22 de fevereiro de 2022 - 14h59
(Crédito: MStudioImages/iStock)
2020 foi o pior ano da história do turismo. E não é só uma percepção – a própria OMT (Organização Mundial do Turismo) afirmou isso ao registrar um bilhão de turistas internacionais a menos do que no ano anterior -, tampouco estou querendo soar pessimista. Certamente o setor foi um dos mais impactados pela pandemia, mas entendo que a renovação que acontece hoje não se dá apenas por isso. Precisamos investigar mais a fundo o que nos trouxe até aqui e a para onde as tendências apontam.
Primeiro que para falar do sucesso do setor a métrica usada sempre foi o volume e a melhor promessa o preço baixo. Quanto mais gente viajando, mais lucro e mais atividade. Novas experiências e novas rotas surgiam ao tempo em que os recursos naturais pareciam ser ilimitados. Mas toda essa abundância parece ter chegado ao fim – ou pelo menos a um limite. Elizabeth Becker, autora do livro Overbooked: The Exploding Business of Travel and Tourism, afirma que as viagens como conhecemos – com fronteiras, destinos e vistos livres – não voltarão no curto ou mesmo no médio prazo. Mas, calma, vamos juntos fazer uma reflexão sobre o lado positivo disso tudo.
A questão agora é não cair nos velhos hábitos. Ao trocar soluções produzidas em massa por serviços mais intencionais, as empresas podem reiniciar o turismo da maneira certa. É preciso aproveitar o avanço da vacinação para vislumbrar um futuro que seja muito melhor do que era antes – mais verde, mais inteligente e, consequentemente, menos lotado. O estudo ‘Future of Viagens’, realizado pelo Backslash da TBWA\Worldwide, e traduzido pela iD\, aponta quatro oportunidades de crescimento. Vamos pensar sobre elas:
A grande redenção
A verdade é que o turismo já vinha pedindo socorro. Apesar de latente, o setor buscava um equilíbrio, uma transformação que passasse a considerar tanto o viajante, quando o lugar e seu povo. Imagina se os grandes pontos turísticos fossem projetados a partir do olhar dos habitantes locais, ao propor espaços e experiências que pudessem criar conexões culturais realmente genuínas? A tailandesa Local Alike cocria jornadas com as comunidades locais para gerar as experiências mais autênticas possíveis. A ideia é que os itinerários sejam cuidadosamente preparados exatamente para distribuir melhor os turistas (e seu dinheiro) de maneira mais justa.
Nessa linha, algumas outras soluções tendem a ser criadas e restrições responsáveis serão mais comuns. Não só em pandemias e epidemias, mas por políticas ambientais, por exemplo. Em março, a Unesco propôs fazer de Veneza uma “capital mundial da sustentabilidade”, desviando os turistas e incentivando a entrada de novos residentes. Os rastreadores de viagem também ajudarão a redefinir a categoria. Já pensou 100 pessoas olhando para a mesma tela de aeroporto ao mesmo tempo, porém vendo informações diferentes com base em seus detalhes pessoais? Nos EUA isso já é possível, graças a uma inteligência artificial de realidade paralela que vem sendo testada pela Delta. A ideia é antecipar necessidades e atendê-las antes mesmo que você pense sobre isso.
Vida sem âncoras
Os limites entre o escritório e o descanso se tornaram menos visíveis com o home office. A possibilidade de fazê-lo em qualquer lugar do mundo, também. Os hotéis e flats precisarão oferecer cada vez mais possibilidades mistas. As pessoas querem um escritório e uma piscina, tudo no mesmo combo e a qualquer momento – ah, e com a ajuda de um concierge que facilite a sua vida e sua estadia, de preferência. Sem burocracia no check-in, sem dificuldades para estender uma diária, com um planejamento completo de todo roteiro. Se você pudesse escolher, por exemplo, onde vai trabalhar amanhã ou na próxima semana sem dificuldades, isso te agradaria? A Blueground já oferece apartamentos prontos para morar por pequenos períodos em 15 cidades e três continentes pelo mundo. É só “chegar e viver”.
Há toda uma vida em constante movimento, independente do período de férias. As pesquisas no Google por “visto de nômade digital” aumentaram 350% no último ano. Por isso, a distância entre os serviços anteriormente oferecidos para “viagens de lazer” e “viagens de trabalho” parece não existir mais.
Viagem para dentro de si
As redes sociais – em especial o Instagram – fomentam destinos digitalmente atrativos. Mas há um novo nível de intenção surgindo, o de se perguntar o “porquê” quando estiver pensando sobre o “onde”. Viajar tem se tornado um refúgio em prol da saúde mental – e o turismo precisa oferecer soluções para esses motivadores. A ideia da Silo Wellness, por exemplo, é oferecer às pessoas um espaço seguro para grupos específicos – incluindo mulheres, casais e a comunidade LGBTQIA+ –, alcançarem sua auto realização em qualquer lugar do mundo.
Destino desconhecido
A busca por destinos inexplorados ganhou força nos últimos dois anos. No Google, são mais de 80 milhões de resultados ao procurar por “secret travel spots” (destinos turísticos secretos). Claro que algumas regalias ficam restritas apenas aos bilionários: até 2030, mais de US$ 555 milhões devem ser gastos para ir ao espaço por lazer, por exemplo. O estranho e o fantástico reposicionarão as viagens. Cerca de 78 mil turistas passaram pela Antártica entre a temporada 2020-2021, segundo uma matéria do New York Times.
Está mais claro agora como eu nunca quis soar pessimista com esse texto? Apesar de ter começado com os números assustadores de 2020, achei importante trazer uma reflexão para o mercado de como há espaço para crescer de maneira saudável e muito mais conectada aos novos valores, hábitos e necessidades pessoais.
O que desejo para o futuro das viagens é que, como empresas, a gente ofereça soluções inovadoras e mais responsáveis. Como consumidores, que a gente tenha mais consciência e possa se divertir mais esse ano. Como sociedade, que a gente seja mais sustentável! E você?
Sei que a discussão é longa, então proponho que a gente continue a conversar no LinkedIn. Que tal? Te encontro lá.