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Iniciativa com ?acabativa?: um olhar sobre a Wired by Design

Não é tão fácil colocar 35 dos maiores inovadores do mundo numa sala, durante três dias seguidos, mas, depois de uma esperinha de três anos, lá estavam eles reunidos


10 de novembro de 2014 - 8h00

POR LEO MACIAS
Diretor de criação da DM9DDB

O resumo do seminário sobre inovação realizado pela Wired by Design, na minha opinião, não poderia ser outro.

Tive a felicidade de ser um dos 150 escolhidos do mundo inteiro para participar do evento, o que só de ser escolhido já me tinha deixado muito feliz, porém o melhor estava por vir, um evento em que cada pequeno detalhe foi feito para ser uma surpresa positiva.

Desde o lugar do evento que foi escolhido a dedo, o Skywalker Ranch, da Lucas Films, considerado o melhor estúdio de música do mundo, onde foram sonorizados alguns dos maiores sucessos do cinema da atualidade, isso sem contar com a probabilidade de um tropeço com o próprio George Lucas no banheiro (pena que não aconteceu isso, mas tudo bem).

O evento começou a ser montado em 2011 e só depois de 3 anos conseguiram finalizar ao viabilizar as agendas dos palestrantes. Não é tão fácil colocar 35 dos maiores inovadores do mundo numa sala, durante três dias seguidos, mas, depois de uma esperinha de três anos, lá estavam eles reunidos.

Fiz uma difícil escolha entre os 35 palestrantes, elaborando uma lista dos 10 que mais me chamaram a atenção por serem pessoas que estão sempre pensando jeitos de inovar o mundo, correndo atrás de suas ideias e fazendo-as acontecer ou, como digo, pessoas que têm iniciativa, mas também têm “acabativa”.
São estes os meus escolhidos:


Ethan Imboden

Ele é um designer de produtos que decidiu reinventar os objetos sexuais que existiam por aí. Para isso, criou a marca Jimmy Jane, uma linha de produtos sexuais que saem do lugar comum em que todos eles estavam. Antigamente, um vibrador parecia uma prótese médica que ficava escondida no fundo de uma gaveta, não só pelo que o objeto representava, como também porque todos eram horríveis.

Hoje os produtos que ele inventou são um sucesso, isso devido ao posicionamento dado a eles. Hoje eles poderiam ficar tranquilamente na bancada do banheiro, ou na bolsa, já que são também objetos de design. Porém, a sua inovação não parou por aí – a divulgação não foi feita em revistas pornô, foi feita em revistas de design, de moda, de estilo. Ethan acredita que, para um produto ter sucesso, o designer não pode só desenhar o produto, tem que desenhar o impacto dele.

 

Ives Béhar
Ives é um dos melhores designers do mundo. Ele já criou alguns dawueles, objetos que a gente sonha em ter, como as belíssimas caixas de som Jambox, as pulseiras Jawbone, motos que mais parecem esculturas. Porém, desta vez, ele nos apresentou o August, a primeira fechadura digital do mundo, uma fechadura que funciona via celular. Mas por que uma pessoa precisa de uma fechadura que funciona pelo celular?

Pela mesma razão que, alguns anos atrás, alguém precisasse dividir com as pessoas o que faz (Facebook hoje é um sucesso). A fechadura dele por exemplo, o reconhece quando você se aproxima da sua porta, e não só abre como pode mandar via sms o recadinho que a sua empregada deixou, ou você pode, a distância, abrir a porta para seu amigo que vai ficar na sua casa, pode abrir a porta para a sua empregada e avisar inclusive a hora em que ela foi embora. Realmente não dá para chamar essa invenção de fechadura, quem sabe ela é a porta para muitas outra possibilidades.

 

Dave Merril
Dave é um engenheiro que já criou diversos produtos, porém a sua última invenção apresentada no seminário são os seus drones automatizados. São drones que funcionam pelo GPS do celular via Google View. Você só desenha na tela do seu celular o trajeto que você quer que ele faça sobrevoando e filmando.

Sim, você não precisa de mais nada. Você pode pegar o seu skate e descer ladeira abaixo, e o seu drone vai filmando a sua descida na sua velocidade, claro! O produto foi projetado para poder criar novas oportunidades de captação e muitas vezes viabilizar um projeto que seria impossível se não existisse.

Além de voar sozinho, filmar, mudar o ângulo da câmera e pousar sozinho, ele pode modelar em 3D o percurso que está fazendo. Sabe aquela ação que você queria tanto fazer e era impossível? Agora você pode viabilizar. O drone custa a partir de US$ 780.

Bjarke Ingels
É um arquiteto megapremiado que construiu a reputação criando a partir das dificuldades. Ele acredita que são as maiores dificuldades que fazem as melhores ideias acontecerem. Dentro desse conceito, ele criou, entre muitos projetos, o Danish Maritime Museum. Um museu construído por baixo da terra para não interferir na vista da cidade para o Kronborg Castle, tombado pela Unesco.

 

Gendtry Underwood
Ele é um dos fundadores do Dropbox. Ele nos falou sobre o Simulacrum. Explica: é o território em que a tecnologia está entrando na nossa vida e, por causa disso, tem feito grandes marcas hoje estarem consagradas nela. Skype é o simulacrum de poder estar presente, óculos 3D é o simulacrum de poder estar em lugares muitas vezes inexistentes, Paypal é o simulacrum do dinheiro, e por aí vai.

Outra teoria que ele defende é o pensamento que está sendo usado em Silicon Valley para poder lançar um produto. É que, para fazer sucesso, toda invenção deve ser como uma escova de dentes, tem que ser usada no mínimo 3 vezes ao dia e tem que, de alguma maneira, melhorar a vida das pessoas. Esse é o caso do Facebook, quantas vezes ao dia você não o usa? E, com certeza, de alguma maneira melhorou a sua vida, suas relações com pessoas, ou mesmo permitindo o reencontro com alguns amigos. A mesma coisa acontece com o Twitter, com o Instagram, com o Google, etc.

 

Dan Winters
Considerado um dos fotógrafos mais criativos dos Estados Unidos pela crítica comercial e artística, Dan tem um trabalho para lá de especial. Ele trabalha como fotógrafo para a NASA desde os anos 80. Durante todos estes anos, ele já fotografou muitos momentos especiais da história aeroespacial do mundo.

Ele nos contou um pouco do seu momento de trabalho quando um lançamento vai ser realizado: uma logística para fazer 40 câmeras trabalharem ao mesmo tempo, por exemplo. Imagine fazer todas essas câmeras clicarem no momento certo, da distância certa, do ângulo certo, com a luz certa (lembre-se de que um lançamento de foguete tem muita luz e muita fumaça), agora imagine fazer isso dentro da regra de tudo o que envolve a NASA: erro zero.

 

Jake Barton
Jake é um cientista absolutamente nerd e completamente alucinado pelo comportamento humano. O seu trabalho é desenvolver interatividades para museus e lugares públicos por todo o mundo. Ele nos falou no seminário sobre a teoria que aplica em todos os projetos que desenvolve: “Se você me diz, eu esqueço; se você me toca, vou lembrar pra sempre”.

Com base nesse pensamento, ele já desenvolveu instalações para os principais museus do mundo; fora isso, foi escolhido para criar o memorial do 11 de Setembro em Nova York. Ele criou um ambiente de 2.500 m2 completamente interativo, onde mesmo só quem dá uma curta passada pelo memorial consegue entender como essa data mudou o mundo por completo.

Ele acrescenta, ainda, que a tecnologia pode ter emoção, sim. Por meio dela, já viu pelo mundo inteiro pessoas aprenderem muitas coisas sem perceberem que estavam aprendendo.

 

Carl DeTorres
Considerá-lo só um ilustrador estaria errado, apesar de ele o ser por formação. Carl acredita na tese de que a língua universal é o design, muito mais do que o inglês. Tanto é assim que ele é contratado pelos principais jornais do mundo para transformar em gráficos explicativos assuntos polêmicos, como a legalização da maconha na Inglaterra, o lugar atual da mulher no mercado de trabalho no mundo, o aumento do porte de armas nos Estados Unidos, etc.

Ele é tão claro e didático com suas ilustrações que hoje faz inclusive trabalhos diretamente para o governo americano.

 

Christopher Kostow
Ele é cozinheiro, aliás, como se diz hoje, chef de cozinha, como tal já é uma pessoa consagrada, um dos poucos no mundo a ganhar 3 estrelas do Guia Michelin. Porém, o seu assunto no seminário não foi sobre os ingredientes comuns na culinária. Ele falou do seu outro lado criativo, a criatividade de encontrar a melhor harmonia nos pratos. Ele faz questão de desenhar junto com a sua equipe a melhor maneira de apresentar as suas receitas, faz questão de escolher a luz que melhor combina com aquele prato e a melhor música também, ou seja, ele não se limita às panelas. Ao contrário, acredita que o sabor das coisas não está só no paladar, está nos olhos, no olfato, nos ouvidos, no tato.

Quem já ganhou 3 estrelas no Guia Michelin, fora ser considerado um dos melhores chefs do mundo, não deve estar errado.

 

Doug Aitken
É um dos artistas plásticos mais inovadores do mundo. Se você já visitou o Inhotim, provavelmente se deparou numa das suas obras em que você consegue escutar os sons que o fundo da Terra gera. Ele apresentou no seminário o mais recente e maior trabalho: o Station to Station.

O projeto é um trem que percorreu horizontalmente os Estados Unidos de ponta a ponta. Só o trem já é uma belíssima e moderníssima instalação de luz que chamava a atenção por onde passava, porém o melhor estava dentro do trem: centenas de artistas, entre músicos, atores de teatro, palhaços, artistas plásticos, fotógrafos, dançarinos, etc., viajavam dentro dos vagões produzindo o conteúdo que exibiria a cada parada desse trem nas estações.

No meu retorno ao Brasil, depois dessa imersão de 3 dias vendo tanta gente inovadora colocando as suas ideias para mudar o mundo, só me resta dizer uma coisa que confirmei nesse seminário: você é daquelas pessoas com iniciativa? Parabéns, ótimo, já é um bom começo. Agora, faça suas iniciativas acontecerem, corra atrás, brigue por elas, de argumentos, convença pessoas, negocie, jogue-se, atreva-se a errar, até porque, se você não está errando de vez em quando, pode ser um sinal de que talvez você só esteja repetindo e não esteja fazendo nada realmente inovador. Lembre-se: o mundo de hoje valoriza não as iniciativas e sim as “acabativas”.  

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