez anos. Talvez você já tenha escolhido mudar seu mundo e, quem sabe, o mundo todo a bordo de uma plataforma tecnológica ou mesmo dirigindo uma ONG focada na construção das bases que irão definir os pilares da Permacultura Econômica. Talvez. Mas não importa.

Independente de onde você ou eu estejamos sentados agora, a única coisa que importa é que discussões como essa não são apenas sobre negócios, elas falam sobre a vida de milhares de pessoas que estão dentro de grandes empresas sendo impactadas por processos que aceleram, atrasam ou paralisam a criação de modelos capazes de minimizar os impactos negativos e otimizar os positivos decorrentes das decisões que estamos tomando agora. Vale terminar citando uma das considerações de Tim Sloan, CEO da Wells Fargo: “We got to embrace it, don’t be afraid of it embrace it”. Temos que abraçar isso. Simples assim.

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