Assinar

Vergonha no crédito ou no débito?

Buscar
Publicidade
Opinião

Vergonha no crédito ou no débito?

Optamos por passar vergonha de forma parcelada e parece que o carnê vence toda semana


10 de maio de 2019 - 17h39

Nesse sábado, 4 de maio, um vídeo rodou os grupos de WhatsApp de quem trabalha com TV e cinema e o vexame foi parar na Folha. Barretão, Luiz Carlos Barreto, irritado (legitimamente, diga-se de passagem), soltou os cachorros no Christian de Castro, presidente da Ancine (Agência Nacional de Cinema). A BRAVI – entidade que representa produtoras independentes brasileiras –, foi a público repudiar a utilização indevida de gravação anônima da reunião da Câmara Técnica de Cinema. O conteúdo da treta vai virar assunto para muitos outros textos, o que quero focar aqui é: shame on you! Tsc-tsc.

 

(Crédito: Hermes Rivera/Unsplash)

Discussão acalorada e arranca rabo é o que mais tem em reunião. Se você não presenciou isso, trago notícias: ou você é muito xóvem ou é peixe pequeno. Juro que ao crescer, seja em que área for, infelizmente você vai passar por momentos tensos. Por que gravar um trecho de uma reunião e divulgar fora de contexto? Amiguinhos, não sei os princípios e valores de vocês, mas tenho uma sugestão: que tal gravar só os extremos, como um crime, assédio moral, sexual, corrupção. Ou alguém sendo promovido, recebendo um prêmio?

Por mais raiva que você tenha daquele chefe escroto e machista, por mais ridícula que aquela sua colega pareça, voltando bêbada depois de um ‘almoço’ de 3 horas enquanto a equipe dela se mata, por mais triste que seja aquele tiozão do financeiro contando o mesmo caso sem graça de novo, há pouquíssimas justificativas para gravar uma reunião.

O audiovisual está enfrentando quiçá a maior de todas as suas crises e algum gênio resolve não só gravar, mas divulgar o vídeo. Véio, na boa, você não sacou o tamanho do tiro de canhão no pé que você nos deu? Tem treta da Ancine com TCU, dos distribuidores com os exibidores, dos canais pagos com VOD, não precisamos de lenha na fogueira. Até porque a fogueira está no meio do barco e ele está furado.

A Ancine está no meio do olho do furacão, mas em algum momento vai ter que olhar para o VOD, que sem regulamentação não paga o Condecine e não tem cota de tela, enquanto a TV Paga, mesmo passando por uma crise, tem cota e tudo mais. A quebra recente no acordo entre exibidores e distribuidores, que limitava megalançamentos e defendia maior diversidade de títulos, foi escrota. Desculpe o palavreado, mas não achei opção melhor. E foi esse o motivo da bronca, agora pública, do Barretão.

De Pernas Para o Ar 3, que estava performando muito bem, vendendo ingressos a rodo, foi tirado de centenas de salas, com ingressos já vendidos, por causa do famigerado Vingadores. Pouco se falou sobre o prejuízo sofrido pela produtora, mas imagino que fique entre R$ 2 e 3 milhões. É óbvio que agora os distribuidores estão apreensivos com seus próximos lançamentos. Nosso cinema sobrevive a outros lançamentos-massacre assim?

 

Ingrid Guimarães em De Pernas pro Ar 3 (Crédito: Divulgação)

Se nem um filme do calibre do De Pernas pro Ar 3 consegue sobreviver, imagine os outros filmes nacionais. Como competir com filmes que custam US$ 100, 300 milhões e outros muitos milhões para o lançamento sem regulamentação e proteção de mercado? E ainda somos alvo de críticas severas de que ninguém vê nossos filmes, de que não sabemos formar público.

E aí vem a pergunta: De que serve uma agência reguladora se não para regular o mercado? Para garantir condições mínimas de competitividade, protegendo a produção nacional? O massacre com o filme da Mariza Leão, da Morena Filmes, era anunciado. Ela gritou semanas antes, aos sete ventos, que seria engolida. E foi.

Desde 2001 uma medida provisória garante a presença proporcional de produções nacionais nos cinemas. Todo mês de dezembro o governo publica um decreto discriminando os valores da cota que terão de ser observados no ano seguinte, mas em 2018, no fim do governo Temer, o decreto não foi publicado, o que colaborou para a paulada dos Vingadores no cinema nacional.

Parece que os gritos do Barretão foram ouvidos, e o ministro da Cidadania – que saudades de MinC –, Osmar Terra, assinou na segunda, 6, a cota de tela que obriga cinemas brasileiros a exibirem um percentual de filmes nacionais todo ano. Não sabemos ainda os valores da cota, mas a regra deve ser publicada no Diário Oficial da União ainda nesta semana.

Os ataques ao audiovisual estão vindo de todos os lados, e só com união, muita conversa e talvez alguns gritos que vamos conseguir proteger nossa indústria. Agarrem seus salva-vidas, ajudem o colega, mesmo que ele pense diferente de você, trabalhe duro, seja legal com as pessoas e torça para a gente passar por menos vexame, que tá feia a coisa.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Quando menos é muito mais

    As agências independentes provam que escala não é sinônimo de relevância

  • Quando a publicidade vai parar de usar o regionalismo como cota?

    Não é só colocar um chimarrão na mão e um chapéu de couro na cabeça para fazer regionalismo