Opinião

Futebol brasileiro virou case espontâneo de reputação global

Foi marcante o contraste entre o que se dizia lá fora e o que foi repercutido pela imprensa brasileira

Adriano Ortolani

Diretor executivo da Make Buzz Comunicação 14 de julho de 2025 - 15h00

A Copa do Mundo de Clubes da FIFA terminou com um campeão europeu, mas o que ganhou destaque global foi a força narrativa dos clubes brasileiros. Em menos de 30 dias, o futebol nacional gerou mídia espontânea internacional, engajamento digital e respeito de veículos como BBCASThe Guardian e Marca. Um ativo reputacional raro, que o Brasil, mais uma vez, hesitou em sustentar.

A manchete do jornal espanhol AS foi clara: “Sudamérica salva el Mundial”. A análise defendia que, sem a presença de clubes como Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras, o torneio teria passado despercebido. E os fatos sustentam esse argumento. O Botafogo venceu o Paris Saint-Germain por 1 a 0. O Flamengo derrotou o Chelsea com autoridade. O Fluminense eliminou Inter de Milão e Al Hilal, e chegou às semifinais. Já o Palmeiras, mesmo com desempenho esportivo mais discreto, chegando até às quartas, foi notícia pelas arquibancadas lotadas e pela mobilização de sua torcida na terra do Tio Sam. 

Essas atuações renderam uma onda de cobertura espontânea. O nome dos clubes brasileiros circulou em portais europeus, programas esportivos globais e timelines de torcedores que pouco ou jamais haviam acompanhado 90 minutos de um jogo do futebol sul-americano. Não houve compra de espaço, nem estratégia internacional. A visibilidade veio pela entrega em campo e, acima de tudo, pela narrativa gerada em torno dela: uma combinação rara e valiosa para qualquer marca.

Além dos clubes, alguns nomes de jogadores e técnicos brasileiros também se destacaram ao longo do torneio. Mas, fora das quatro linhas, a figura de Leila Pereira ganhou projeção especial. Presidente do Palmeiras, Leila atraiu atenção internacional ao representar um novo perfil de liderança no futebol brasileiro. Mulher à frente de um dos principais clubes do país, tornou-se símbolo de uma gestão mais profissional, articulada e presente. Sua visibilidade durante o campeonato ultrapassou o esporte e passou a integrar o repertório institucional de imagem e influência.

Ainda assim, o contraste entre o que se dizia lá fora e o que foi repercutido internamente foi marcante. Parte da imprensa brasileira tratou as vitórias com desconfiança e, após a derrota do Fluminense, apressou-se em afirmar que “tudo voltou ao normal”. O que havia sido construído em quase um mês, dentro e fora de campo, foi desmontado em poucos segundos. É mais um capítulo da conhecida síndrome de vira-lata: a incapacidade crônica de valorizar o que é nosso, mesmo quando o reconhecimento já veio de fora.

Esse comportamento revela um padrão que não se limita ao futebol. O Brasil tem talento, entrega e resultado. O que falta é consistência na forma como se comunica e capitaliza suas conquistas. O Mundial de Clubes foi um laboratório acidental de reputação: mostrou que performance e emoção geram atenção espontânea. Mas também evidenciou que, sem narrativa, a imagem se dilui.

O futebol brasileiro mostrou ao mundo que continua competitivo. Mas o país ainda precisa aprender a contar e sustentar essa história. O Mundial evidenciou que o Brasil tem poder de mobilização global. Reputação não é um legado automático. Ela se constrói. E isso exige mais do que talento. Exige comunicação estratégica e confiança na própria narrativa.