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A importância de esquecer

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A importância de esquecer

Artigo: Leandro Ramos, sócio-fundador do Indike, mostra ferramentas que vão facilitar o garimpo virtual das informações deixadas na web


4 de março de 2013 - 8h29

Por Leandro Ramos
Sócio-fundador da agência Javali Digital e da rede de indicações Indike

Pode-se dizer que a tecnologia mudou radicalmente a maneira como as pessoas compartilham informações. Antigamente muitos fatos pessoais que eram privados tornaram-se públicos. Hoje colocamos no Facebook as fotos do parto da melhor amiga, damos check-ins no Foursquare de hora em hora e alimentamos o Instagram com cada instante da nossa vida.

Com custos de armazenagem cada vez menores, todas estas informações são estocadas em algum lugar da rede. Os enormes bancos de dados das redes sociais estão modificando a relação do homem com a memória. Todas nossas ações na internet deixam uma pegada. Você tem ideia dos rastros que você tem deixado no mundo virtual?

Tudo o que publicamos na internet de alguma forma fica imortalizado na rede. Agora existem algumas ferramentas que vão facilitar você garimpar o seu passado e de seus amigos também. O Timehop e o Rewind.me são aplicativos que registram todas as suas atividades nas principais redes sociais. Assim, é possível saber o que você fez no seu aniversário ano passado, onde você jantou no dia dos namorados há dois anos atrás, ou ainda quem curtiu sua presença no show do U2 em 2011. O Timehop traz diariamente um relatório do que você postou um ano antes. Já o Rewind.me promove uma competição entre seus amigos para descobrir quem tem o passado mais glamoroso e assim é possível revelar quem mais viajou ou foi ao cinema.

No entanto, vasculhar o passado pode ser divertido até você se esbarrar em algum acontecimento desagradável. Um relacionamento amoroso que acabou, um ente querido que se foi. Existem inúmeras coisas que precisamos esquecer em nossas vidas. Durante toda a história da humanidade o esquecimento tem sido um poderoso recurso do nosso cérebro para seguirmos em frente. Esquecer nos ajuda a abstrair coisas, viver no presente, aprender coisas novas e até perdoar os outros. Como será a vida agora com todo nosso passado onipresente?

O modelo de “memória perfeita” está construindo uma sociedade incapaz de perdoar. O pesquisador Viktor Mayer-Schoenberger, conta em seu livro “Delete – The virtue of Forgetting in the Digital Age” (Delete – A Virtude de Esquecer na Era Digital) o caso de uma mulher norte-americana, que quando tinha 18 anos cometeu um crime e ficou detida alguns anos na prisão. Após cumprir sua pena, a mulher mudou-se para uma nova cidade e decidiu recomeçar sua vida. Casou-se e teve filhos. Certo dia, um amigo do seu filho resolveu digitar o nome da mulher no Google e a encontrou numa lista de prisioneiros do estado das duas últimas décadas. A vida da mulher desmoronou-se após este episódio. Ela já não tinha pago sua pena? Como recomeçar uma vida se é impossível esquecer?

Outra face dessa discussão é que as pessoas podem começar a se preocupar com tudo o que elas publicam na rede e iniciarem uma fase de autocensura muito grande, o que também seria ruim, afinal uma declaração ou uma foto infeliz pode impedir de se conseguir um emprego ou conquistar uma pessoa. O ideal seria que pudéssemos compartilhar muita informação e que mecanismos computacionais permitissem que essa informação fosse esquecida ao longo do tempo, assim como já faz nosso cérebro. Imagine publicar uma foto no Facebook com data de validade para ela desaparecer da sua timeline. Essa é a importância de esquecer que a tecnologia ainda não nos trouxe.

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