O que falta para o Brasil é abraçar o não óbvio?
Provocações a partir do painel de Rohit Bhargava no SXSW 2024
Provocações a partir do painel de Rohit Bhargava no SXSW 2024
19 de março de 2024 - 16h07
Nesta edição do SXSW, Rohit Bhargava, trouxe conceitos no seu novo livro da série “Pensamento não óbvio”. Reconhecido por ensinar dezenas de milhares de profissionais a serem pensadores não óbvios que antecipam o futuro, o seu painel reforçou em mim uma pergunta: por que o Brasil ainda resiste ao não óbvio?
Nosso país é referência mundial em economia criativa, mas quando separamos estas palavras, a “economia” segue concentrada em uma determinada região do país e perfil de pessoas enquanto “criativa” representa todos os demais que impulsionam e geram o subsídio criativo brasileiro. E se a olharmos genuinamente para este mercado tão diverso e tão potente, como poderíamos estar hoje? Onde o “criativo” pode nos levar?
No seu painel, Rohit destacou que pessoas que entendem pessoas sempre vencem. Para longe da lógica combativa de vitória e derrota, existe uma força escondida nessa afirmação. É essencial entender pessoas. E me arrisco a dizer que todos já ouviram frases do tipo: Qual é a ocasião de consumo? Qual é a faixa etária? Qual público? E acreditamos que essas perguntas são sobre pessoas, quando de fato são perguntas sobre mercado.
Rohit, no entanto, traz alguns caminhos que podemos usar para não cairmos nas falácias de consumo e realmente desenvolvermos um pensamento não óbvio que de fato promova entender pessoas, o painelista diz que é preciso: mudar o foco, mudar a perspectiva e buscar histórias não familiares.
Meio óbvio, né? E ainda assim, porque resistimos?
A Patrícia Carneiro, estrategista inquieta, me trouxe a provocação que a White Rabbit levantou no SXSW: qual é a sua visão do Brazilverse? Entendo que o “Brazil” ainda resiste em conhecer o Brasil. Na medida em que o mundo digital só reforça bolhas, falta muito conhecimento sobre a brasilidade real. A brasilidade dentro e fora das tendências que se apresenta nas mais diversas geografias brasileiras. O Brazilverse pra mim é uma construção coletiva do agora.
No entanto, nos mantemos na superfície do que acreditamos ser o Brasil e construímos times sem diversidade, times sem lideranças diversas com poder e autonomia e promovemos ações fora do eixo Sudeste navegando em espumas e tendências sem profundidade. É preciso escuta e investimento para mudar essa realidade.
Os agentes não óbvios sempre têm como base movimentos coletivos. Dificilmente observamos algo individualizado. Os movimentos servem e catapultam toda uma comunidade, gerando impactos robustos e duradouros.
O Brasil é uma efervescência de talentos e inovação. Não é superlativo acreditar nisso, mas é necessário entender que essa efervescência não está concentrada na Avenida Faria Lima. A Faria Lima, entretanto, abriga muitas das vezes quem tem o poder de mudar, de criar e investir em plataformas que têm a capacidade de potencializar o país como um todo.
No SXSW muitas pessoas vêm e voltam para fazer exatamente as coisas como as fazem hoje. E nada muda. A mudança acontece quando quebramos as barreiras físicas, mentais dos Farias Limers do mundo, colocamos nosso olhar não óbvio em lugares inusitados e abraçamos o Brasil onde o futuro já existe.
Compartilhe
Veja também
SXSW confirma Arvind Krishna, CEO da IBM, como primeiro keynote
Além do executivo da big tech, festival confirma nomes já veteranos da programação, como Amy Gallo e Rohit Bhargva
SXSW 2025 anuncia mais de 450 sessões
Pertencimento e conexão humana estão entre os principais temas da programação do evento, que conta com 23 trilhas de conteúdo