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Opinião

Nós, vós, elas e elas

Minha proposta, que casa com o meu grito interno, é me colocar disponível não apenas na agenda, mas na escuta, no sentido mais profundo de percepção do outro


15 de março de 2022 - 6h20

(Crédito: Shutterstock)

Era uma vez, num reino muito, muito distante… ops, não dá para começar assim. Ou dá? 

Como podemos começar um primeiro papo de muitos em que precisamos situar um desejo? Sim, um desejo. Um pedido, uma vontade, quase uma expectativa que mora nos reinos mágicos. 

Melhor voltarmos um pouco a fita e iniciar pelo que motiva esse desejo. E não quero começar pela incessante “busca de propósito”, mas pelo momento em que esse assunto, esse tal propósito, grita dentro de você. Quando não há mais espaço para as desculpas — “puxa, mas como posso ajudar? Não tenho tempo para mais nada”, “Como incluir esses assuntos numa pauta tão disputada?”. E por aí vai. 

Em algum momento, quando a maturidade se corporifica, ela vira uma companheira de longos debates, e é quem te conforta com a chegada do que vem junto com ela. 

No meu caso, em uma dessas conversas, o assunto girou em torno de que a essa altura da minha carreira, chegando aos 50 anos, mulher, nortista, parda, gay, empreendedora desde os 18 anos, guerreira que luta para ficar de pé nas batalhas… Bem, eu precisava entender meu papel, que começa pelo sobrenome Mulher dessa lista.  

Dentro desse sentimento de luta, depois de tantas, agora a arena deveria ser outra. Então eu, depois de um desses diálogos com a maturidade e como narradora dessa nova história, conto como é essa nova batalha. Digo que o lugar se assemelha às arenas romanas, em que há um bicho feroz que deverá ser enfrentado com as próprias mãos, com as armas que existirem à época e as que você conseguir levar para o campo. 

Para essa arena, a ideia é trazer outras mulheres com seus sobrenomes: Gays, Pardas, Trans, Negras, Empreendedoras, Sonhadoras, Pensadoras, Vencedoras, Perdedoras… não importa, cada uma com sua história. 

A ideia aqui é nos juntarmos, nos juntarmos mesmo, num desafio de nos aliar, nos estimular, nos inspirar, nos multiplicar, nos conectar. Hum, e agora tudo começa pelo fim: nos conectarmos… fácil? Não, não é!  

Temos que falar como uma brisa rápida, para não ficar chato, que sim, sim, estamos num mundo conectado tecnologicamente, mas a humanidade nunca esteve tão desconectada, ensimesmada etc., etc., blá, blá, blá, pronto. Falamos! Ufa, já podemos passar para a parte em que isso está entendido. Então, como criar laços que possam de fato nos unir para esse chamamento? 

Não tenho resposta, mas tenho uma proposta. Minha proposta, que casa com o meu grito interno, é me colocar disponível não apenas na agenda, mas na escuta, no sentido mais profundo de percepção do outro. Abrir um portal que vê a outra pessoa, sente a mulher com seus outros sobrenomes e traz para a conversa todo tipo que quiser fazer parte de um papo, de um projeto, de uma missão, de um desejo. 

Eu te chamo para silenciar e ouvir o que é o seu grito, seu propósito, para que possamos nos unir e ecoar nosso som, indo cada vez mais longe. 

E, assim, em um reino não tão distante, no nosso reino em que habitamos e podemos criar as regras, a união dessas mulheres maravilhosas vai dar espaço para uma nova fábula. Essa real, tão real quanto quisermos. 

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