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Opinião

Inteligência artificial é melhor que muita gente

O clima de instabilidade e os avanços tecnológicos mudaram as regras da construção de carreira


9 de maio de 2025 - 14h00

Durante muito tempo, nos ensinaram que especialização e aprofundamento em um tema eram rotas mais seguras para uma carreira. Ser referência em um assunto era a maior métrica de sucesso profissional. Parecia lógico estocar conhecimento.

Mas o jogo virou. Como pesquisadora e estrategista, tenho visto de perto essa transformação. O clima de instabilidade e os avanços tecnológicos mudaram as regras da construção de carreira: especialização demais pode te fazer ficar obsoleta mais rápido. Hoje, mais importante do que dominar uma só área é conseguir cruzar disciplinas, enxergar correlações quase invisíveis e se adaptar a diferentes cenários.

No SXSW de 2025, Mike Bechtel falou sobre isso. Movidos pela “curiosidade radical”, os “aprende-tudo” vão atropelar os “sabe-tudo”. Lá em 2019, David Epstein antecipou essa mudança de mentalidade no livro Range. A ideia central é próxima à polimatia: quem transita entre áreas diversas e acumula repertórios variados consegue fazer conexões que especialistas isolados não conseguem enxergar. O diferencial hoje não está em dominar um único ponto, mas em combinar o que parecia desconexo.

A inteligência artificial escancara essa lógica com certa brutalidade. Ela substitui com eficiência tarefas previsíveis e específicas, que dependem só de replicar fórmulas conhecidas e padrões. A inteligência artificial não precisa ser genial. Basta ser consistente, rápida, disponível e incansável. Em outras palavras, a IA é, sim, melhor do que muita gente. Mas ela não é capaz de cruzar conceitos e diferentes conhecimentos sozinha. Não é capaz de intuir.

Ainda que a IA execute processos com velocidade, é a inteligência humana que segue essencial para formular as perguntas certas e navegar em territórios desconhecidos. O que está em jogo não é o fim do trabalho humano, mas quem vai permanecer relevante. O futuro do trabalho não é ameaçador para quem está disposto a explorar a amplitude de assuntos, e sim para quem só prioriza a profundidade.

É aqui que entra o conceito de nexialista. Mais do que generalistas, nexialistas têm repertório amplo e sabem construir pontes inesperadas entre disciplinas. Eles não apenas visitam territórios diferentes: misturam conhecimentos, traduzem conceitos, remixam tendências.

No mercado de trabalho real, isso tem um grande impacto na lógica dos times. Projetos mais complexos vão precisar menos de especialistas isolados e mais de conectores inteligentes com visão holística do negócio. Gente que olha menos pelo microscópio e mais pelo telescópio, que entende que estratégia é mais sobre fazer as perguntas certas do que ter todas as respostas.

Para manter a relevância, a gente vai precisar ser muito pró-ativo.

A inteligência artificial é melhor do que muita gente. E vai substituir, sem fazer alarde, quem está apenas consumindo o que ela entrega, esperando que a tecnologia pense no lugar deles. Sobrevive quem usa a IA como ferramenta para aprender mais rápido, criar novas conexões e construir perguntas que ainda não existem. Quem está fazendo a IA trabalhar para si, e não o contrário.

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