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Que tal dar uma virada no seu mindset?

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Opinião

Que tal dar uma virada no seu mindset?

A publicidade sofre, há algum tempo, os maiores desafios da sua história. E muito se deve à resistência a mudanças.


24 de abril de 2019 - 17h13

Autor de frases memoráveis, que deram alma a campanhas incríveis e que marcaram gerações e gerações de brasileiros e brasileiras (eu mesma, inclusive), Washington Olivetto provocou o mercado com o recente artigo “Vamos dar uma virada?”, em que compara metaforicamente as performances de astros do futebol mundial às de publicitários nacionais. A certa altura do texto, Olivetto cravou:

“Expressões de outras áreas como ‘unicórnio’, saída das startups de tecnologia, e ‘mulher genuinamente digital’, extraída dos movimentos feministas, ganharam espaço na mídia especializada como o que deve ser ambicionado por um publicitário ou uma publicitária em início de carreira, enquanto ninguém se preocupa em explicar para esses jovens o porquê do não surgimento nos últimos anos de campanhas brilhantes como ‘Skol Desce Redondo’ ou ‘Pergunta lá no Posto Ipiranga’. Alguém sabe explicar?”, questionou.

Washington Olivetto citou o meu artigo “Mulheres genuinamente digitais”, publicado no último Dia Internacional da Mulher, em que, também metaforicamente, comparo características femininas às de organizações efetivamente digitais, segundo pesquisa da McKinsey. No texto, falo um pouco sobre a minha carreira de 20 anos dedicados ao mundo digital. Não integro movimentos feministas, mas sempre tive que quebrar barreiras, justamente por atuar em setores predominantemente masculinos, como varejo, financeiro e mesmo digital. Afirmo, como muitas colegas desses movimentos, que “lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive no universo dos negócios digitais.” Declaração, aliás, que reforço nas minhas aulas e palestras, sempre que o momento pede.

Concordo com Olivetto que é preciso, sim, “dar uma virada”. E recomendo que ela comece com a transformação da nossa própria mentalidade. Transformação digital, aliás, é um termo da moda, mas representa um conceito amplo, que extrapola o uso de tecnologias para “resolver problemas pontuais” do dia a dia. A expressão está intimamente conectada ao que chamo de “digital mindset”: uma completa mudança na forma de compreender e, principalmente, de fazer negócios com a aplicação da tecnologia. “Mentalidade digital” é uma frase ótima, mas que não significa muito se não forem dados alguns “F5s” em nossas visões de mundo!

Foram muitas as transformações profundas dos últimos anos, desde o crescimento da participação das pessoas via canais interativos (e a consequente ampliação do poder de barganha dos consumidores), passando por mudanças na relação empresa-cliente e o surgimento de inúmeros modelos de negócios, baseados na “uberização”, na “economia compartilhada” e no crescimento das startups.

Todos esses movimentos, claro, ressignificaram o modus operandi publicitário, assim como o de diversas outras áreas. A indústria passou a enfrentar a disrupção trazida por novas tecnologias e a insegurança de anunciantes que, há alguns anos, veem menos valor nas entregas feitas por parte de agências e profissionais neste início de século. A grande disseminação e a velocidade do uso da tecnologia impactaram a dinâmica das agências, fazendo eclodir não apenas novos formatos de remuneração, de precificação, mas também de atendimento e entregas. A publicidade sofre, há algum tempo, os maiores desafios da sua história. E muito se deve à resistência a mudanças.

Entendo que, para alguns, é mais cômodo confiar em estratégias já “testadas” porque os resultados são conhecidos. Compreendo também que algumas ações digitais são mais complexas, necessitando de expertises que nem todos possuem. É uma luta constante entre o “sempre fizemos assim” e o que “devemos fazer” para continuar prosperando nos novos tempos. No entanto, adaptar-se é imperativo. É responsabilidade das agências e dos profissionais.

Construir mentalidade digital requer uma avaliação honesta das próprias competências. Um exame profundo da mente e uma análise objetiva dos pontos fortes e fracos, capacidades, formas de realizar processos e de exercer a liderança. O risco de escolher permanecer enraizado no modo tradicional é a obsolescência. Uma forte mentalidade digital é a chave para manter o foco na experiência do consumidor em todos os pontos de contato, e garantir que produtos e serviços sejam mais intuitivos e inovadores. Alcançar essa mentalidade permite alavancar o envolvimento e reforçar relacionamentos com consumidores de todas as gerações e fases de vida, aumentando, claro, as oportunidades de negócios.

A criatividade circulou num passado longínquo em paredes de cavernas, peles de animais, papiros, pergaminhos e páginas impressas de papel. Hoje, se impõe em telas de smartphones, painéis de LED e uma infinidade de outras plataformas digitais. A História, a propósito, ensina que devemos nos despir de certezas e explorar fronteiras, oportunidades e tecnologias, fazendo novas perguntas. Os profissionais mais relevantes são aqueles que têm a habilidade de desenvolver novas competências. São os que se desafiam, saem das suas próprias zonas de conforto e acompanham o zeitgeist, adaptando-se a novas realidades. Os publicitários do século 21 serão aqueles que se reinventarem. E, claro, derem uma “virada” em suas mentes.

*Crédito da imagem no topo: Eoneren/iStock

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