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SXSW

“Nada sobre nós, sem nós”: por dentro da acessibilidade da Apple

Ativista do direito das pessoas com deficiência, Lucy Edwards, conversa com Sarah Herrlinger, diretora sênior de políticas e iniciativas globais de acessibilidade da Apple, sobre as iniciativas da empresa neste campo


9 de março de 2024 - 19h22

Nota atualizada em 13/03 às 14h32*

“É primeira vez que temos uma apresentação de destaque sobre acessibilidade no South by Soutwest”, declarou Hugh Forrest, chief programming officer do SXSW, que começou em 1987 como um festival de música.

Forrest estava se referindo à featured session “Sarah Herrlinger sobre acessibilidade na Apple”, que aconteceu na manhã deste sábado, 9, no Ballroom A do Austin Convention Center.

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Lucy Edwards conversa com Sarah Herrlinger sobre os recursos de acessibilidade da Apple (Crédito: Amanda Schnaider)

Essa fala do executivo já é um indicativo de como a acessibilidade foi, quase sempre, deixada de lado quando o assunto é inclusão. Por muito tempo, a conversa sobre diversidade e inclusão esteve presente em cima de pautas raciais e de gênero. Porém, essa realidade parece estar caminhando para uma mudança, ao menos dentro do festival.

Antes de começar seu papo com Sarah Herrlinger, diretora sênior de políticas e iniciativas globais de acessibilidade da Apple, sobre os novos recursos e tecnologias da big tech neste sentido, a radialista, jornalista, criadora de conteúdo, palestrante e ativista pelo direito das pessoas com deficiência Lucy Edwards fez uma breve descrição de sua aparência — e pediu para Sarah fazer o mesmo, pensando nas pessoas cegas na plateia, assim como em si mesma.

Lucy perdeu completamente a visão aos 17 anos de idade, devido a uma doença genética rara chamada Incontinentia pigmenti. Por meio dos conteúdos que produz e causas que defende, Lucy se tornou uma importante voz quando o assunto é diversidade, equidade e inclusão.

A ativista enfatizou a importância da tecnologia para que a sua vida ficasse melhor depois da sua perda total de visão. Coisas simples do dia a dia, como mandar mensagens para seus amigos, poderiam continuar sendo feitas graças a algumas funcionalidades, como transformar a sua voz em palavras.

Porém, desde que Lucy perdeu a visão, há 11 anos, muita coisa tem sido feita neste sentido. A acessibilidade dentro da tecnologia vem avançando muito. Dentro da Apple, muito desse avanço foi conquistado durante a gestão e liderança de Sarah.

Esse avanço, inclusive, vem ganhando espaço na comunicação da marca. No início deste ano, a campanha “The Greatest”, da companhia, que aborda o tema da acessibilidade, conquistou o Emmy Awards, na categoria Outstanding Commercial.

Criada pela operação in-house da Apple e dirigida por Kim Gehring, da produtora Somesuch, a peça também foi premiada pela indústria publicitária no ano passado, tendo ganhado, entre outros prêmios, um Grand Prix em Entertainment Lions for Music no Cannes Lions.

Tecnologia para todos

A executiva, no entanto, salientou que a companhia já trabalha com acessibilidade há tempos. Com 21 anos de experiência na Apple, Sarah revelou que o primeiro escritório de deficiência da empresa foi criado em 1985, cinco anos antes da Lei dos Americanos com Deficiência ser aprovada. “As pessoas aqui [funcionários da Apple] sempre acreditaram que você faz a melhor tecnologia quando faz para todos”.

Desconsiderar a população com deficiência é desconsiderar uma grande parte da população mundial. Isso porque, atualmente 20% da população do mundo tem alguma deficiência, de acordo com a diretora.

Além disso, Sarah pontuou que o envelhecimento da população também pode aumentar esse percentual. “Com todas essas coisas juntas, há muitas maneiras pelas quais faz sentido pensar em acessibilidade e para tornar seus produtos acessíveis a todos”, frisa.

Compreender toda a complexidade que envolve a questão da acessibilidade de pessoas com deficiência também é um dos trabalhos desta área Apple. Para a companhia, acessibilidade é sobre personalização, ou seja, é pensar na condição específica de cada ser humano, justamente porque de uma pessoa com baixa visão até uma pessoa completamente cega há um longo caminho.

“Uma de nossas grandes filosofias é encontrar nossos usuários onde eles não estão esperando que eles sejam capazes de usar a tecnologia apenas de uma maneira específica”, complementou a executiva.

Para conseguir atingir essa personalização necessária, Sarah salientou a importância de ter essas pessoas com deficiência dentro do processo de desenvolvimento desses novos recursos, ou seja, dentro do próprio quadro de funcionários da Apple. “Profundamente enraizado em nossa cultura está o mantra da deficiência ‘Nada sobre nós, sem nós’”.

Além disso, a empresa também considera muito o feedback dos consumidores. Sarah comentou que a Apple tem um canal de relacionamento com o cliente com deficiência há mais de 20 anos, onde recebe toneladas e-mails com feedbacks dos consumidores todos os dias. “É um constante de ciclo de feedback para nos certificarmos de que tudo o que estamos fazendo não é construir para uma comunidade, mas construir com a comunidade”.

Neste caso, Sarah afirma, inclusive, que pessoas sem nenhuma deficiência também podem usar dos recursos de acessibilidade da Apple para aumentar a produtividade de algumas tarefas do seu dia a dia.

Novos recursos de acessibilidade da Apple

Durante a conversa Sarah revelou os mais recentes lançamentos da área de acessibilidade da Apple. O mais recente deles é a transcrição de podcasts no aplicativo de podcasts da companhia.

Localizadas no canto inferior esquerdo da tela “reproduzindo”, as transcrições ficam disponíveis para podcasts em alemão, espanhol, francês e inglês em iPhones e iPads com iOS 17.4. A Apple desmobilizará as transcrições automaticamente para novos episódios pouco tempo após sua publicação, enquanto episódios que já foram lançados serão transcritos ao longo do tempo.

“Analisamos muito como nossos clientes usam nossos livros para ler livros, bem como eles estão usando letras no Apple Music, e incorporamos ao aplicativo de podcast um novo botão de transcrições”.

Sarah também trouxe para a conversa uma série de novidades em acessibilidade cognitiva lançada pela Apple em 2023, além dos recursos Live Speech, Personal Voice e Point and Speak na Lupa.

Um desses recursos foi o Live Speech. “Ele permitir que você seja capaz de digitar o que você quer dizer na tela do seu dispositivo, seja um iPad, um iPhone ou um Mac, e ter isso falado para você”, explicou Sarah.

A diretora também mostrou o Personal Voice, recurso voltado para pessoas com o risco de perder a fala, devido a doenças degenerativas, como esclerose lateral amiotrófica (ELA), que cria uma voz artificial semelhante à da própria pessoa para permitir que ela se comunique com família e amigos. A companhia inclusive criou a campanha “The Lost Voice”, dirigida pelo cineasta e ator vencedor do Oscar Taika Waititi, para mostrar as funcionalidades desses dois recursos. Veja abaixo:

Para usuários com deficiência visual, a Apple criou a opção Modo de Detecção na Lupa oferece o novo recurso Point and Speak, que identifica textos apontados por pessoas e os lê em voz alta. Esse recurso pode ajudar essas pessoas a interagirem com objetos físicos como eletrodomésticos.

Outro recurso lançado pela empresa no ano passado foi o Assistive Access, um recurso que permite que pessoas com deficiência cognitiva naveguem com mais facilidade e autonomia pelo iPhone e iPad, devido a um redesign dos aplicativos mais utilizados pelas pessoas: Mensagens, Câmera, Fotos e Música, Telefone e FaceTime, que agora estão juntos em um único app chamado Calls. “Para algumas pessoas, a tecnologia é muito complexa, então simplificá-la possibilita que mais pessoas possam usá-la”.

Apple Vision Pro

Ao final da conversa com Lucy, Sarah também comentou sobre como o Apple Vision Pro, óculos de realidade mista lançado pela companhia no início deste ano, é o catalisador dos 40 anos de trabalho que Apple tem feito em torno da acessibilidade.

“Dezenas de recursos de acessibilidade que as pessoas já conhecem e adoram em nossos outros produtos nós portamos para o Vision Pro e os reimaginamos para suportar essa nova plataforma de computação espacial”, ressaltou a diretora.

Sarah ainda enfatizou a importância do avanço da inteligência artificial para o campo da acessibilidade na empresa. “Estamos tirando o melhor da IA e usando isso por anos para criar esses recursos fantásticos”.

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