6 de março de 2013 - 12h37
Por Débora Yuri
A advogada Gaby Darbyshire gosta de falar e de ir direto ao ponto. “Quero ver acontecer no Brasil nos próximos cinco anos o que nós fizemos nos EUA nos últimos cinco. Queremos mudar as conversas. Sim, nós temos grandes ambições”, disse à ProXXIma a diretora executiva da Gawker Media, maior rede de blogs independentes norte-americanos, durante visita a São Paulo na última semana.
Nascida em Beirute (Líbano), ela cresceu em Londres e comanda, de Nova York, diversos departamentos do grupo de mídia que hoje soma mais de 40 milhões de leitores mensais no mundo: o jurídico, o financeiro, de desenvolvimento de negócios, o RH e as operações. “Acreditamos que o futuro do jornalismo é a conversa com os leitores. Porque assim você engaja a sua audiência, envolve, cria um relacionamento duradouro.”
A Gawker foi fundada em 2002 por Nick Denton, um jornalista do tradicional “Financial Times” que decidiu se dedicar ao blog de gadgets Gizmodo (5,1 milhões de leitores mensais em 2012, considerado “um dos maiores blogs do mundo” pela “Forbes”). A esse carro-chefe, somaram-se outros noves títulos nos EUA.
Hoje, três blogs da empresa figuram na lista dos dez mais lidos do planeta elaborada pela Technorati – além do Gizmodo, o Deadspin, voltado a esportes, e o Gawker, que cobre mídia, entretenimento e negócios. Uma das chaves do sucesso é a valorização de sua audiência. “Os comentários podem ser a melhor parte de uma matéria”, observa Gaby. “Mas, se a maioria deles for de baixa qualidade, isso vai nivelar as conversas no seu site por baixo.”
Para nivelá-las por cima, o investimento em sistemas que aprimoram a interação sempre foi alto. No final do ano passado, o grupo lançou o Kinja, plataforma que privilegia os leitores mais qualificados e “isola” os comentaristas ruins. A advogada lembra que isso sempre aconteceu na vida real. “Numa festa, você não precisa lidar com certo tipo de gente; simplesmente vira as costas e sai de perto delas.”
Posts e conversas patrocinadas
Considerada pioneira no mercado norte-americano, a Gawker foi uma das primeiras empresas que buscou ser comercial apostando no formato de blog. O grupo fatura anualmente cerca de US$ 26 milhões e tem operações próprias ou com parceiras locais no Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Austrália, Japão, Índia e Brasil.
Por aqui, a operação acontece em parceria com a F451, que representa quatro blogs com conteúdo em português – Gizmodo, Jalopnik, Jezebel e Kotako – e tem criações próprias como o Trivela. Entre os leitores brasileiros, mais de 7 milhões de visitas são registradas por mês.
Para o Brasil, um dos planos da empresa é lançar novos títulos, como o cultuado Lifehacker, um blog que ensina a fazer praticamente de tudo. Trazer novos formatos publicitários ao mercado é outro objetivo, como posts e conversas patrocinadas.
“Isso está ficando cada vez mais comum nos EUA e é um ótimo caminho, se a marca tiver coragem”, conta Gaby, citando como exemplo a operadora AT&T, que vinha sofrendo uma série de críticas dos usuários à sua rede. “Nós falamos: ‘Mandem-nos um engenheiro que explique por que isso acontece com a rede’. Eles toparam, e essa ação gerou simpatia pela marca, conversas entre a marca e seus consumidores, maior conhecimento público do que estava acontecendo.”
Ela acredita que a publicidade online caminha para ficar como a da TV. “Você não clica em nada, mas é exposto a uma marca ou um produto por um longo tempo. Pesquisas mostram que a taxa de clique não mensura de fato uma campanha. Ninguém mais quer banners entediantes”, diz.
Fomentar uma nova cultura de comentários é outro desejo do grupo em território brasileiro – a ideia é trazer para cá a plataforma Kinja, quando a fase de testes em sites americanos acabar. “Fora dos EUA, não existe a sofisticação do software nem a sofisticação da cultura de comentários”, compara a diretora de um grupo que tem como costume contratar bons comentaristas para sua equipe editorial.
Leitores fieis também são fontes para a equipe, que dá cerca de 20 furos jornalísticos semanais nos blogs americanos da Gawker, a maioria depois copiados pela imprensa tradicional. Por isso, Gaby refuta a velha tese de que os blogueiros estão matando o jornalismo.
“Falam que eles não apuram, não checam as informações. Isso é injusto, porque muitos repórteres de jornal também não checam nada, já que a pressão de publicar logo existe em todos os lugares. Blogueiros podem não conseguir cobrir tudo, mas, para o jornalismo de nicho, eles conhecem profundamente um tema específico e têm excelentes fontes.”