Assinar

São Paulo não é a capital da crise climática

Buscar
Publicidade
Opinião

São Paulo não é a capital da crise climática

Todos habitamos o mesmo planeta e enfrentamos a mesma crise, mas as condições para superá-la variam significativamente entre nós


26 de setembro de 2024 - 16h22

(Crédito: Shutterstock)

Há 10 anos, frequentemente deixo São Paulo para atuar em diversas regiões da Amazônia. Durante esse tempo, testemunhei a crise climática se intensificar de maneira devastadora. Recentemente, ver as campanhas que chamam São Paulo de capital da crise climática — uma cidade que amo e onde resido — enquanto ignoram territórios como a Amazônia e o Pantanal me incomodou profundamente.

O que acontece é que agora o fogo está atingindo áreas de grande valor econômico. Plantações de cana-de-açúcar, milho, café e lavouras de soja começaram a ser afetadas, o que mexe no bolso de muitos. Não podemos ser ingênuos: o caos que estamos vivendo não se deve ao manejo tradicional do fogo. O Brasil tem quase 5 milhões de quilômetros quadrados sob risco de incêndios, o que equivale a cerca de 60% do território nacional.

Como afirmou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva: “Essa seca está acontecendo em vários lugares do mundo, na Bolívia, no Peru, no Paraguai e em outras partes. A diferença é que, aqui no Brasil, há uma aliança criminosa de um tipo de terrorismo climático, onde as pessoas usam a mudança do clima para agravar ainda mais o problema.”

Temos uma escolha a fazer. Precisamos promover justiça climática e proteger as populações indígenas e quilombolas, as mais vulneráveis. Todos habitamos o mesmo planeta e enfrentamos a mesma crise, mas as condições para superá-la variam significativamente entre nós.

São Paulo não é a capital da crise climática. Embora seja o centro econômico do país, muito mais está acontecendo em outras regiões do Brasil. Entendo que, quando tragédias ocorrem em grandes centros urbanos, como no Sul do país, há mobilização nacional e o governo age rapidamente. Mas será que precisamos esperar que a crise atinja níveis ainda mais extremos todos os anos para ver uma resposta adequada?

Aqui em São Paulo, muitos de nós já enfrentamos problemas respiratórios por causa da poluição. Mas os povos da Amazônia sofrem com essa realidade há muito mais tempo. Não se trata de uma competição para ver quem sofre mais, mas de garantir que a justiça climática seja promovida para todos.

Eu sei que é desanimador. A realidade da crise climática é dura, cansativa e dolorosa. Ainda assim, mantenho minha esperança nas pessoas. Como já disse antes, se somos parte do problema, também podemos ser parte da solução. A mudança começa com nossos comportamentos, e precisamos estar atentos, especialmente nas eleições municipais, para escolher lideranças que lutem contra a crise climática e adaptem nossas cidades à nova realidade.

Se não interrompermos o desmatamento e não restaurarmos biomas como a Amazônia, a Mata Atlântica, o Cerrado e a Caatinga, nosso futuro será cada vez mais quente e desafiador. Este é o ano mais fresco do resto das nossas vidas, a menos que comecemos a agir seriamente em prol da restauração e regeneração de nossos ecossistemas.

Escrevo este desabafo de Nova York, onde participo da Climate Week. Meu objetivo aqui é chamar a atenção daqueles que têm poder, no Brasil e no mundo, para que olhem para nós. Sou, normalmente, uma pessoa positiva, mas hoje a minha mensagem é clara: precisamos fazer escolhas melhores para que tudo possa, de fato, melhorar. Se São Paulo é o centro de algo, é da causa da crise climática no Brasil. O crescimento desequilibrado que emana da cidade é em si sufocante. Em 2023, vimos o dia virar noite em São Paulo por conta da fumaça que vinha da Amazônia, assim como em Nova York, causado pelos incêndios no Canadá e da Califórnia. Não há novidades nos fatos, mas precisa haver nas respostas

Individualmente, temos que cuidar da nossa saúde. Hidrate-se, pratique atividades leves, use umidificadores ou soluções caseiras, como uma toalha molhada ao lado da cama. Esta noite, por exemplo, molhei uma toalha, coloquei-a no congelador por um tempo, e assim consegui dormir melhor.

Coletivamente, precisamos votar de forma consciente. As eleições estão chegando. Além disso, devemos consumir de quem tem responsabilidade ambiental e ser cuidadosos com o que compartilhamos nas redes sociais. As fake news se espalham como fogo e causam danos igualmente graves. É crucial que nós, em São Paulo, sejamos o centro da responsabilidade.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Como as mulheres estão moldando o mercado dos games 

    Como as mulheres estão moldando o mercado dos games 

    Lideranças femininas de diferentes players falam sobre suas trajetórias profissionais na indústria

  • Como Rita Lobo fez do Panelinha um negócio multiplataforma

    Como Rita Lobo fez do Panelinha um negócio multiplataforma

    Prestes a completar 25 anos à frente do projeto e com nova ação no TikTok, a chef, autora e empresária revela os desafios de levar comida de verdade dos livros de receitas para outros espaços