Um gigante (des) conhecido

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Opinião

Um gigante (des) conhecido

O gigantismo da Amazon não a segura e o Walmart continua sendo visto pelo retrovisor


23 de fevereiro de 2017 - 11h39

A Amazon foi o varejista ausente mais presente da maior feira de varejo dos EUA, a Retail Big Show da NRF. Inúmeros profissionais do segmento – que estiveram comigo em reuniões de negócio por lá – evitaram falar do gigante: é mais fácil olhar para o outro lado e pensar que a Amazon não é um concorrente. Mas afinal, o que é a Amazon? Respondo: é um gigante que se reinventa.

No passado, o Walmart foi o gigante que ninguém queria ver. Em fevereiro de 2017, a Amazon já valia mais de USD 410 bilhões na bolsa de valores americana, quase o dobro que o Walmart com USD 220 bilhões. Mas o Walmart não olha para o lado, pelo contrário, está correndo atrás: recentemente comprou a Jet.com (para finalmente ter uma plataforma de e-commerce competitiva), e a ShoeBuy (para bater de frente com a Zappos, adquirida pela Amazon em 2009, que corretamente manteve intacta sua cultura) e investiu fortemente para fazer entregas nos EUA. O gigantismo da Amazon não a segura e o Walmart continua sendo visto pelo retrovisor.

(Foto: reprodução)

(Foto: reprodução)

A Amazon quer continuar crescendo e, para isso, precisa se expandir em alimentos. Seguindo a Amazon Fresh (entrega de alimentos frescos comprados on-line), o mamute inaugurou a AmazonGo, uma loja física de alimentos prontos que requer um “check-in” pelo celular, de forma muito simples: qualquer produto pego da prateleira é automaticamente pago pela sua conta na Amazon. Se você desistir da compra, o valor é creditado, portanto não se preocupe. No final da compra, simplesmente saia da loja e consuma os seus produtos, eles já estão pagos. Não existe caixa, não há filas. O mais impressionante é que, aparentemente, toda a tecnologia envolvida na AmazonGo já existe há pelo menos cinco anos. Mas foi a Amazon quem teve coragem de implementar, de eventualmente falhar, e ajustar.

Outro exemplo de como a Amazon consegue ser arrojada está no desenvolvimento do Fire Phone, um celular inteiramente desenvolvido pela companhia, com seu sistema operacional único para rivalizar com o OSX da Apple e os Androids. A Amazon investiu, entre 2010 e 2015, centenas de milhares de dólares em um aparelho que pouco vendeu (e pegou fogo, literalmente). Mas não se iluda com esse exemplo de insucesso, que é a exceção que prova a regra: a Amazon é inovadora, está à frente do seu tempo, tem alta tolerância a risco, seus consumidores não só confiam nela para inovar e arriscar, mas também acreditam que ela investirá para “make it work”, ou fazer funcionar.

Alguns dizem que a Amazon é uma empresa de logística. Quem comprou na Amazon, invariavelmente, já recebeu suas entregas pela UPS ou FedEx. Em 2016, a empresa anunciou a entrada em operação do primeiro de 40 aviões de carga com a marca da empresa: Prime Air. Nos EUA, a Amazon já oferece serviço de entregas, competindo com UPS e FedEx. Seus centros de distribuições são o estado-da-arte, altamente automatizados (e contaram com investimentos de bilhões de dólares, muito antes de a empresa dar qualquer sinal de sair do vermelho). A Amazon investe, pesadamente, em drones: aéreos, submarinos e veiculares para entregas em bairros. A última novidade foi o centro de distribuição aéreo, embarcado em um zepelim. Quem mais, além de um gigante como a Amazon, pode pensar em coisas assim?

A Amazon esbanja um estilo discreto, low profile. Mas o seu gigantismo uni-presente não passa desapercebido, nem pelos consumidores, nem pelos competidores, inclusive Walmart, IBM, Google, Apple, Spotify, Netflix, UPS, dentre tantos outros. Quanto mais se investiga a Amazon, mais novidade se descobre, novas iniciativas aparecem, novas possibilidades são expostas.

Outros dizem que a Amazon é uma empresa de tecnologia. Não é segredo que a Amazon Web Services é uma linha de receita importante para a empresa. A Amazon já é um dos principais fornecedores de serviços baseados na nuvem (cloud services) superando concorrentes mais estabelecidos como Microsoft, IBM e Google (os quatro juntos são os considerados “big four”).

Mas a grande virada da Amazon foi o desenvolvimento da Alexia, no universo da tecnologia das coisas, ou ToT (Technology of Things). Aqueles que pensam que a Alexia é apenas uma caixa de som, muito se enganam. A inteligência artificial embarcada é incrível. Agora então potencializada pelo “echo”, que promete transformar a sua residência em uma “casa inteligente” – entramos na era dos “smart homes” e deixamos para trás os “smart phones”. A casa do futuro (na verdade, a Amazon) promete atender as suas necessidades e demandas imediatamente. Este movimento já começou com o Amazon Dash (aquele botão para compras recorrentes)… só ficou mais sofisticado. Experimente o “Prime Surprise Sweets”, um botão dash que entrega um docinho na sua casa (só nos EUA)!

Há ainda quem pensa que a Amazon é uma empresa de conteúdo. Em venda de conteúdo, o Amazon Music rivaliza com o Apple Music (compare os preços!!). O Amazon Prime compete com o Spotify com louvor, mesmo aqui no Brasil. Nos EUA, o Prime Video compete com o Netflix (e você não acreditando que poderia haver um concorrente para o incrível Netflix…) inclusive na produção de conteúdos (dando um show, literalmente, ganhando mais “Golden Globes que o Netflix em 2016 e o mesmo número em 2017). Em breve, o Prime Video deve ser lançado mundialmente para acabar com a hegemonia do Netflix (nada como uma competição saudável).

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A Amazon ainda não é um varejista com lojas físicas. A AmazonGo é um ótimo começo, mas convenhamos: seu público alvo é bem restrito. A Amazon abriu também quatro lojas de livros (bookstores), onde se pode emprestar um livro eletrônico para experimentação, mas ainda são poucos pontos de venda. Eles também apostam na entrega eficiente, com muitos itens que chegam até duas horas, ou seja, você compra antes de sair do trabalho e recebe em casa, sem ter que carregar sacolas, transitar pelo supermercado ou estacionar o carro.

A Amazon conseguiu replicar o que o consumidor faria, mas com uma experiência de consumo muito superior. Outra solução que a Amazon investiu foi em disponibilizar milhares de pontos de entrega nos EUA para aqueles que não têm a conveniência de uma portaria ativa para recepcionar as compras, ou está em trânsito, o Amazon Locker. Muitos acreditam que é apenas uma questão de tempo para a Amazon comprar um grande varejista e, do dia para a noite, ter forte presença física no varejo americano, e talvez mundial. Não me parece muito o estilo dos executivos da Amazon (mas eles já me surpreenderam tantas vezes!).

A Amazon esbanja um estilo discreto, low profile. Mas o seu gigantismo uni-presente não passa desapercebido, nem pelos consumidores, nem pelos competidores, inclusive Walmart, IBM, Google, Apple, Spotify, Netflix, UPS, dentre tantos outros. Quanto mais se investiga a Amazon, mais novidade se descobre, novas iniciativas aparecem, novas possibilidades são expostas. O que é a Amazon? A Amazon é um gigante destemido, muito ágil e ambicioso, cujo segredo está muito bem guardado. Se a Amazon no passado foi criticada por apresentar sucessivos prejuízos – qualquer crítica nesta direção já está devidamente superada: há vários trimestres a empresa é lucrativa.

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