O papel da humanidade na era da AI
Milhares de painéis debatendo o impacto da AI na produtividade e no futuro do trabalho, bem como suas implicações no design, na arte, na computação quântica, na solidão humana, e por aí vai
Milhares de painéis debatendo o impacto da AI na produtividade e no futuro do trabalho, bem como suas implicações no design, na arte, na computação quântica, na solidão humana, e por aí vai
12 de março de 2024 - 13h51
Como fã de ficções científicas, a exemplo de Duna, onde uma inteligência artificial se rebela contra a humanidade e é banida, o tema da AI naturalmente me atrai como um imã. Muita gente me falou que todo o hype sobre Inteligência Artificial dominou a SXSW no ano passado, mas senti que neste ano ele volta com a mesma intensidade. Milhares de painéis debatendo o impacto da AI na produtividade e no futuro do trabalho, bem como suas implicações no design, na arte, na computação quântica, na solidão humana, e por aí vai.
Sendo assim, uma das palestras que eu mais ansiava por ver no SXSW era com Peter Deng, um dos vice-presidentes da Open AI e diretamente responsável pelo Chat GPT. O título da conversa chamou minha atenção, pois ele tinha um aspecto mais amplo e filosófico ao falar sobre a co-evolução da humanidade junto da inteligência artificial. O genial mediador da conversa, o jornalista Josh Constine, começa invertendo uma pergunta clássica e dizendo: afinal, qual é o papel da humanidade na era da AI? No fim das contas, a criação é nossa, a responsabilidade é nossa, logo essa pergunta deveria estar sendo feita com mais frequência: temos que saber o que nós queremos fazer com a AI. Deng responde que parte do nosso papel é nos tornarmos mais profundamente humanos, pois a AI permite que nós tenhamos mais tempo para focar em questões existenciais e de alto nível. Ele enfatiza o papel da AI como uma ferramenta que amplia a nossa capacidade de aprendizado e autoconhecimento, além de despertar em nós uma característica inerente das crianças, que é uma curiosidade inata e um ímpeto questionador.
A conversa segue com Deng destacando o papel do Chat GPT como um assistente incansável e de conhecimento quase infinito para os humanos, um professor que está sempre à disposição para quando precisarmos. Ele diz que vê a ferramenta como um teletransportador, mas que precisa da mente e da percepção humana para saber para onde ir.
Um ponto que me pareceu idealista demais, ou até ingênuo, foi a afirmação de que a AI nos daria mais “tempo livre”. Dentro da mentalidade capitalista, é natural que qualquer tempo de sobra que os trabalhadores terão futuramente devido aos avanços em AI seja preenchido com outras demandas de produtividade para acumulação de capital, e não que a AI nos dará um final de semana de três dias.
Trazendo questionamentos muito pertinentes, o mediador fala sobre o americano-centrismo da Open AI e o fato de que o Chat GPT naturalmente terá visões e valores estadunidenses. Deng rebateu dizendo que, como pessoas do mundo inteiro utilizam a ferramenta, ela está sendo treinada para, de certa forma, conter um mix de todas essas perspectivas. Na minha opinião, se a civilização ocidental fez Jesus Cristo à sua imagem, é bem evidente que os estadunidenses estão fazendo uma inteligência artificial à sua imagem. Essa palestra foi um dos maiores exemplos sobre a diferença que faz um brilhante e excelente mediador: Constine tocou em feridas abertas da Open AI sem medo.
Em outro momento, Constine trouxe o debate sobre se o desenvolvimento da inteligência artificial deveria ser acelerado ou se ele deveria ser desacelerado, nos dando tempo de desenvolver salvaguardas, tanto tecnológicas quanto jurídicas, e de juntos amadurecermos conceitos que podem nos proteger de futuras ameaças de uma AI “desgovernada”. Para Deng, claramente, a via acelerada é o caminho; ele fala que salvaguardas estão sendo desenvolvidas no processo, mas não cita nenhuma e não se aprofunda nesse tema.
Deng tem uma visão mais positiva sobre a AI do que a da futurista Amy Webb, que também falou sobre o assunto em seu painel aqui no SXSW. Enquanto Amy parte para um caminho muito mais questionador e um pouco sombrio sobre nosso futuro com a AI, tocando bastante no acúmulo de poder sem precedentes que terão os donos das big techs à frente dessa nova revolução tecnológica, Deng tem uma visão mais idealista e termina a palestra nos incentivando a abraçar a AI com uma mente aberta e curiosa.
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