Como Fernando Meirelles redescobriu a paixão pelo ofício

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Como Fernando Meirelles redescobriu a paixão pelo ofício

Um dos mais renomados cineastas brasileiros pretende se dedicar apenas à direção e conta sobre The Sympathizer, nova produção da HBO da qual participou


17 de abril de 2023 - 6h00

Fernando Meirelles falou à plateia do Rio2C que pretende se dedicar apenas à direção de produções (Crédito: Divulgação/Rio2C)

Aos 66 anos, o diretor Fernando Meirelles, um dos cineastas brasileiros mais reconhecidos mundialmente, diz ter descoberto o prazer do ofício. Mais do que nos anos anteriores, agora o que lhe dá brilho nos olhos é filmar, dirigir atores e posicionar lentes. “Pode não ser o projeto dos meus sonhos, a grande mensagem que quero passar para o mundo. Mas só de fazer isso bem feito, já está bom. Estou nessa onda no momento.”

A confissão foi feita na tarde de sexta-feira, 14, no Rio2C, a uma plateia de profissionais do audiovisual – entre eles, muitos admiradores, que aplaudiam efusivamente as falas do diretor a respeito de seu momento atual de trabalho.

Com um currículo pontuado por obras como Cidade de Deus, Ensaio Sobre a Cegueira, O Jardineiro Fiel e Dois Papas, para ficar apenas no âmbito de cinema, Meirelles chegou ao ponto da carreira em que pode se dar ao luxo de ser apenas diretor.

A paixão pelo ofício, como ele classifica, foi redescoberta após a pandemia, e depois de ter um projeto, que sonhava em fazer, cancelado pela Netflix no início da Covid-19. Foi naquele momento que Meirelles voltou às atenções para a direção, um território com bem menos problemas, segundo ele. Em Sugar, série que dirigiu para a Apple TV, e que estreia em agosto, foi a primeira vez que ele diz ter se sentido aliviado ao se preocupar apenas com a direção, sem os percalços que, inevitavelmente, são de sua responsabilidade quando se está na produção executiva.

“Ainda estou com nove projetos em produção e que vou terminar, claro, mas depois deles, não quero mais. Minha meta é só dirigir. Me mandem roteiros, que vou lá e filmo. Estou nessa onda no momento”, assumiu o cineasta.

The Sympathizer

E foi por essa vontade de “só” dirigir que Meirelles aceitou o convite que seu amigo, o produtor canadense Niv Fichman, lhe fez em um almoço, nos Estados Unidos, justamente enquanto filmava Sugar: o de dirigir alguns episódios de uma nova minissérie da HBO, chamada The Sympathizer.

“Primeiro adquiri os direitos, preparamos o roteiro e peguei um avião até Los Angeles para convidar Fernando para a direção”, contou Fichman, que também participou do painel no Rio2C. Para estar no Rio de Janeiro, inclusive, o produtor canadense voou diretamente da Tailândia, onde acompanhava as filmagens da série.

Ambos já haviam trabalhado juntos em outros projetos, sendo o mais expoente o reconhecido Ensaio Sobre a Cegueira. Em comum, os dois haviam recebido um “não” do escritor José Saramago, autor do livro homônimo, quando, cada um em determinada oportunidade, tentou adquirir os direitos da obra para transformá-la em produto audiovisual.

Niv Fichman, que segundo o amigo Meirelles, não entende bem o significado de um “não”, insistiu, anos depois, com o escritor português e convidou o amigo brasileiro para a direção.

Essas e outras histórias de sucesso foram contadas por ambos em uma conversa que revelou a intimidade e cumplicidade entre os dois e o compartilhamento da mesma paixão em transformar boas histórias em obras do cinema.

O canadense disse, inclusive, que sua insistência em fazer projetos se tornarem realidade tem como base o fato de seu país natal ter uma indústria de produção pequena. Por isso, ele sempre procurou pensar grande e encontrou o que chama de fórmula perfeita para um projeto grandioso. “É preciso ter um livro ou uma fonte de história muito boa e encontrar o diretor certo. Com isso em mãos é mais fácil atrair grandes estrelas que queiram participar”, contou o canadense.

Em The Sympathizer, o astro que foi seduzido pelo projeto foi Robert Downey Jr. A direção principal ficou nas mãos do sul-coreano Park Chan-woo, que dirigiu o episódio piloto e fez a condução da série. Meirelles dirigiu três dos seis episódios.

“Sonhe menor”

No fim do painel, Meirelles, por conta própria, perguntou se as pessoas da plateia gostariam de fazer perguntas, algo que foge do protocolo dos painéis do Rio2C, que não permitem questionamento da audiência.

Entre elogios e questões sobre a forma como trabalha com atores, o diretor foi perguntado sobre os sonhos que ainda tem, em uma carreira já tão consagrada.

Como resposta, admitiu que nunca fez grandes projeções de onde queria chegar. “Não tenho apreço pela minha carreira, nome ou legado. Fui levado pela onda, nunca projetei muito. E hoje, aos 66 anos, estou em uma de viver o presente. Jamais pensei, na vida, que fosse fazer uma história de detetive em Los Angeles (Sugar). Quando vamos ficando velhos, pensamos mais no presente e menos no futuro”, confessou.

E sobre os jovens que estão iniciando no audiovisual, ou em alguma outra carreira, ele deu um conselho. “Se você percebe que está muito difícil conseguir realizar seu sonho, sonhe menor. Sonhe com o que é possível”, ensinou.

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