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Acessibilidade no e-commerce: 24% da população tem alguma deficiência
Ricardo Hechtman, da EqualWeb, aborda as soluções para que as empresas adaptem sites e lojas virtuais para esse público
Acessibilidade no e-commerce: 24% da população tem alguma deficiência
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Carolina Huertas
4 de abril de 2022 - 6h00
O e-commerce cresce de forma acelerada nos último anos, impulsionado pela pandemia. Com diversas empresas se introduzindo no mercado digital, a concorrência aumenta e surgem também necessidades de se destacar e atender melhor o seu público. Mas uma questão que ainda não está no radar das empresas, e deveria, inicialmente por ser o certo ao se pensar na inclusão, é a acessibilidade digital.
Segundo o Movimento Web Para Todos, dos 15 milhões de sites ativos no Brasil e 90 mil lojas virtuais, menos de 1% é acessível. Ao mesmo tempo, o IBGE aponta que, aproximadamente, 24% da população brasileira tem algum tipo de deficiência, o que representa 50 milhões de pessoas. Segundo os dados, elas movimentam em torno de R$ 28,1 bilhões em renda própria por ano. “Esse imenso público existe e é responsável pela geração de grande parte do PIB brasileiro, uma vez que estamos falando de quase 1/3 da população, que necessita de espaços digitais acessíveis para seguir consumindo e vivendo com independência, autonomia e protagonismo”, diz Ricardo Hechtman, sócio e head de inovação da EqualWeb Brasil.
A questão é, inclusive, direito assegurado pelo Estado. A Lei Brasileira de Inclusão, de 6 de julho de 2015, declara que: “É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com deficiência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente.” Porém, apesar da lei, Hechteman comenta que os maiores desafios ainda são fazer as empresas perceberem que existe um problema real, que afeta milhares de brasileiros, que não conseguem navegar nos e-commerces brasileiros de forma autônoma. “Eles precisam sempre ter alguém ajudando nessa navegação para poder concluir uma compra. Muitas dessas pessoas acabam não acessando milhares de e-commerces, e esse círculo vicioso prejudica tanto o usuário que não compra quanto a empresa que não vende para eles”, afirma.
Como uma das empresas que trabalham para introduzir a questão no meio digital, a EqualWeb está no mercado há 20 anos e conta que, à época da fundação, pouco se falava sobre a importância do mercado corporativo, de negócios e da própria vida cotidiana na sociedade, em oferecer condições mais iguais para todos, independentemente de sua condição física ou mesmo cognitiva. E, diante disso, a falta de acesso tinha aspectos mais relacionados às questões estruturais dos ambientes e ferramentas disponíveis para locomoção, conforto espacial, manipulação de objetos e tratava, portanto, de como conseguir se adaptar aos ambientes fisicamente, para atender suas demandas diárias na vida em sociedade com condições iguais à quem não têm essa necessidade.
Porém, de acordo com Hechtman, com o avanço da tecnologia e com a chegada da pandemia, a falta de acessibilidade também nos meios digitais começaram a receber mais atenção. Hoje em dia, a empresa trabalha com mais de 10 mil marcas, clientes globais, e, no Brasil, atende empresas como a Coca-Cola, Suvinil, Roche, Espaço Laser, Banco BV e Rock in Rio. “Os meios digitais se tornaram o canal onde consumimos quase tudo de essencial em nossas vidas, sem a necessidade da presença física. Ou seja, se os meios digitais não estão acessíveis para atender as inúmeras e diferentes necessidades individuais do cidadão, eles estarão alijados do convívio e acesso à situações básicas do seu dia a dia, como compras, estudo, conhecimento, entretenimento e também questões profissionais de trabalho, por exemplo. A “visibilidade” de atendimento dessa demanda urgente passou, então, a fazer parte da pauta prioritária de todos as instituições e organizações, uma vez que milhões de pessoas deixaram de frequentar aulas, consumir produtos, informação e trabalhar, por exemplo, tudo isso passou a ser feito de forma digital”, comenta.
O executivo diz que o pensamento dos grandes players está em torno de não ter custo adicional para adaptar o seu site com recursos de acessibilidade digital, por exemplo, a fim de atender as dificuldades de seus consumidores em realizar as compras nesse ambiente. “A oportunidade que surge, é efetivamente permitir que milhões de pessoas que não consomem produtos nos e-commerces, pois não conseguem navegar por conta da falta de acessibilidade, possam se tornar fiéis consumidores de marcas que respeitam suas necessidades, atendem seus direitos legais de acesso e, consequentemente, aumentam não só o seu faturamento, mas geram branding awareness ao participar do movimento de impacto e inclusão social através da acessibilidade digital”, aponta.
Para o executivo, as marcas são verdadeiros motores de transformação da sociedade pois suas ações reverberam de forma positiva e escalável na população. E, por isso, as empresas então começando a olhar para essa questão. “Recentemente, tivemos a entrada de grandes players no Universo da Acessibilidade em Um Clique, como o Grupo Via Varejo e o Carrefour, que já estão beneficiando milhares de usuários de seus marketplaces e e-commerces. Os e-commerces de menor porte também já se atentaram para os diversos benefícios que a inclusão traz a reboque. A Cha-Do, por exemplo, oferece acessibilidade digital para seus clientes e teve grande aumento de seu faturamento. Quando um e-commerce deixa de atender o cliente, e perde, pelo menos, outros dez, pois seus amigos e familiares acabam procurando quem os atende e os encaras não como deficientes, com rótulos, mas como pessoas, na sua essência”, comenta o sócio.
Como funciona na prática?
O executivo explica que a tecnologia usada para a acessibilidade oferece integração de uma única linha de código, a disponibilização de ícone de acessibilidade no site com até 31 tipos diferentes de recursos para as páginas dos e-commerces. Com os recursos existentes, é possível atender diversos tipos de públicos como pessoas com deficiência visual severa, baixa visão, daltonismo, epilepsia, dificuldades de leitura, questões motoras, cognitivas, déficit de atenção, dislexias, síndromes, analfabetos, idosos e crianças em fase de aprendizagem por exemplo.
As adaptações vão desde navegar pelo website utilizando apenas o comando de voz até promoção de ajuste do website a softwares leitores de tela, navegação por teclado, aumento de letras, espaçamento de linhas e palavras, customização de uma infinidade de cores para o plano de fundo, cabeçalhos e conteúdo, destacamento de links e cabeçalhos, ajustes automáticos de contraste, ampliador de texto no modo lupa ou de todo o website, conversão da fonte original de todo conteúdo para Sans Serif, opção de leitura em nova janela de forma clara e legível, aumento e troca de cor do cursor, descrição das imagens em aba mesmo sem o uso de softwares de leitor de tela, navegação numérica, bloqueio de elementos móveis para pessoas com epilepsia, leitor de texto de todo conteúdo e teclado virtual para preenchimento de formulários com o mouse.
Hechtman diz que, com o uso da inteligência artificial, a tecnologia é facilmente integrada, com uma única linha de código, na programação original de todo tipo de CMS (Content Management System, ou sistema de gerenciamento de conteúdo) atendendo portais e sites, intranet, LMS (Learning Management System, ou sistema de gerenciamento de aprendizagem), ERPs, CRMs e diversos outros sistemas web, que aceitem códigos em Java Script. “Nosso ‘molho secreto’ e parte da propriedade intelectual é poder promover customização personalizada e individual, pelo usuário; do ‘layer’ de visualização desses sistemas; e da forma de navegar pelos mesmos. Em tecnologês, isso significa que, por mais que um sistema tenha sido desenvolvido com base nos critérios do Guia Mundial de Conteúdo Acessível (WCAG), que traz os critérios que devem ser usados na programação, o que nossa tecnologia faz é permitir que o próprio usuário que acessa esses ambientes seja o protagonista e possa, sozinho, modificar todas as cores do background, conteúdo e cabeçalhos até encontrar o layout ideal para sua necessidade específica. Além disso, a forma de navegar tradicional, usando mouse, pode ser substituída por navegação com a voz, um dedo, podendo escutar o conteúdo ao invés de ler, ou da forma que o usuário quiser, ativando um ou mais dos recursos até encontrar o formato ideal para atender suas necessidades específicas”, detalha.
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