Opinião

Ficar de fora também comunica­

O que o silêncio das marcas diz sobre suas posturas em relação à transição climática

Rodrigo V. Cunha

CEO da Profile 17 de julho de 2025 - 14h00

Em um momento em que a opinião pública e os investidores exigem autenticidade e coerência das empresas, a atuação em lugares importantes da biodiversidade no Planeta, como a Amazônia, emerge como um verdadeiro teste de reputação. Posicionar-se publicamente em defesa da maior floresta tropical e suas pessoas, sua inovação, sua sabedoria ancestral, seu empreendedorismo. Passou a ser um ato estratégico que sinaliza liderança e responsabilidade com os impactos socioambientais.

Nenhuma empresa é isenta da responsabilidade.A diferença é que algumas atuam de maneira proativa, enquanto outras  optam pelo silêncio diante dos riscos reputacionais, por temor de cobranças, associações indevidas ou exposição ao escrutínio público. No TEDxAmazônia, um conjunto de marcas decidiu estar presente de maneira ativa. Ao participar do evento, realizado pelo Ministério da Cultura com apoio da Secretaria de Cultura do Pará, patrocinadores como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, Motiva, Mercado Livre, Suzano, ALLOS, Afya e Coca-Cola Brasil não só financiaram um evento inovador como assumiram publicamente seu compromisso com soluções regenerativas.

O encontro, que reuniu lideranças indígenas, ativistas, cientistas, artistas e empresários em Belém, na sede da COP30  contou ainda com parcerias estratégicas de grande relevância nacional e internacional: Greenpeace, Imazon, The Nature Conservancy, Forest Trends, Rede Amazônidas pelo Clima, Abralatas, Instituto Igarapé, Sistema B, Pacto Global Rede Brasil e a agência Profile, entre outras.

O que as organizações têm em comum? Elas decidiram não aderir ao greenhushing, prática de ocultar iniciativas socioambientais por medo de críticas ou de ser acusado de greenwashing. Esta prática tem sido comum entre empresas que, mesmo com projetos robustos, optam por não comunicá-los. No caso da Amazônia, o risco de ficar em silêncio é ainda maior. O tema carrega massa crítica, polarização política e expectativa de ação concreta.

Mas é justamente nesse cenário que se revelam as oportunidades de diferenciação. Apoiar o TEDxAmazônia significou ousar enfrentar uma análise crítica ao mesmo tempo em que se cria um escudo anti-greenwashing ao amplificar vozes  das lideranças da floresta como coautoras do debate. Em vez de discursos vazios, essas marcas entregaram presença, escuta e o compromisso de evoluir junto com as demandas dos territórios.

Ficar de fora pode transmitir indiferença ou inviabilizar conexões com consumidores e stakeholders cada vez mais atentos à coerência ESG. Marcas que já enfrentaram crises em torno de questões sensíveis sabem na prática que a inércia ou o silêncio custam caro à reputação.

O TEDxAmazônia mostrou que o verdadeiro protagonismo não está em ter todas as respostas, mas em abrir espaço para o diálogo, reconhecer desafios e compartilhar aprendizados.É assim que se constrói uma realidade de transição climática. Mais do que um patrocínio, o evento se tornou uma plataforma de inovação social e ambiental, gerando conteúdos de alto valor narrativo e reforçando a percepção de liderança colaborativa.

Um bioma tão relevante para o clima do planeta, como a Amazônia, cobra atitude. E, ao invés de evitar o tema, as marcas que ousaram apoiar o evento demonstraram que é possível transformar a exposição em vantagem competitiva e capital reputacional. No fim das contas, o silêncio não é neutro. Comunica conformismo ou até omissão. Mas, como bem ilustraram esses apoiadores, a coragem de se posicionar ao lado da maior emergência climática do planeta não apenas se antecipa às críticas. Lidera. Inspira. E ajuda a transformar o silêncio em ação.