No Brasil digital, a creator economy pede passagem para faturar
Pesquisa “Cenário da Creator Economy no Brasil 2025” expõe o que diferencia quem cresce de quem lucra e revela onde estão os territórios ainda pouco explorados pelos influenciadores
Quem está ganhando dinheiro nas redes sociais? Quantos criadores de conteúdo, mesmo com milhões de seguidores, não conseguem transformar atenção em receita? Será que estamos todos obcecados pelos números errados?
Em um país com 144 milhões de pessoas conectadas às redes sociais, a influência virou ativo estratégico. Mas quem, de fato, consegue transformá-la em negócio?
A resposta vem do estudo “Cenário da Creator Economy no Brasil 2025”, realizado pela Favikon, plataforma de marketing de influência líder no mundo, em parceria com a People2Biz e publicado na última semana de maio.
A abrangência do levantamento é inédita: analisou os 200 maiores influenciadores em performance combinada nas redes sociais e os 200 principais de cada uma das maiores plataformas — Instagram, TikTok, YouTube, X (antigo Twitter) e LinkedIn.
Dividimos os creators em categorias pelo número de seguidores, dos “ultra aos micro influenciadores”, o que permitiu mapear tanto aqueles com alcance massivo como os especialistas de nichos com linguagens específicas. A influência, hoje, é multiforme tanto em termos temáticos quanto em estilo e formatos e varia bastante em cada rede.
As dinâmicas velozes e descentralizadas dessas redes transformaram desde atletas, modelos, celebridades do entretenimento e até mesmo usuários comuns em potências de influência. A pesquisa oferece ao mercado um retrato profundo da creator economy no país evidenciando um território em expansão, diverso, e cada vez mais estratégico para marcas, plataformas e profissionais da comunicação.
No topo do ranking geral, Neymar Jr. permanece como um dos maiores nomes da visibilidade digital no Brasil, seguido de perto por Virgínia Fonseca e Zé Felipe, que mesclam vida pessoal, entretenimento e empreendedorismo.
No entanto, os dados mais reveladores aparecem fora do eixo das celebridades tradicionais: nomes como Spider Slack, Hytalo Santos e Camilla Pudim mostram como diferentes formatos, vozes e territórios vêm moldando uma nova geografia da atenção nacional.
Como recentemente publicado aqui no Meio & Mensagem, o estudo deixou claro que ainda há um longo caminho a desenvolver, uma vez que apenas 22% dos criadores conseguem monetizar efetivamente sua presença nas redes com links para produtos ou serviços.
Isso revela um descompasso entre visibilidade e sustentabilidade econômica. Aqueles que conseguem gerar receita são mais eficientes em explorar múltiplos caminhos — desde publicidade e branded content até a venda de produtos próprios, programas de afiliados e cursos online. O criador moderno que almeja destaque precisa ter uma mente empreendedora, aprender a lidar com algoritmos, comunidades e estratégias de conversão de forma mais estruturada e não por tentativa e erro.
Outra constatação importante: 85% dos influenciadores atuam em mais de uma plataforma, com destaque para a combinação entre Instagram, TikTok e YouTube. Os vídeos curtos, especialmente Reels e TikToks, concentram mais de 30% das interações, mas os formatos longos ainda têm lugar garantido na jornada de construção de autoridade. Esse comportamento multiplataforma exige domínio de linguagem e planejamento tático — uma sofisticação que demanda o amadurecimento do setor.
Nesse contexto, cada rede tem suas características. O Instagram domina em volume e visibilidade, o YouTube é um centro de entretenimento de massa que ainda depende fortemente do AdSense, o TikTok é o caminho mais rápido para projeção nacional. Se o X tem muitos criadores, a moderação caótica afastou as marcas. Já o LinkedIn aparece como uma fronteira ainda subexplorada. A plataforma reúne criadores com densidade de conteúdo e potencial para gerar negócios, mas a monetização ainda é incipiente, limitada à exploração de oportunidades de palestras e webinars ou alguma ação publicitária pontual. Ou seja, há todo um mecanismo a ser construído.
Mesmo que esteja se libertando da pecha de “repositório de currículos”, o marketing B2B, o conteúdo autoral, prático e educativo está em alta no LinkedIn. O que engaja, de fato, são posts que “mostram como se faz”, ou seja, quando traduzem aprendizados, reduzindo o espaço e relevância para a mera comparação de cargos vistosos em marcas relevantes da economia.
Os nichos onde há espaço para crescer
Apesar da impressão de saturação, quando se nota o crescimento mais lento na principal plataforma, o Instagram, há mercados inteiros pouco explorados na Creator Economy brasileira. A pesquisa localizou os nichos com alta demanda e baixa oferta e aqueles com sinais de crescimento e ainda sem nomes dominantes.
No primeiro grupo, o destaque é o agronegócio digital, setor com R$ 1,3 trilhão em TAM (receita total potencial) e só dois creators entre os 200 maiores. Finanças pessoais para a Geração Z seguem o mesmo caminho, tema com 420 mil buscas mensais no Google e apenas um criador relevante. Em saúde mental e terapias online, mercado estimado em R$ 28 bilhões, apenas três terapeutas têm presença notável.
A lacuna se aprofunda em temas com forte apelo social: cultura indígena e ecoturismo não têm nenhum creator de destaque no Top 200. E, em pleno 2025, não há um único nome no ranking falando sobre acessibilidade e inclusão.
Já entre os nichos com “sinal verde”, que mostram crescimento, mas ainda não foram dominados por nomes centrais, vale observar a educação com foco em IA, finanças e carreira.
Com todos os gaps existentes, os creators no Brasil apresentam crescimento médio de 2,96% ao mês, ritmo superior ao de muitos veículos tradicionais. Quando somamos os alcances dos 200 maiores influenciadores, o volume ultrapassa o das cinco principais emissoras de TV aberta brasileiras somadas. Ainda mais significativo é o nível de engajamento: de quatro a seis vezes superior, em média.
Nesse cenário, o Brasil se mostra um ambiente incrivelmente fértil para a influência digital. Somos um dos países que mais consomem e produzem conteúdo nas redes, com uma cultura naturalmente voltada à expressão e à conexão social.
Precisamos enfrentar os desafios da estruturação para sairmos de vez de um ambiente predominantemente amador para uma etapa de maior profissionalização, em que métricas, planejamento e modelos de negócio sustentáveis precisam ganhar protagonismo. Até porque os casos de sucesso mais visíveis atingiram faturamento entre 8 e 10 milhões de dólares por ano, o que os tornam marcas para entrar no radar de investimentos private equity.
Esse processo de estruturação exige das marcas que enxerguem valor para além do volume de seguidores; das plataformas, que ofereçam suporte e remuneração mais estruturada em parceria com o mercado; e dos próprios criadores, que invistam em conteúdo de valor, gestão de comunidade e visão estratégica.
Atingimos um novo lençol freático da comunicação, onde a influência se torna possibilidade concreta inclusive para criadores de nicho. Saber atuar nesse ambiente exige orçamento, escuta, adaptação e adequação às audiências.
A disputa a partir de agora será cada vez mais por margem, modelo, eficiência e ROI. A ordem é parar de competir por likes e lucrar com autoridade.
O Brasil já é um celeiro de criatividade digital, capaz de intrigar até estruturas distantes como aconteceu durante a campanha do Oscar 2025 pela presença de brasileiros na disputa. O próximo passo é converter esse asset em influência sustentável e profissionalizada.