Em busca da contradição perfeita

13 de março de 2023 - 11h08

Após alguns dias de SXSW, você começa a achar que está numa sessão de terapia: me senti muito sozinho, muito conectado, muito esperto, muito burro, muito otimista, muito pessimista. É uma viagem por dentro e por fora.

O encontro de ideias e opiniões, muitas vezes conflitantes, não ocorre apenas nos palcos, mas também nos bares, nos happy hours, até nos lambe-lambes colados por todo lado. E esse fluxo de pensamentos foi também o que incentivou a evolução das cidades na história. Não apenas um local para trocar coisas, para comércio, mas também para o surgimento da democracia, da filosofia e da visão do ser humano moderno.

Em 24h de SXSW, confrontei meu paradigma de café da manhã comendo tacos com carne moída e pimenta logo cedo. Antes do almoço, já tinha ouvido um dos meus autores favoritos, Douglas Rushkoff, atacando IAs, bilionários e big techs, antagonizando o mood tecno-otimista do evento. No almoço, uma discussão polêmica com amigos: KPIs sempre ajudam empresas, ou também atrapalham? À tarde, o Kevin Kelly vem me garantir que IA não vai tirar meu emprego. No final do dia, a genial CEO de uma agência brasileira joga o machismo/feminismo de Freud, totems e tabus na roda de conversa no happy hour.

E no fim do dia, como sobreviver ao fluxo de pensamentos na hora de escovar os dentes?

Fomos treinados pela escola e pelo mercado a fazer decisões rápidas, fechar negócios, be quick or be dead! Mas Austin, com sua efervescência, com a mistura de Vietnã, deserto, nativo-americanos e caubóis, me lembrou Byung Chul Han, pedindo para buscarmos outro tempo em “Favor Fechar os Olhos”. Precisamos relembrar e valorizar a contemplação. Ser uma pessoa focada na ação é ser uma pessoa que não contempla, não considera as ideias que estão passando à sua frente. Precisamos ser zen, como um rio, e deixar as ideias passaram sem julgamento, sem filtro. Ommmm.

“Inteligência de verdade é ser capaz de manter duas ideias contraditórias simultaneamente na cabeça”, obrigado F. Scott Fitzgerald.

Voltando para São Paulo, minha memória mais poderosa do SXSW não vai ser uma frase de efeito ou um slide bonito. Nem mesmo as previsões da Amy Webb ou as risadas com a Jen Psaki e Chelsea Handler. Vai ser lembrar que posso assumir meu tesão de saber que quase sempre não temos certeza de quase nada.