O futuro será de quem souber fazer as perguntas certas e ficar conectado com as pessoas que ama
Nenhuma tecnologia sobrepõe o ser humano. Nossa felicidade não está nos hardwares e softwares. Está em nossas relações.
Nenhuma tecnologia sobrepõe o ser humano. Nossa felicidade não está nos hardwares e softwares. Está em nossas relações.
17 de março de 2023 - 18h54
O tom do SXSW 2023, maior festival de inovação do mundo, já foi definido logo na palestra de abertura com um depoimento transparente, humano e muito emocionante de Sirman Jeet Singh. O ativista e educador, que sentiu na alma episódios de racismo e intolerância religiosa, trouxe a seguinte reflexão: Qual a sua perspectiva de mundo? O ponto de Singh é que temos escolhas de como vemos o mundo.
Podemos viver com medo constante, frustação e conflitos ou podemos ver com beleza e equilíbrio, passando a notar as coisas boas que nos cercam todos os dias. Ele acredita que, em essência, todas as pessoas são boas, pois quando achamos que as pessoas são terríveis, não há mais esperança para o mundo. O amor é o fundamento de toda justiça.
Ver o mundo acompanhado é sempre melhor do que sozinho. Essa foi a máxima que Josh D’Amaro, CEO da Disney, trouxe para Austin. Quando as pessoas se divertem juntas, cria-se uma profunda conexão entre elas. Se isso for feito de maneira presencial e em momentos de lazer, a conexão ganha proporções épicas. Claro que ele estava vendendo seu peixe, mas a verdade é que a Disney tem tudo isso medido, provado — é o marketing de experiência cada vez mais efetivo e promissor.
Outra mensagem deixada por D’Amaro é que criar conexões à perfeição exige paciência e muita dedicação. Exemplo prático: o modelo do saibro de luz de Star Wars teve mais de 100 protótipos até a versão final. Óbvio que ele contou essa história com um saibro em mãos. Não teve ninguém na plateia que não ficou com vontade de ter um, inclusive eu. E olha que eu nem sou fã de Star Wars.
Quase tão famoso quanto o Mickey Mouse, Greg Brockman, CEO da OpenAi, foi a estrela do SXSW deste ano. Ele é o criador do ChatGPT, algoritmo de inteligência artificial que vem inspirando negócios e tirando o sono de muitos profissionais. Brockman explicou que o momento em que ele viu que a tecnologia realmente iria funcionar foi quando ele e sua equipe conseguiram mapear os sentimentos nos conteúdos digitais. Sem isso, os dados seriam apenas dados frios.
O que faz o ChatGPT ter uma qualidade tão alta de entrega é que ele consegue não só reconhecer sentimentos, mas também manipula o tom adequadamente. Outra constatação de Brockman é que o maior erro das ferramentas que conhecemos até o momento é não conhecer o ser humano.
O grande show do evento, sem dúvida, foi de Amy Web. A professora da NYU e presidente do Future Today Institute fez uma apresentação contagiante (como sempre), com uma informação central: o futuro será de quem souber fazer as perguntas certas e não de quem tem as respostas. A ideia transmitida por Amy é que as respostas estarão à disposição de todos, mas que saber extraí-las será o grande diferencial. A tendência de 2023, na sua visão, é foco, saber ver o que se tem e achar as melhores respostas.
A virada da racionalidade para a emoção foi feita pelo chef José Andrés, que tocou a todos com o seu brilhante trabalho na World Central Kitchen, que leva comida para regiões vulneráveis atingidas por guerras, desastres naturais ou conflitos políticos. “As pessoas não querem que você sinta pena delas. Elas querem o seu respeito”, disse Andrés, com o pedido de construirmos mesas maiores e muros menores.
Tratando também das relações humanas, a psicoterapeuta Esther Perel fez uma provocação de como a tecnologia afeta as verdadeiras relações. Por melhor que for a tecnologia, a versão virtual de uma pessoa não superará a pessoa em si. A virtual pode estar disponível 24/7 e responder tudo que você perguntar. Mas ela não levará em consideração suas novas experiências e sentimentos que mudam a cada dia. Estamos em constante mudança e isso é a maravilha do ser humano real. A frase que me marcou desta palestra foi: “Toda escolha carrega o luto do que não foi escolhido”. Só aí temos material para reflexão de dias. Esther também apresentou uma intrigante equação: Atração + obstáculo = Desejo.
Já que estamos falando tanto dos seres humanos neste SXSW fui ver a palestra “Se prepare para viver até os 100 anos”. Boa alimentação, atividades físicas e renda para viver com conforto são a base de qualquer pirâmide da longevidade, mas o grande ponto é como viver muito e feliz. A resposta é conectividade. O que traz felicidade são as pessoas que nos cercam. As relações que estabelecemos e mantemos ao longo da vida. Sabemos que manter relações exige dedicação, paciência e resiliência, mas pelo jeito vale muito a pena.
O que todos estes conteúdos têm em comum? Nenhuma tecnologia sobrepõe o ser humano. Nossa felicidade não está nos hardwares e softwares. Está em nossas relações. Somos nós que fazemos as escolhas de como queremos viver. Se dará melhor quem escolher ver o que há de bom no outro e saber fazer as perguntas certas. As respostas estão para todos, a escolha é sempre sua.
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