13 de agosto de 2013 - 8h30
Da Redação
A revista do The New York Times traz, em sua edição mais recente, entrevista com o ex-agente da NSA Edward Snowden. Na matéria, assinada pelo repórter investigativo Peter Mass, Snowden conta de que forma abordou a documentarista Laura Poitras. Ela foi primeira pessoa a receber, pela internet, mensagens criptografadas e, até então, anônimas, do ex-agente da NSA com informações sobre o programa de espionagem do governo norte-americano. A partir daí, em uma série de idas e vindas de verificações e checagens de confiança mútua, iniciou-se a relação que também se estendeu ao sócio de Laura e colunista do The Guardian, Glenn Greenwald.
Veja, abaixo, os principais trechos do Q&A:
NYT: Por que ao invés de procurar jornalistas dos principais veículos de comunicação americanos (NYT, WP, WSJ etc), você buscou caminhos alternativos? Em particular, por que Laura, uma documentarista?
Edward Snowden: Depois dos atentados de 11 de setembro, muitos dos grupos de mídia mais importantes dos Estados Unidos abdicaram de seu papel poderoso – a responsabilidade jornalística para desafiar os excessos do governo – por medo de serem vistos como antipatrióticos e punidos no mercado durante um período de nacionalismo elevado. A partir de uma perspectiva de negócios, esta foi a estratégia óbvia adotada, que beneficiou as instituições, mas acabaram custando caro para o público leitor.
Laura e Glenn estão entre os poucos que relataram destemidamente sobre temas polêmicos em todo esse período, o que fez com que Laura, especificamente, se tornasse alvo das espionagens recentes. Ela demonstrou a coragem, experiência pessoal e habilidade necessárias para lidar com o que é, provavelmente, a tarefa mais perigosa para qualquer jornalista: informar sobre os malefícios secretos do governo mais poderoso do mundo.
NYT: Em que momento do seu contato com Laura percebeu que podia confiar nela?
ES: Chegamos a um ponto no processo de verificação onde eu descobri que Laura desconfiava mais de mim do que eu dela. A combinação de sua experiência e seu foco exigente nos detalhes e o processo deu-lhe um talento natural para a segurança. Com isso fiquei à vontade e tornou-se mais fácil me abrir sem temer que seria maltratado. E ela me deixou muito à vontade na frente das câmeras. Eu, pessoalmente, odeio ser filmado, mas em algum ponto do processo de trabalho, percebi que eu estava, inconscientemente, confiando-lhe minhas informações mais secretas. Ela é boa.
PM: Antes você tentou contato com Glenn. Ficou surpreso que ele não respondeu aos seus pedidos e instruções para a comunicação criptografada?
ES: Sim e não. Eu sei que os jornalistas são ocupados e havia assumido para mim mesmo que ser levado a sério seria um desafio, especialmente tendo em conta a escassez de detalhes que eu poderia oferecer inicialmente. Fiquei surpreso ao perceber que havia pessoas nas empresas de notícias que não reconhecem que uma mensagem criptografada enviada através da internet está sendo entregue a todos os serviços de inteligência do mundo. Na esteira das revelações deste ano, deve ficar claro que publicar uma informação como esta que não seja criptografia por uma fonte que não se revela é imperdoável e imprudente.
NYT: Quando você conheceu Laura e Glenn em Hong Kong, o que foi a sua reação inicial? Você ficou surpreso com alguma coisa na maneira como eles trabalharam e interagiram com você?
ES: Eu acho que eles ficaram irritados porque eu sou mais jovem do que o esperado, e eu estava irritado pelo fato deles terem chegado muito cedo, o que complicou a verificação inicial. Fiquei particularmente impressionado com a capacidade de Glenn de trabalhar sem dormir por dias a fio.
NYT: Laura começou a filmá-lo de perto desde o início. Você ficou surpreso com isso? Por que ou por que não?
ES: Definitivamente surpreso. Como se pode imaginar, normalmente espiões evitam veementemente o contato com jornalistas ou meios de comunicação. Eu era uma “fonte virgem”. Tudo foi uma surpresa. Se eu tivesse a intenção de esconder-me no anonimato, eu acho que teria sido muito mais difícil de trabalhar com Laura, mas todos nós sabíamos o que estava em jogo. O peso da situação, na verdade, tornou mais fácil se concentrar no que era do interesse público, e não o nosso próprio. Eu acho que todos nós sabíamos que era um caminho sem volta, uma vez que ela virou câmera, e o resultado final seria visto pelo mundo.