A publicidade brasileira é maior do que as últimas manchetes
Para aprendermos com os erros, temos que enfrentar conversas difíceis com transparência; nossa história comprova que temos talento para ganhar prêmios legítimos e para entregar cases que geram valor
Falar sobre os casos de campanhas fantasmas e condutas antiéticas que vieram à tona após o Cannes Lions 2025 não é nada confortável. Principalmente quando se está à frente de uma associação como a Abap, que se propõe a ser um Espaço de Articulação Coletiva do Ecossistema Publicitário. Mas acredito que para aprendermos com os erros, temos que enfrentar as conversas difíceis com transparência.
Para abrir essa conversa, preciso dizer o quanto me sinto triste em ver tudo isso acontecendo em mais um ano em que nossos profissionais, agências e marcas brilharam no festival. Um brilho que vai muito além das manchetes negativas e que não deveria ser apagado por elas.
A publicidade brasileira tem sim suas fragilidades, e assim como outros mercados, está suscetível a fakes, plágios, vaidades infladas e tantos outros problemas que são reflexos de como as pessoas agem no mundo corporativo e na nossa sociedade. No entanto, também é feita, em sua grande maioria, de gente séria, que luta todos os dias para reinventar esse negócio.
São pessoas apaixonadas, criativas e inquietas. O publicitário brasileiro é reconhecido por sua capacidade de ousar quando poucos têm coragem de sair do lugar comum. Nós somos isso. Gente que cria todos os dias nas agências de capitais e do interior, em um país grande e diverso. Gente que trabalha para entregar resultado real para marcas reais.
Não precisamos e nem podemos negar nossos erros. Temos que lidar com eles com seriedade para avançarmos na construção de uma indústria potente, justa e conectada com o que é o Brasil. Para isso, é necessário atribuir responsabilidades, abrir diálogos francos, exigir transparência e nos unirmos em torno de um ecossistema que envolve marcas, agências, produtoras, veículos, entidades e profissionais.
Assumir responsabilidades é mais poderoso do que apontar culpados. Precisamos reconhecer que a fofoca e a crítica não construtivas fragilizam não apenas relações, mas o mercado como um todo. Estamos nos autossabotando em um ambiente cada vez mais competitivo, marcado por disputas predatórias, visão de curto prazo e práticas questionáveis. Em vez disso, por que não unimos forças para buscar soluções coletivas, repensando o que precisa — e pode — ser melhorado por todos nós?
Às lideranças, cabe a coragem de aceitar o desafio de ser farol para que todos se sintam parte dessa construção. Às novas gerações, eu desejo que sintam a paixão que eu sentia quando comecei (e ainda sinto), e o orgulho que só cresceu com o tempo, e vivenciando a profissão.
Somos melhores e maiores do que as últimas manchetes e acontecimentos. Nossa história comprova que temos talento para ganhar prêmios legítimos e para entregar cases que geram valor e resultado real para as marcas, ganham o mundo e fazem parte da memória coletiva do nosso País.
Tudo isso me faz acreditar e acordar todos os dias para trabalhar por uma publicidade brasileira relevante e potente. É por estes profissionais, sérios e dedicados, que a Abap segue adiante, confiante em uma publicidade que honre quem veio antes, que reconheça quem faz o presente e que abra espaço para quem ainda vai chegar.