“Futebol é uma caixinha de surpresas” ou “A bola não entra por acaso?”
Como gestão e emoção coexistem no futebol moderno e o papel do marketing nessa equação
No universo do futebol, tentamos decifrar a alma do jogo por meio de bordões e ditados populares. Escutamos e repetimos frases como “futebol é 11 contra 11”, “clássico não tem favorito”, “a camisa pesa”, entre outras.
No campo dos negócios esportivos, porém, um ganha particular relevância: “a bola não entra por acaso”. Ele sugere que o sucesso de clubes de futebol é, na maioria das vezes, fruto de boa gestão, governança, planejamento, estrutura e, inegavelmente, investimento.
Na outra ponta, temos o consagrado “futebol é uma caixinha de surpresas”, que remete à imprevisibilidade do esporte: a bola que não entrou, o goleiro que falhou, o improvável David que venceu o gigante Golias.
O Mundial de Clubes da FIFA 2025 oferece um estudo de caso fascinante dessa dicotomia. Dos oito clubes classificados para as quartas de final, cinco (Real Madrid, Bayern de Munique, PSG, Chelsea e Borussia Dortmund) figuram entre os onze que mais faturaram na temporada 2023-2024, segundo o último relatório Deloitte Football Money League.
Essa convergência não é coincidência. Ela sublinha a influência crescente das finanças no desempenho esportivo de alto nível, sustentando a tese de que, sim, a bola não entra por acaso.
As razões para essa correlação são claras:
(1) Maiores faturamentos permitem a contratação de jogadores e comissões técnicas de alto nível;
(2) Recursos financeiros viabilizam centros de treinamento, estádios modernos e estruturas de apoio de ponta (médica, tecnológica, analítica), potencializando o desempenho dos atletas;
(3) O sucesso em campo gera um ciclo virtuoso: maiores receitas atraem melhores jogadores, que elevam o desempenho esportivo, atraindo mais patrocinadores e fãs;
(4) Clubes mais ricos absorvem melhor crises financeiras ou tropeços pontuais, mantendo sua capacidade de investimento no longo prazo.
Mas onde entra, afinal, o “futebol é uma caixinha de surpresas”?
Isso só saberemos quando o juiz apitar o fim do jogo. O imponderável, o lance de gênio, o gol salvador no fim, a virada improvável, o drama de um pênalti perdido continuam sendo o tempero que alimenta a paixão e o engajamento de milhões de torcedores. Um valor intangível que, para o marketing, é tão crucial quanto as cifras.
Transformar esses momentos, racionais ou emocionais, em narrativas envolventes é o que diferencia marcas, engaja torcedores e fideliza consumidores. O futebol pode até ser um negócio. Mas continuará sendo, para milhões, uma história em tempo real onde o improvável sempre tem lugar.