Pyr Marcondes
10 de março de 2019 - 18h03
A melhor forma de entender com maior profundidade as questões levantas criticamente pelo investidor Roger McNamee, em sua entrevista ao editor da Wired, Nicholas Thompson, hoje aqui no SXSW, é lendo seu livro, Zuked (que você a essa altura já sabe, é uma obra em que ele critica a forma como o Facebook e Mark Zukerberg lidam com a cidadania e a informação … livro que, aliás, ele promove para venda no próprio Facebook, e diz que funciona super), ao mesmo tempo em que lê também o da Amy Webb, The Big Nine.
As empresas de tecnologia atropelaram fortemente todos os sinais de ética que minimamente conhecemos. Aqui no Ocidente, além do próprio Facebook, o livro da Amy cita Google, Amazon, IBM, Microsoft e Apple. No caso dela, mais preocupada com o tema da Inteligência Artificial. Não importa, em verdade, porque dados e AI caminham juntos e de mãos dadas o tempo todo em nossos vidas, uma coisa retro-alimentando a outra, como uma entidade só.
A posição de McNamee pode ser criticada porque, afinal, ele mete o pau no Facebook, mas ainda continua como acionista da companhia e, como disse, a usa para promover a venda do seu próprio livro.
Ok, sim, pode ser.
Mas atendo-se especificamente ao que ele diz … bem, aí acho que vale prestar atenção.
O sistema econômico ocidental contemporâneo capitalista se concentrou e poucas empresas hoje detém muito poder. Isso não é bom para o Capitalismo, nem para a Sociedade, nem para Democracia. Sistemas mais abertos, em que a livre iniciativa floresça de forma mais equânime entre as empresas, alimentando uma economia diversificada e inclusiva para outras iniciativas, via fomento a startups, por exemplo, será melhor para todos. Temos que acabar com a invasão e manipulação dos dados dos cidadãos, sem que eles saibam para que esses seus dados estão sendo usados: “Não quero o Totalitarismo na política, porque iria querer na Economia? Essas empresas dominam meus dados sem que eu tenha ideia do que fazem com eles”. Diz ele. A única saída para isso é parar com tudo já, freio de arrumação. Pactuar um novo marco social e jurídico, que não impeça essas companhias de prosperar, mas que proteja a privacidade das pessoas:” Não é uma questão de esquerda ou direita, mas do que é certo ou errado”.
Bem, é mais ou menos isso, em linhas gerais e resumindo, o que ele fala. Não consigo discordar de uma linha.
McNamee diz ter alertado Zukerberg e turma que ia dar xabú, caso continuassem na linha que passaram a adotar em 2016, de captura e gestão de dados, nem sempre de forma transparente para seus usuários. Segundo ele, não foi ouvido.
Incomodou-se com isso, mas incomodou-se ainda mais pelo fato, diz ele, de que mesmo após o escândalo da Cambridge Analitica e da ocupação digital das redes pela Rússia, o Facebook não tenha efetivamente tomado medidas consistentes contra a invasão e a usurpação da privacidade dos dados que detém dos seus usuários.
Não acredita que as recentes declarações de Mark Zukerberg sobre mudança de postura da companhia em relação a todos esses problemas sejam, de fato, efetivas.
É uma visão.
Algo, no entanto, me parece fora de dúvida: deu ruim.
Ninguém podia prever, ok. Foi meio que um susto, ok. Mas de agora em diante, não dá mais. O susto passou, ficou o desafio de mudar o rumo da prosa e reinstituirmos algo que, eu pelo menos, seguirei, como McNamee, defendendo sempre como profissional e cidadão: o direito à privacidade. Afinal, essa é a base pilar da Democracia e da livre empresa.
Gostaria, fortemente, que continuasse sendo.