Paola Carosella: “as marcas inteligentes não querem mais influenciadores sem opinião”
A apresentadora estreia novo programa no GNT “Alma de Cozinheira” e se prepara para ocupar cada vez mais espaços longe do fogão
Paola Carosella: “as marcas inteligentes não querem mais influenciadores sem opinião”
BuscarA apresentadora estreia novo programa no GNT “Alma de Cozinheira” e se prepara para ocupar cada vez mais espaços longe do fogão
Marina Vergueiro e Marina Vergueiro
4 de maio de 2023 - 12h09
Quando estreou na TV em 2014, Paola Carosella sentiu culpa e insegurança por abandonar a cozinha de seu restaurante Arturito. Hoje, aos 50 anos, consolida-se como apresentadora e estreia no GNT um programa de bate-papo em que prepara um jantar especial com um cardápio exclusivo – incluindo aperitivo, prato principal e sobremesa. “Não é uma entrevista, é um jantar, no qual às vezes as pessoas conversam entre si e não precisam da minha interrupção”, conta. Foi assim quando recebeu a jornalista Sônia Bridi e o Padre Júlio Lancelotti, dois personagens que a enchem de admiração. Embora a conversa tenha rolado solta, o assunto não era dos mais fáceis. “A gente falou de faltas, de carências, falta de comida, de fome, tudo isso enquanto comíamos, portanto era muito importante encontrar a forma de falar disso, porque eu acho que uma parte do meu ativismo (que eu não considero ativismo) é a defesa do direito de comer, do prazer, do poder cozinhar.”
Paola não se conecta com o rótulo de ativista que a internet e a imprensa lhe concederam ao longo de sua carreira televisiva, considera-se mais uma defensora de direitos básicos dos seres humanos, como um prato de comida gostosa e não algo “cinzento ou marrom que se dá para que alguém não passe fome”. Mas, é inevitável pensar em política e não se lembrar do posicionamento ferrenho nas mídias sociais durante o período eleitoral em 2022, quando votou pela primeira vez em terras tupiniquins após ter-se naturalizado brasileira. “Chorei pra caramba”, relembra.
Embora eventualmente se envolva em polêmicas na internet que a fazem ser idolatrada por um lado da bolha e massacrada pelo outro, os negócios sempre permaneceram intactos. “Nunca parei de trabalhar por causa disso. As marcas inteligentes não querem mais influenciadores sem opinião. Eu acho que as marcas que poderiam não me querer pelo meu posicionamento são as mesmas que eu não quero. Então, está tudo certo.”
Infância no interior de Buenos Aires
Embora sinta muito receio de ser má interpretada em suas postagens, a apresentadora não tem medo de se posicionar e ser uma pessoa política, algo que aprendeu desde a infância ao lado de sua mãe, que a criou sozinha enquanto estudava direito com a intenção de ajudar trabalhadores a terem condições mais dignas de trabalho. Lembra-se com muito carinho do dia em que sua mãe votou pela primeira vez, após a queda da Ditadura Militar na Argentina. “Eu tinha 11 anos, ela se agachou na minha frente, segurou na minha mão, chorou e falou da importância da democracia”.
Filha única de mãe solo em uma família de italianos, Paola cresceu no interior de Buenos Aires com acesso a um quintal em que corriam soltos coelhos, galinhas, cabras e outros animais em meio a pés de tomate, figo, uva e muitas ervas. Quando criança, acompanhava o processo de produção caseira de queijo, vinho e azeite de seus avós, que eram camponeses na Itália e imigraram para a Argentina após a Segunda Guerra Mundial, trazendo seus conhecimentos ancestrais para a nova terra. “Isso me encantou. E aí quando foi a hora de escolher o que eu ia fazer, escolhi cozinhar”, conta.
Viver para trabalhar ou trabalhar para viver
Por mais exaustivas que fossem as jornadas de trabalho na cozinha de seu restaurante, Paola nunca deixou de acrescentar o ingrediente amor e cita bell hooks e seu livro “Tudo sobre o amor”. “A bell fala que nem sempre a gente tem a possibilidade de amar o que faz, mas que a gente pode encontrar uma forma de amar como faz aquilo e fazê-lo de uma maneira que nos dê orgulho. Eu trabalho com cozinha há 32 anos e nesse tempo meu amor pela cozinha teve seus momentos e seus filtros de olhar também. Nem sempre eu olhei da mesma maneira. Mas eu gosto muito de trabalhar. É o lugar onde eu me sinto muito à vontade”.
Apesar de workaholic, como se define, Paola está definitivamente empenhada em sentir-se confortável em momentos de lazer ao lado da filha e do namorado. Afastar-se da cozinha a possibilitou deixar de lado as mais de 15 horas de trabalho diárias no restaurante e ter tempo para brincar de jogos de tabuleiro, ler um bom livro e escutar uma de suas ecléticas playlists, que tocam de Radiohead a Mercedes Sosa, passando por Maria Bethânia e Strokes. Na telinha, costuma assistir os seriados que a filha gosta, como Stranger Things e Heartstopper. Enfatiza que atualmente pode se dar o prazer de estar em casa numa sexta-feira às 19h e planejar o fim de semana enquanto degusta uma taça de vinho. “Antes, era encarar o final de semana, que eram os dias mais fortes de trabalho. Então, por mais que eu trabalhe muito agora, estou trabalhando bem menos do que eu já trabalhei. Tenho pausas, que antes eu não tinha”, conta entusiasmada. ”Os finais de semana são meus agora. São sagrados.”
Mesmo distante da cozinha, Paola está 100% presente nas tomadas de decisão de seus empreendimentos gastronômicos. “Eu faço os pratos, crio as receitas, ensino, faço o cardápio, organizo a divulgação, as fotos, a produção das fotos, para onde a gente vai, o quê queremos fazer, quais são as propostas de comida”.
Do fogão para a TV
A mudança de carreira para a TV não foi uma decisão fácil. Paola teve muita ansiedade e pensava que não fazia nada direito, nem comida nem TV. “Sentia que não estava nem em um lugar nem em outro, achando que eu era insubstituível. Mas ninguém é e isso é maravilho. É uma libertação saber que você é completamente substituível e é só encontrar o seu espaço novo”. Foi assim que ela se transformou na “Paola do Masterchef”, como costuma ser reconhecida nas ruas. A transição profissional de chef de cozinha para apresentadora foi lenta, relembra. “Não acho que seja de um dia para o outro você transicionar entre uma forma de trabalhar e outra. A TV ainda é um lugar inseguro para mim e essas inseguranças vão se transformando em conquistas e acho que preenchem os ciclos da vida melhor. Você sente que vai avançando”, reflete.
Antes mesmo de encarar o desafio da TV já sabia que não queria estar com a “barriga encostada no fogão” as 24 horas do dia, por isso se aventurou inaugurando o La Guapa em 2013, uma rede de cafés que comercializa empanadas latino-americanas, misturando diversas receitas do continente. “Eu já tinha uma filha, já tinha cozinhado muitos anos da minha vida e queria ocupar outros espaços que nem eu sabia muito bem quais eram”. O empreendimento veio justamente para que Paola pudesse faturar sem estar presente 100% do tempo.
Logo em seguida, veio o convite para o Masterchef. “Eu adoro fazer TV e quero aprender mais. Gostaria de crescer e de conquistar novos espaços, aprender a ser melhor e mais solta na frente das câmeras, não necessariamente cozinhando”, afirma.
Felicidade 50+
Sobre a idade, Paola não se intimida. “Acho que sou muito afortunada de estar fazendo 50 anos no momento em que tem muitas mulheres incríveis falando sobre isso e de diferentes maneiras. Tenho inspirações e mulheres nas quais eu posso me espelhar. Éramos absolutamente descartadas, mas agora a sociedade está olhando pra gente como mulheres que vendem, que contam, que importam, que consomem, que criam, que constroem”.
Paola sente-se muito mais jovem do que sua idade mostra e surpreende-se quando se lembra que já tem 50 anos. “Me parece um número muito grande para como eu me sinto, sabe? Não é possível. É muito! Mas é o que é”, pondera. “Eu quero encontrar uma forma muito graciosa, feminina e bonita de ir ficando mais velha. Não fazendo plásticas, sabe? Não esticando o meu rosto, não negligenciando o passo do tempo, mas talvez descobrindo a forma de fazer isso com muita saúde, com muita conexão com o momento e com muita aceitação”.
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